ROUBO (disfarçado) OU "...O VENTO LEVOU?"

Minha AMIGA carioca Geminiana é memorialista, detalhista e meticulosa com objetos de casa, preciosas heranças familiares e guardados desde tempos imperiais (sabe a origem, a estória de tudo), e estoque de compras na atualidade, supermercado em especial. Bom, no segundo caso, a teoria é arrumar tudo uma vez, lugares certinhos, e ir controlando o consumo até a data de renovação - sabe com exatidão o que comprou, o que ainda possui na despensa. Não existe "sumiu".........

Teria, diz em hipótese, de 8 anos de idade para trás... nasceu em bairro perto do centro da cidade e aos 6 trocou de casa, mais perto ainda. Na época, nos quartos, uma ou duas mesinhas de cabeceira, e sobre as mesmas eram arrumados utensílios para uso urgente na madrugada. Namorado de prima bem mais velha presenteou-a com um conjuntinho de vidro fino, cor-de-rosa - moringuinha para água, pratinho de pouso e um copo emborcado sobre a pequena 'garrafa'. Bom, o copo quebrou logo... e durante mais de 70 anos restaram as recordações intocáveis: emocionais... e concretas.

Alto despeito e olho-grande sobre um conjunto de louça antiga inglesa da década de 30, enxoval do casamento dos pais (bule, açucareiro, manteigueira, doze xícaras e pires) - pessoas 'desocupadas' da vizinhança (ofendi ou elogiei?!) tentando iludi-la para venda num antiquário que as próprias só conheciam de "ouvir falar" (comércio eterno - ainda existe! - que ELA frequentara bem pequena, indo com o pai que desmontava-lavava-consertava-remontava lustres de cristal estrangeiro de clientes da verdadeira elite: mãe ensinava "bracinhos para trás, mãozinha uma segurando a outra, evitando a tentação de mexer brutalmente num objeto caro"... e lá ia a bonequinha ambulante educada para o 'proibido'...) --- havia também louça dourada, para casal, menos peças, bandejinha, século XIX , de uma tia-avó que fazia doces portugueses e... bolinhos de feijoada. Cuidar com carinho das antiguidades - as duas pilantras insistiram muito, troca de olhares indicando má fé, monstras capazes de inventar um assalto na rua........ // Doação de niver a duas pessoas que a receberam com amizade sincera quando transferida para nova escola - lecionou e secretariou até aposentar.

Recentemente resolveu diminuir tudo em casa e fez incríveis doações. (Ah, se alguém souber o que possui e pedir, ELA NEGA.

Modernismos como colchonetes (mais nenhuma parenta chegando como hóspede), pirex e alumínio (parou de assar bolos e... brevidades). Excesso de cobertas e toalhas, agora sem uso em casa de moradora única.

Ah, e a vidraria cor de rosa? Só uma pessoa saberia valorizar: um primo. Beijou os três objetos e entregou ao seu agora herdeiro.

Casas no mesmo terreno, entrou sem cerimônia. O homem é do tipo confiante, casa e ambiente externo agitados com muito movimento religioso... e muitos roubos imperceptíveis de imediato. Do tipo humanitário, ainda diz: "Se me roubou, é porque estava precisando." (Versão de que Jesus perdoou... um tal de "bom ladrão", crucificado a seu lado, Jerusalém, ano 33 d. C.) Pois bem, minha AMIGA entrou, viu na mesa da sala apenas o pratinho, coração disparou intuitivo, e perguntou à cozinheira daquele dia: "Cadê a moringa?" A fulana literalmente tremeu, gaguejou, demonstrou claro e imediato nervosismo, atrapalhou-se para falar, lábios tremeram, a visitante pode ter chegado no exato momento de esconder na bolsa (possível!). Pareceu improvisar um "Essstá lááá!" - dedo gordo apontando um armário, frente de vidro, taças, copos, tudo transparente, nunca algo colorido. Moringa separada do pratinho? Verdade é que (ofendi ou fui franco?!) pessoas de origem pobre ou sempre vivendo em subúrbio atrasado ou longe de um comércio melhor, imediatamente ambiciona o que vê. "Ah, pra que Pai Alvinho quer estas coisas tão bonitinhas?" Esquece que o ensinamento de roubo é transmitido em casa a filhos menores que um dia acharão o caminho da cadeia. E num segundo a fulana rebolativa achou um caminho para fuga.

Desaparecimento jamais esclarecido, ultrapassado o limite da desconfiança.

Minha radical AMIGA não perdoa ninguém de nada nunca e tem ideias brabas, 'médio-orientais' (leitor entendeu?), sobre ladrões/ladras.

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NOTA DO AUTOR:

CINEMA - "...E O VENTO LEVOU", 1939, States, clássico dos clássicos, vencedor de 10 Oscars, epopeia, drama histórico-romântico: amor & Guerra da Secessão ou Guerra Civil Americana - Vivien Leigh, Olivia de Havilland, Clark Gable.

F I M

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 08/02/2020
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