Anjo de quatro patas

Passava da hora do almoço quando sentei na beira do edifício. As lágrimas já não me deixavam enxergar a altura. As pessoas lá embaixo eram apenas formigas, correndo e esbarrando umas nas outras.

Tic-tac.

Eu ouvia o relógio me avisando: "o tempo está passando. Se apresse, faça logo! Ninguém vai sentir sua falta!"

Tic-tac.

Era a hora. Levantei-me. Era tudo tão simples. Era só cair. Logo, toda a dor iria embora. Não haveria mais sofrimento.

Ergui o pé.

Tic-tac.

Miau… miau… grrr...

Senti algo roçando minha perna. Olhei aquela bolinha de pelos, pretinha, que se agarrou na minha calça, mas perdeu o equilíbrio. Não pensei muito. Agarrei-a e me encolhi, protegendo-a do vento que cismou em passar naquele momento.

Como ela foi parar ali, eu nunca quis saber. Ela se segurou em mim e eu nela e, nunca mais soltamos uma à outra.