Guilherme

A sombra adentrou no quarto em silêncio, era uma dama de cabelos compridos e negros, trajava-se com um vestido ocultado apenas por um manto branco. Aquele que a chamará jazia em cima da cama, entre os lençóis. Ela se aproximou lentamente, circulando a cama e parou ao lado do jovem. Usou seus dedos para afastar os cabelos que cobriam os olhos do menino e pôde ver o vazio que os preenchiam. A bela moça esboçou um sorriso entristecido enquanto acariciava o rosto macio do mesmo.

- Eu estou com medo. - Disse o rapaz com a voz tremula.

- Medo do que? - Indaga.

- Desde que eu era pequeno, eu tinha esse sentimento como se eu estivesse flutuando fora do meu corpo olhando para mim mesmo, e eu odiava o que eu via, e eu não sabia como mudar isso, e eu ficava com tanto medo, que esse sentimento nunca iria embora.

- O que aconteceu com você não é certo, ninguém com um coração tão grande e bondoso quanto o seu deveria perder tanto, eu queria poder protegê-lo, para que você não perdesse mais nada, mas está acontecendo agora, você está se perdendo e não há mais nada que eu possa fazer para impedir isso. - Enunciou a dama de branco.

Eram exatas 3 horas da manhã quando o menino deu conta de que estava cada vez mais enfraquecido. Aquela que o confortava naquela noite lúgubre entrelaça seus braços entorno dele, o trazendo para perto, permitindo que ele descansasse em seu peito, enquanto acariciava seus cabelos. Ela então começa a cantarola uma música suave, que o permitira relaxar.

- Eu me sinto tranquilo em seus braços. - Declamou o menino já exausto.

- Prometo que cuidarei bem de você... - Replicou a moça com a voz serena. - Pode repousar.

Lentamente seus olhos começam a cerrar, relutante, mas acaba cedendo ao cansaço e dorme. Por fim, a mulher conduz o menino a se deitar na cama, o cobre com um lençol e finaliza com um beijo doce em sua testa.

- Boa noite. - Encerrou.

Naquela madrugada do dia 21 de outubro de 2019, Guilherme estava com seu rosto agora plácido, por ter encontrado conforto nos braços da Santa Muerte.

Descanse em paz, meu velho amigo...

Nayane Vallejo
Enviado por Nayane Vallejo em 24/01/2020
Reeditado em 11/12/2021
Código do texto: T6849511
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