Pré-Homem
Naquele tempo, palavras mesmo que ditas não lhe eram conhecidas. A comunicação tratava-se de balanços dos membros, as vezes um balançar de língua ou no pior dos casos movimentos renegáveis como um sacudir de testículos. Inda que se matassem em tacadas e machadadas de pedra, não se discutia a existência do fim. Era pau-brasil nos ombros e frutos de sapucaia na cabaça.
Com o beiço pra frente, meio entreaberto, o homem das cavernas perplexo reteve os olhos em uma pedra. Era de se admirar. Esse pré-homem era diferente dos demais afastados da racionalidade. Esse reteve o pensar. Juntou mais umas pedras dali e tratou de comentar à comunidade:
- Urutatuga! – Falava o anormal cavernante enquanto apontava uma das pedras amarelas que havia tirado da cabaça a um irmão que vinha montado em um Triceratops
- Máqueporraéessa! – Dizia o homem-pré enquanto descia do veículo pré-histórico impressionado com o brilho que a pedra refletia sobre seus olhos.
- Urutatuga-tuga! – E o beiço se erguia mais à frente
O analfabeto ergueu um tronco de madeira, pesado, desenhado no formato da ignorância com o sangue de um irmão já ressecado, lançou acima o divino bastão e apeou sobre a testa quadrada do pré-homem. Assustado e com um baita galo no crânio, não quis mais conversa. Voltou ao lago e despejou de volta tais pedras de sol. Desgostado da situação, pegou sua lança e se rendeu a sua rude originalidade.
(pedra amarela - ouro )
(pré-homem - homem das cavernas )