Pré-Homem

Naquele tempo, palavras mesmo que ditas não lhe eram conhecidas. A comunicação tratava-se de balanços dos membros, as vezes um balançar de língua ou no pior dos casos movimentos renegáveis como um sacudir de testículos. Inda que se matassem em tacadas e machadadas de pedra, não se discutia a existência do fim. Era pau-brasil nos ombros e frutos de sapucaia na cabaça.

Com o beiço pra frente, meio entreaberto, o homem das cavernas perplexo reteve os olhos em uma pedra. Era de se admirar. Esse pré-homem era diferente dos demais afastados da racionalidade. Esse reteve o pensar. Juntou mais umas pedras dali e tratou de comentar à comunidade:

- Urutatuga! – Falava o anormal cavernante enquanto apontava uma das pedras amarelas que havia tirado da cabaça a um irmão que vinha montado em um Triceratops

- Máqueporraéessa! – Dizia o homem-pré enquanto descia do veículo pré-histórico impressionado com o brilho que a pedra refletia sobre seus olhos.

- Urutatuga-tuga! – E o beiço se erguia mais à frente

O analfabeto ergueu um tronco de madeira, pesado, desenhado no formato da ignorância com o sangue de um irmão já ressecado, lançou acima o divino bastão e apeou sobre a testa quadrada do pré-homem. Assustado e com um baita galo no crânio, não quis mais conversa. Voltou ao lago e despejou de volta tais pedras de sol. Desgostado da situação, pegou sua lança e se rendeu a sua rude originalidade.

(pedra amarela - ouro )

(pré-homem - homem das cavernas )

Dmitry Adramalech
Enviado por Dmitry Adramalech em 19/01/2020
Reeditado em 31/01/2021
Código do texto: T6845517
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