143 - Cento e Quarenta e Três

Arrumou cuidadosamente as pequenas obras de arte que iria colocar na mufla. Eram trabalho de muitos meses. Estava tudo perfeito e todas as peças haviam sido condicionadas com o cuidado que a sua fragilidade aconselhava. Colocou a caixa no tejadilho do carro para ter livres as mãos, abriu o veículo, entrou, iniciou a marcha esquecido da caixa e seguiu na companhia de um problema maior. Quando escutou o estrondo pensou em rebentamento de um pneu mas era a queda da caixa. Nenhuma obra ficou intacta. O homem não achou na sua mágoa, lágrimas para chorar. Viu-se impotente. Não se pode corrigir um erro depois de cometido, não se podem engolir palavras agressivas que dissermos, ninguém repõe a serenidade enquanto tudo em nós desmorona. Somos, na essência da nossa humanidade, a instabilidade e a mudança, a surpresa e a harmonia, o recado de beleza. Frágeis como flores de cacto.

Edgardo Xavier
Enviado por Edgardo Xavier em 13/01/2020
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