A noiva me chama.
Chego em casa, depois de um longo dia de trabalho. Estou cansado e estressado, o dia foi
longo e cheio de incertezas e dúvidas. Tomo um banho em água gelada e então faço um
sanduíche de mussarela com presunto. É uma noite fria de inverno, o termômetro marca 11
gráus, uma temperatura não muito comum em uma pacata cidade do centro Oeste do Brasil.
Coloco um lençol branco que minha tia, uma portuguesa, trouxe na sua última visita até a
minha casa. Ele era branco como a neve e macio como as nuvens! Me deito e me sinto
totalmente envolto sobre um pano da mais pura magia que existe. Quando estou quase
dormindo, á escuto na sala. Um vento frio entra pela porta, e agora o cobertor parece mais um
pano vagabundo que não esquenta nem se quer os pés. Escuto ela se rastejando pela sala,
com as suas correntes encostando no chão, passando as mãos sujas pelos móveis velhos e
sussurrando, com uma voz rouca e baixa, como uma pessoa, que já perdeu a última gota de
esperança. Ela sussurra e fala o meu nome, como um fantasma que me assombra e me
persegue. Fico em choque! Paralisado em minha cama, sem mover nenhum musculo de um
esqueleto com qual a alma já se congelara. Me pergunto o porque dela me perseguir todas as
noites, como um cavaleiro que me assombra noite após noite. Como um lobo que me caça! Eu
corro e me escondo. Tento aproveitar dia após dia, porque sei que uma hora, quando ela bater
em minha porta, sussurando o meu nome, eu vou ter que abrir e segui-la até os campos cinzas
da solidão. E como um véu de uma noiva que quase se casara, ela me busca e me leva para o
seu noivado, onde a aliança é uma passagem sem volta para o abismo que se encontra em
cada um. La no fundo, onde a luz não entra, onde os sons são apenas ruídos de um ambiente
já perdido, eu me encontrarei e voltarei para o universo, como uma explosão em um núcleo da
mais pura estrela, voltarei a brilhar e sentirei o calor de 100 caldeiras em mim, e então sentirei
a vida fluindo pela minha alma, como uma fênix, vou renascer da minhas próprias cinzas, dos
meus medos, e das minhas inseguranças