A voz que me chama.
Então, finalmente estou aqui. Sentado em seu sofá velho, com uma jaqueta vermelha do
seriado americano Friends no canto, quase caindo no chão. Ela estava na cozinha, fazendo um
pouco de café para mim, minhas maos soavam enquanto a esperava. O cheiro de seu café, me
lembrara da época em que ia para a casa da minha vó, um cheiro forte mas ainda assim doce.
Me fez lembrar do sorriso sincero que ela dava para mim, dos dias frios em que passava na
antiga casa do lago, e de caçar amoras com os pés sujos de lama. Enquanto ela coava e
terminava o grande néctar dos amantes da cafeína, pequenas lembranças de um amor veio a
florescer. Me perguntei se deveria lembrar de um passado já esquecido, e, trancado com as
setes chaves do tempo. Então á ouvir dizer! -Pode se lembrar, mesmo que já se tenha perdido
no tempo,o amor nunca morre.-Disse ela com um sorriso no rosto. -Bom, acho que os poetas
estavam certos, o amor é a única solução! -Concluiu tampando a cafeteira.
Fiquei em silêncio, e então veio na mente! O beijo daquela noite, os cabelos escuros, a cintura
fina e seus lábios tocando os meus! Como uma sintonia da mais bela, banda de jazz. Ela era
como um livro, escrito com as criptografias mais difíceis que um homem pode encontrar, mas
ainda sim interessante como um best-seller mundial. As lembranças que vinham em minha
mente, pareciam neblinas da montanha mais remota possível, e passavam como um fluxo de
um rio, tudo muito rápido! Ainda assim me perguntei, como posso me esquecer de tantas
coisas? -Bom, chamamos de engarrafamento de pensamentos.- Você não deverá se lembrar
de nada, quando voltar! Com uma xícara daquele café delicioso, ela se sentou ao meu lado. -
Hummm, que delícia! Nunca tinha provado um café tão gostoso como este. Ela sorriu, e tomou
seu último gole. Colocou sua pequena xícara no chão daquela sala. E então, como um vento de
inverno, rapidamente senti meus dedos frios, um arrepio veio da espinha, passando até chegar
em meus braços. -Está na hora, não é mesmo?-Entâo eu disse tomando o último gole do café,
que naquela altura já estava frio. -Sim!-Disse ela, sem ao menos me olhar. Então ela se
levantou, se virou para mim e me acertara com uma foice preta como a noite. Foi como uma
segunda morte, na primeira o corpo, e agora a alma! Me senti caindo em um abismo, gelado,
escuro, sem esperanças. As minhas memórias se apagando, conforme ia me sentindo vazio. E
então, algo aconteceu! Como mágica, me senti vivo novamente. Senti os átomos do meu corpo
se fundido, as celulas se multiplicando e a vida, ressurgindo como uma fênix que nasce de suas
próprias cinzas. Sinto um calor novamente, e o sangue pulsar entre as minhas artérias e veias,
cada hemácia, cada nó entre nervos e músculos! E então, ouço uma voz, grave, parecia ser
velho. -Filho, lhe darei o nome de Terceu! Então, tudo se reiniciou.