DELÍRIO NO RÉVEILLON

   Leto abriu os olhos lentamente, aos poucos ia se adaptando ao ambiente, para ele de certa forma desconhecido. Não conseguia lembrar de nada, estava atordoado, confuso em suas ideias. Percebia ele que flutuava, levemente seus pés tocavam as nuvens... nuvens??? Espere um pouco, por que nuvens? - pensou o homem, já tentando a todo custo recobrar a memória, sabia então que algo de anormal estava acontecendo.

   Na impossibilidade de desvendar esse mistério, se deixou levar por essa emoção, até que estava gostosa aquela sensação de leveza com ele parado no ar vendo aquele céu azul e sobre nuvens brancas, ora amareladas devido ao reflexo do sol, depois voltando a cor do algodão quando o astro rei momentaneamente era encoberto por nuvens mais escuras. Ficou a admirar aquele colosso de lugar, sobre as nuvens e tendo acima um céu azul lindo, prá que se preocupar com outra coisa? Deixa o tempo fluir.

   Fechou os olhos e ficou a delirar, cantarolava músicas que conhecia, assobiava e imaginava até quando aqueles momentos continuariam, mas Leto não tinha pressa, por ele poderia durar a vida inteira. Estava aparentemente se sentindo bem apesar de não entender o porquê daquela situação. Com o passar das horas as coisas se resolveriam e ele com certeza saberia a verdade dos fatos.

   Dormiu aquele homem impressionado com o que ocorria com ele, um cansaço se apoderou daquele corpo ora flutuando no espaço entre o céu e as nuvens, tal qual um avião durante um vôo. Dormiu tanto que sonhou, no sonho ele se viu sendo transportado por pessoas que o colocavam em uma calçada sobre uns papelões. Não conhecia essas pessoas e resmungou bastante pedindo para que o deixassem em paz, pois estava a flutuar sobre nuvens. Risos e deboches o deixavam irritado e inquieto, sentia raiva e sua visão ainda turva começava a identificar o local, nada de céu azul e nem tão pouco nuvens brancas, só alguns pedaços de papelões que serviam de repouso para ele. Não sonhava, era realidade.

   Leto se deu conta de que não mais flutuava no ar, sua mente dava indícios de recuperação, apenas a mente, as pernas, coitadas, não o ajudavam a levantar-se. Ficou ali no chão deitado próximo a outros bêbados que passaram da conta na bebida. Já era início da madrugada e as pessoas comemoravam o réveillon na orla de Boa Viagem. 2020 passou por cima de Leto.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 02/01/2020
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