CASAMENTO MODERNO (verídico)
CASAMENTO MODERNO
Finalmente chegara o tão esperado dia do casamento de seu filho. Deveria se sentir feliz? De certa forma sim, afinal era seu único legado, nascido ainda em sua juventude, quando ainda acreditava em príncipes. Por mais de 20 anos havia cumprido seu papel de mãe solteira, mãe sozinha, cosendo a vida dos dois sem a presença do progenitor que não havia se dignado a ser pai. Melhor assim, pensava ela, afinal se não havia carinho, melhor não enviar dinheiro também. Enquanto todos dormiam, a máquina de costura rugia dia e noite, noite e dia. De sua janela entreaberta, ela sabia distinguir passos na calçada, o barulho dos carros dos vizinhos indo e vindo da balada, o cantar dos pássaros e o galo avisando que a manhã chegava e era hora de ir deitar. O mundo lá fora a chamava, contudo sua alegria era apenas o menino que dormia ao seu lado. Tinha largado tudo pelo amor daquele filho. Sim, o dia tão esperado tinha chegado. Esperado por quem afinal? O filho crescera, formara engenheiro, orgulho de toda a família, quem sabe também do seu próprio pai. Agora o filho ganhara o mundo com o canudo debaixo do braço, foi morar na cidade grande, coisa que toda mãe deseja, mas espera que demore um pouco mais. Agora não era preciso ir na esquina no telefone público, tinha o tal celular, mesmo com essa facilidade, a mensagem vinha breve, com fotos a dois. A tal nora chegara na vida de seu filho simultaneamente a sua ida para Curitiba. Casamento esperado por quem afinal? pelos dois é claro. Tudo seria registrado no papel passado semelhante ao tempo de seus pais e como poderia ter sido o dela, a mãe do engenheiro formado em Cascavel.
Enquanto penteia seus cabelos e tenta esconder uns fios brancos, a mãe pensa no seu passado. Suspira, passa um pó de arroz e batom bem discreto, para não chamar a atenção no grande dia de seu filho.
Embora excelente costureira, não tivera a honra de talhar a roupa dos noivos, comprar na cidade grande é coisa da modernidade. Suspira, precisa aceitar tudo com naturalidade para não parecer mais velha do que sua idade conta. Pega o sorriso que estava pendurado do lado da cama e vai, não quer chegar atrasada ao momento que enfim, vai dizer a si mesma: Missão cumprida meu filho! E se acaso chorasse, prometeu ser de pura felicidade.
Amigos e famílias reunidas, entram os noivos um após o outro seguindo o ritual. Tudo igualzinho ao tempo antigo, exceto por um pequeno detalhe: Ao invés de entrarem no recinto com os respectivos pais, os noivos entraram cada um com um cachorrinho de estimação. Neste momento desmoronei e não consegui sequer derramar uma lágrima.
Não tive coragem de olhar para meus familiares que provavelmente também não estavam entendendo nada. Fechei meus olhos e pensei: Senhor, onde foi que eu errei? O que estou fazendo aqui? Respirei fundo, tal qual quando ele nasceu e fiquei estática, esperando tudo acabar logo. Talvez se eu tivesse vivido um pouco mais minha vida aquilo não teria acontecido. agora não adiantava mais. Não prestei atenção em nada do que foi dito, lembro que recebi uma última rosa do ramalhete e fui embora sem derramar nenhuma lágrima. Quando vier o meu neto, quero que meu filho então perceba, que no seu casamento moderno, a mãe dele era do tempo antigo.