Ah, saudade
ATÉ pessoas do seu entorno zombavam do seu apego exagerado ao passado. Riam da sua insistência em contar coisas do passado. Não raro diziam: "Fecha essa Baú, véio caduco!". Até os netos afirmavam: "Eita saudade chata danada, vira esse disco.
Ele ria por fora, mas ficava triste por dentro e às vezes até replicava tirando de dentro da velha careira um recorte de um trecho de uma crônica de Antonio Maria que lia sem que ninguém levasse a sério:
"Não desprezeis minhas humildes saudades, mas buscai, em vossas meninices, lembranças parecidas com estas e elas vos restituirão u certo apego, um pouco de bem querer aos dias de hoje, tão sem graça na sua maioria!".
Não adiantava, o que prevalecia hoje era a moda. Só. Saudade? Era coisa de velho, na verdade nem se sabia o que era esse bicho. Um dia, por curiosidade, u colega do seu neto um garoto brincalhão para zoar o velho, disse: "Vô resuma o que é saudade". O velho riu e citou o verso de um cantador do sertão:
"Saudade é um parafuso/ que quando na rosca cai/só entra se for torcendo/Porque batendo não vai,/ e enferrujado dentro/ nem retorcendo não sai".
O garoto ficou pensativo, nunca mais riu da saudade .Inté.