LÁGRIMAS NO NATAL

Era 24 de dezembro. Tradicionalmente a missa naquela comunidade do interior era realizada ao cair da tardinha. A pequena Igreja de Nossa Senhora do Bom Parto parecia ser muito mais imponente com as luzes que a coloriam no entardecer do verão, acentuado ainda mais os seus tons de rosa e bege.Terminada a missa LINDA nos seus mais de setenta anos se dirigiu a um pequeno presépio montado ao lado do altar da igreja. Pequenas imagens de gesso lhe pareciam um tanto quanto familiares e alguns pareciam lhe falar do cotidiano da vida. O tempo havia passado rápido para Linda que criou e educou seus filhos com certas dificuldades que a vida de interior lhe impusera. Por um momento o olhar fixo na mulher que levemente inclinada ao lado de uma manjedoura lembrou a LINDA a importância que também ela sentiu no dia que se tornou mãe pela primeira vez. Como a celebração litúrgica já havia se encerrado havia um pequeno princípio de tumulto no interior na pequena igreja enquanto as pessoas se cumprimentavam e se desejavam feliz natal. Mas ela estava ali, diante do presépio alheia ao que estava acontecendo com os outros. Seu silêncio era como se uma prece estivesse sendo enviada aos céus que por milagre de natal se fundia a terra naquela hora, tornando humano e divino uma coisa só. Seus olhos se encheram de lágrimas e discretamente tratou de afastar uma mais atrevida que se precipitou a rolar por seus olhos. Na mente de LINDA passava toda a sua trajetória de vida, ali, diante da cena do nascimento de Jesus lembrando que também ela como a mãe do menino de Belém por vezes precisou renunciar, abdicar, abrir mão para que seus filhos tivessem tudo e fossem felizes. Olhou por um segundo para trás e viu no meio do povo, seu esposo Oracy que se destacava pelo cabelo imaculadamente branco. Voltou os olhos ao presépio. Cerrou novamente os olhos e silenciosamente, no interior do seu coração começou a cantar para ela mesma: Noite feliz, noite feliz, quão afável é teu coração.... Fez o sinal da cruz e uma pequena reverência, enxugou mais uma lágrima que brotava de seus olhos azuis, e olhou para a porta da igreja. Agora o negro havia tomado o lugar das luzes do entardecer. Discretamente sorriu. O natal estava começando.