Um Ser Vil - ato III

“Flertei com o suicídio por ¼ de um século, mesclo ainda no patamar do lado de cá, mas meus olhos atravessam o limiar desse buraco negro, dessa viagem de um bilhete só. Mas não cedi à tentação, ou a covardia. Vá saber. Habitando ainda nesse mundo, com propósitos de suportá-lo, fiz maravilhas e obtive muitos gozo nesse tempo. Fui feliz onde não achava que pudesse ser.” - Senhor H.

Harpo abre sua casa, carrega as bolsas para dentro da casa. Logo em seguida pega a cadeira de roda e entra com Índio para que entre. A casa de Harpo está severamente desorganizada. Harpo leva Índio e apresenta o quarto que ele ficará. Harpo volta e rapidamente começa a pegar as coisas e arrumar a sala.

Depois de alguns minutos. Índio volta e fica na porta. Harpo ver, mas continua em sua arrumação. Harpo vai até a cozinha e pega dois copos de água e entrega um para Índio.

_O que acha sobre o ato de matar? Acha que é errado? _ Disse Harpo depois de se jogar no sofá.

Índio olha atento para Harpo e toma um longo gole de água. Ele coloca o copo entre as coxas.

_ E eu deveria duvidar disso? _ Índio responde convicto._ É claro! O mal-estar que me encontro, não é indício desse delito.

Harpo caminha até maleta, pega e volta e senta na poltrona novamente. Abre o tabuleiro e coloca sobre a mesinha de centro. Ele tira as peças da rainha e o rei branco do xadrez segura cada uma na sua mão e observa com atenção.

_ Com quem falo agora?? _ Harpo olha para os gestos de Índio.

_ Quem poderia ser??

Harpo parece ter dúvidas em colocar primeiro a rainha ou rei no tabuleiro.

_As vezes você tem umas perguntas esquisitas, já se percebeu ouvir?

_ Não a ver mais? _ Harpo insiste

_ Não faço a mínima ideia de que você está falando! _ Ìndio vai até a mesa e coloca o copo sobre o móvel. _ Não tenho contato com o pessoal do hospital…

_ Hmm! Enfim… voltando em o ato de matar! tudo isso é conversão social. A morte possui a coroa dos justos e punhal dos impuros. É mesmo que eu te diga que você é pobre e jamais será o merecedor das coisas boas desse mundo, vai depender da sua personalidade aceitar isso ou recusá-la. E recusar os espectros de uma natureza é árduo demais. Quando um ser além da concepção convicta disso, já tem o fenômeno da natureza como crença, isso lhe pertence. Pois fez parte da vida toda, é absurdamente compreensível. Mas vejo como agravante, esse ser que acredita prontamente nessa ideia. Discursos são, em totalidade, infectados com algo que é pior que a mentira, a convicção daquilo que é apenas a estética da realidade.

Índio fica pensativo e indaga:

_ Você... então... é esse ser?

_ Evidente que sim! Não tem tenho o poder sair dessa atmosfera. _Harpo começa a tirar a tirar o peões e colocar sobre o tabuleiro. _mas voltamos ao contexto da morte.

_ Pois bem! E você, acha mesmo de fato que matar não é errado?

Índio olha fixo nas mãos e nas peças.

_Gosto de ver que não há nada natural que me impeça a prática. Deveria ter um agente que me contraponha. Você mesmo poderia ser um elemento, meu antagonista. Faria isso? _ Harpo fala de forma meticulosa.

Índio olha nos olhos de Harpo e fala prontamente:

_Claro, prontamente que sim. Não acho certo fazer isso! Com toda força que disponho! _ Índio se inclina para frente, equilibra se nos braços da cadeira de roda.

_Mas eu nem falei das condições em que essa morte era uma possibilidade e nobre, não sabe o meu julgamento para me entregar nessa finalidade.

Índio afrouxa um pouco a postura da coluna.

_Mas esse é o sentido urgente que me encontro, claro é que eu faria impedi-lo… outro qualquer.

_Outro qualquer… assuntos se derivam… mas não vamos nos distanciar deste. _ Harpo respira fundo e alinha os peões com preocupação perfeccionista. _ Acha mesmo que isso é fazer o certo? Uma salvação tão impulsiva. Sem saber as condições dos meus atos, dos seus…

_Mas então,… _ Índio titubeia e contrai-se até as pregas de sua garganta. _Então, diga... qual é a sua condição?

_ Não, não continue! Esse é seu bom coração..._ Harpo sorri em soslaio. _ Coração impulsivo, certo? Faça dele sua bússola! Ainda se mantêm na ideia de me deter se eu tivesse a intenção clara de assassinato?

_Agora é impossível agir sem que a dúvida me persegue. Prefiro saber as suas considerações.

Grego alinha todas as peças brancas sobre o tabuleiro. E sem querer esbarra e desalinha as peças.

_Também não tenho a resposta. Uso empirismo e o caldo ralo de outras ciências para entender essa lógica. Mas não é suficiente. A razão me é cara nesses momentos.

_Mas… mas… como é mesmo nome do conceito.. aaah… as premissas… o que leva a crer que um ato de matar venha ser nobre?

_ Sem muitas palavras, O assassinato me parece válido quando a pessoa não ultrapassa a linha da inutilidade, o famoso desserviço.

Índio olha para Harpo para buscar uma contradição.

_ Parece inseguro nessa sua frase?

Harpo levanta e caminha até a cozinha. Ele para na porta e olha de súbito para Índio.

_Claro, é um pensamento distante, demasiado abstrato para mim, não sou dono desse pensamento. Mas muito me atrai. É como se fosse uma roupa que outra pessoa fez a sua medida. Mas que me serve tão bem e vejo sempre o momento para usá-la. Me vejo como uma segunda pele.

_ Acha tão justa a si, mas a vê em um estado abstrata?

_Mas isso não é raridade para humano, todos nós, nos entregamos a esses momentos conflituosos. Vários. Mas é convicção, essa ordinária robusta é que tenho mais receio!

Harpo entra na cozinha.

_Só um momento! Você então, não tem convicções?

_Como não ter convicções? Como fazer com que venhamos desgarrar desse filete incrustado no nosso DNA. Memórias são convicções! _Harpo volta e senta na poltrona. _Mas reconheço que há convicções cativas e que não se deve ter muitas adulações. São o que são. E é nesse ponto que quero a participação sua!

_ Ainda não vi a minha utilidade,... o indício de participação ao seu lado. _ Indio caminha até Harpo.

_ Se fizesse, teria minha admiração dupla. Mas um momento… vi que você possui percepções internalizadas sobre lógica... Lembra, por acaso, se fez, ou se estudou em algum curso ligado a matemática?

_ Não! assim... Prontamente não! Mas sinto que algo ligado a eletrônica, é um atrativo com singular vontade. _ Índio fica contagiante. _ Aaah! Sim! Algo ligado a estrutura psíquica também, sim! isso me encanta de alguma forma.

_ Você seria um bom investigador da polícia?! O que acha?

_ Não sei! Mas vou Pensar com carinho!

Índio termina de falar e se tranquiliza com a resposta. Harpo olha para ele de forma intrigante. Índio fica incomodado com aquele olhar, severamente penetrante.

_ Responde! o que acha de fazer parte da polícia!?

_E por que a polícia? _ Índio ainda intrigado.

_ Um indivíduo quando crer tanto naquilo, aquela lei. Mas que dali não acha resposta, ele então compreende que a lei ele mesmo pode criá-la. Suponho que o princípio do entendimento da morte do qual venho mencionando, você compreenderá dessa forma. Portanto, julgo, que será dessa experiência.

_ Ainda não sei respondê-lo.]

Harpo se dá por uma altas gargalhadas. Foge de fato de uma tensão.

_ Meu caro, pense então! Não há motivo para que eu desista de você! Pois, me refaço nessa possibilidade. Me faço… Meu fio de vida está em você! Mas não passo me contentar com esse fio. Ele me é insosso demais. Quero te fazer uma extensão da minha vida… uma vida que valha a pena a ser vivida.

Índio levanta as palmas da mão para cima.

_ Não entendo onde deseja chegar… o que eu tenho…

Harpo levanta e pega um licor e enche a tacinha e coloca no mais alto móvel.

_Há prazeres em mim que jamais poderei sentir novamente. É uma desgraça que me foi mortal, o que era antes… morreu. Agora me vejo como espectro. E parte dessa vontade é ainda ter consciente e exigente. _ Harpo vai até outra garrafa e enche outra tacinha e senta na poltrona levanta a taça de licor em direção a Índio. _ Esse licor é o que mais gosto, meu paladar sensível a essa composição. Quanto aquele lá em cima. Não tanto. Mas aquele é dito como o melhor do melhores licores. Você precisa saborear aquele licor. _Harpo bebe um boa dose de licor e deixa explícito o prazer de tomar a bebida. _ você provavelmente tem o paladar que gostará daquele, quer provar?

_ Gostaria muito! _Mas já sabendo que se tratava de um dos joguinhos de Harpo.

_ Vai lá e pegue.

Harpo não leva adiante o brincadeira. Pega o licor entrega a Índio.

_ Isso é uma excelente bebida! _ Índio toma em pequenas doses.

_ Pois é, daqui em diante eu serei um parasita nos prazeres alheios. Mas no momento não sei se posso. Por hora me contento com as estranhezas da mente humana, as mesmas coisas, mas de manifestação derivada.

_ Não estou entendo nada do que diz.

_ Evidentemente que não. Isso para também não é claro para mim. Palavras não carregam todo esse poder ao transmitir sensações. Coisas devem ser sentidas para que as compreendem. Meu caro, aparentemente tinha me feito a entender que você precisa de mim para se erguer, reencontrar suas individualidades, mas não verdade. _ Harpo fica de joelhos perante Índio. _ Eu é que preciso de você! E como eterna gratidão farei de você um homem extraordinário.

_Que seja em então esse nosso caminho!

_Mas em nós, temos muito travas, para você é dedicado a grandeza. A minha, me

contento como a satisfação de um homem vil.

_Mas por que se contenta com essa… essa pequeneza? Se assim posso dizer.

Harpo se levanta em lance. Sorriso nervoso. Pega garrafa e se serve cada um o seu licor preferido.

_ Pequeneza? Não! Não! Todos nós temos nossa pequeneza e nossa singular grandeza! A sua grandeza aos meus olhos é uma pequeneza! Acho-a inútil. Mas não a desqualifico! Sem isso tu seria um miserável, um ser incompleto. E eu te entendo! Mas me é muito caro te compreender.

_ Juro! Espero entender nesse nosso processo de parceria,

_ Sim! Sim! Espero que sim! Quero que construa em sua memória o quanto estou

sendo honesto contigo! Espero que venha me compreender! Preciso destilar esse meu pensamento. Pode ser um desespero de uma salvação que almejo. Ainda não sei! Temos décadas a frente para checarmos as ideias embrionárias de nossa conversa. Não sei o poder que terei sobre você e o poder que terá sobre mim. É um jogo que produzirá coisas. No mínimo, serão magníficas e singulares.

_Sim! Como disse, não sei o que se passa em sua cabeça! Mas percebo que precisaremos dá o primeiro passo… disse Índio com sorriso amigo.

_ Aaaah ...se já não o damos… Creio que sim! As paisagens que se encontram nesse caminho, estamos já vislumbrando o início dessa selva…

Índio levanta da cadeira com extrema dificuldade. Vai até a garrafa de licor e se serve. Harpo o olha com admiração.

_O que faremos agora? _ Índio volta para sua cadeira com grande cansaço.

_ Precisamos de uma persona nova! Elas servem para lidar com determinada situação. Essas aqui, como identidades em estágio de larvas, sentem se incapaz de fazer o que nos está reservado. Lembra do que disse já te disse? como me compreendo ser uma persona vil? E que essa é a minha grandeza?

_ Aaah! Sim! Mas… _ Índio se mostra muito contrariado.

_Pois bem, meus prazeres se dão nessa manifestação! Sou capaz de fazer isso? _ Harpo se contrai. _ Evidentemente que não! Obtive a pequena fração desse gozo. O extremo desse prazer é inalcançável. Preciso de um link. Ainda me resta algum símbolo ético da sociedade que vivo!

_ Não sei bem a estrutura do que me cabe. Nem enxergo como um tecido onde eu possa escrever. Sinto que para escrever alguma coisa preciso me organizar com minhas memórias…

_ Impossível isso! Escreva com as memórias que se tem! _ Harpo pega firme as mãos de Índio. _ Você não está com luxo de esperar esse momento! Não sabe o quanto isso vai se estabilizar… vamos, apenas vamos! Não se entregue a hesitação!

_E a ideia de morte? Ainda presente nessa escrita?

_Evidente que sim! Mas sei que é um rompimento do limiar que não se obtém num estalar de dedo. Você precisa aprender que a morte virá sem alternativas. Você matará como único caminho para alcançar o do extraordinário. Eis um motivo de segui a carreira de um policial.

_ Sinto-me prontamente a recusar essa carreira.

_ Prontamente? Já se apegando ao impulsividade novamente? _ Ri Harpo.

_ Isso provoca náuseas! Não me vejo matando uma pessoa! _ Índio de olhos cerrados e lábios tortos.

_Mas se ver excitado com o que nos tornaremos? _Levemente demoníaco.

_ Recupero a sua fala dantes, sobre a honestidade! Confesso que preciso saber essa zona desconhecida! Nem sei o que trata sobre esse ser extraordinário.

_ Isso já me basta, me deixa animado!

_Sim... sim... estarei ao seu lado! Sempre com cautela nas minhas ações! Já que me sinto como objeto…

_Algo a ser moldado? _ Harpo alfineta o convidado.

_Não... como seu fantoche!

_ Não te incomoda??

_Claro! mas como se eu soubesse apenas o meio da história!

_E se outras partes dessa história serem horríveis?

_A história está horrível como está agora. _ri Indio.

_ Você diz como se tivesse a alguma noção das suas cordas … _ Indio balança a cabeça concordando. _ hmm! isso é bom…!

Harpo levanta o dedo em direção a Harpo.

_E estarei a todo momento indagando sobre você e seus métodos. Conscientemente, vou lutar com tudo para não fazer o que deseja…

_ Saiba que somos tão devotos a emoção, é nosso deus? E vemos a razão como um Demônio. _ Harpo coloca as peças de xadrez no tabuleiro. falta algumas.

_Que seja! Mas não passarei desse limiar… jamais mataria uma pessoa! isso é inadmissível.

Harpo sorri.

Na tv mostra o homem sendo procurado! Ele é suspeito de agredir a esposa e deixa-la em internada e em coma. Numa sala grande e luxuosa. Harpo usa terno sem gravata. Tem 40 anos. Índio, com 39 anos, está em pé de cabelo penteado para tras e bem vestido de terno e gravata,

_Sabe que ele fez, não é? _Harpo com voz mansa e sedutora.

_Sim! mas não posso… _

_Mas agora, sabe bem o poder que tem… mas sobretudo, é o dever.

_ Não! definitivamente não! Leve-o para prisão!

_Mas sabe o que vai acontecer. já disse isso umas 665 vez. Você precisa de…

Índio fica em transe e paralisado por um instante. Harpo vai até o tabuleiro de xadrez, dispõe as peças calmamente, começa a jogar xadrez, ele olha para Índio com atenção. Harpo então passar ficar excitado, observa Índio se levantar.

Harpo está vestido de touca plástica e preta. Ele se mantém na expectativa de arquear os lábios, mas é visível a tamanha satisfação do eunuco. Ele solta grunidos para se controlar! Olha para o celular e suas mãos tremem de tanta excitação! Na tela do celular, está uma mulher de vestido vermelho, o homem que agrediu a esposa está sentado e de mãos amarradas, ele geme de dor e tenta gritar, mas sua boca está amarrada e solta apenas urro abafado. A mulher hesita um pouco, mas como única saída de um problema, ela desfere golpes de facadas no homem. Seu sangue jorra com tamanha potência no chão. O chão está todo coberto por lonas grossa.

Harpo está em êxtase, mal pode gravar as cenas da vítima e as mãos da assassina. A mulher se afasta e pega a flor Dalia-Quente ao lado. Sangue desce ainda robusto do corpo da vítima. Harpo não se contém com tanta excitação e tenta tirar a touca, mas nesse mesmo instante a mulher se vira, é Índio, com gestos delicado e afeminado, está travestido de mulher, bem maquiado.

_Vai deixar vestígios. Mantenha-se coberto, Senhor H.

Harpo, extremamente contrariado, rapidamente se cobre o rosto. Mas ainda se treme todo de excitação. Índio/Mulher volta atenção em sua vítima e crava a flor com certo furor no pescoço do homem, como se fosse uma gravata. Harpo não se contem e começa a urrar como se tivesse em esplendoroso orgasmo.

Fim