Véio demodê
ERA UM VÉIO DEMODÊ que se considerava cristão, mas achava que isso não implicava possuir carteirinha de religioso. Bastava, segundo ele, ter fé em Deus. E, claro, rezar ao Pai como Jesus ensinou, sozinho e com a porta do quarto trancada.
Apesar de demodê, além de avesso aos tempos modernos, não era preconceituoso e nem falso moralista, nem muito menos santinho do pau oco desses apegados a tabus fascistas. No entanto, não concordava com a "forçada de barra", caso da mania de chocar com a exibição de posturas provocativas que só incitavam retaliação. Mas no setor sexual não condenava nada. Concordava com Rita Lee: sexo é poesia. É algo pessoal e prazeroso, que fica ainda mais gostoso dentre quatro paredes.
Esse veio demodê achava também que os bons exemplos eram fundamentais como espelho para a formação dos jovens. A intenção tinha que ser seguida pelo gesto, o discurso pela ação, as ideias pela vivência no cotidiano. Em resumo: o discurso tinha que bater com a prática. Achava ridículo e execrável o falso moralista, o prepotente, o demagogo e o santinho do pau oco. Estes gritavam, uivavam, faziam salamaleques, cabriolas, vestiam fantasias, mas tudo falso.
Por outro lado, achava que ninguém devia se isolar, se refugiar ou viver se escondendo da vida. Era covardia. O homem de verdade devia viver no meio do povo. Quem evitava o povo era sepulcro caiado.
O que gostava mesmo era de tomar umas lapadinhas num boteco batendo papo com oovo. É um veio demodê. E priu. Inté.