QUANTA SABEDORIA II

Uma vez era de que havia duas grandes amiguinhas, uma bem loirinha e a outra de cor mulata.
A vida funcionava bem para ambas, exceto em duas situações.
Moravam à beira da praia e, nas férias, era uma delicia passar o dia à beira do mar, brincando de castelos, nas horas passadas ao relento.
Mas a menina loirinha nunca podia ficar por muito nesse encantamento. Nem com muito bronzeador, a pele do seu corpo resistia à radiação solar. Já a sua amiga de cor mulata se refastelava de um dia inteiro de emoções vividas.
Por outro lado, a menina moreninha, apesar de gostar muito de seu cabelo crespo, gostaria de que ele crescesse rápido como o de sua amiga loirinha, que tinha cabelo liso, e bem comprido.
Em um certo dia, apareceu uma fada com uma proposta bem atraente:
- Por uma semana, você, menina mulatinha, se tornará a menininha loirinha, e vice versa.
Foi um júbilo. Finalmente aproveitarei o mar em todo o seu esplendor, pensou a loirinha, enquanto a menina de cor mulata ensaiava seus penteados.
Porém, algo mais mudou. Os pais de ambas não eram os mesmos, e nem seus amigos. Suas casas e brinquedos eram diferentes. Nem o mar e o cabelo mereciam tanto.
Em três dias, pediram para voltar às suas identidades originais.
E para mostrar ao mundo sua generosidade, a menina loirinha começou a ir à praia bem mais cedo pela manhã, quando os raios de Sol não lhe causariam dano a sua pele. E a mulatinha cortou seu cabelo curtinho, como se fosse joãozinho, e nunca se sentiu tão menina.
E a narradora desta fábula se tornou testemunha, mais uma vez, da versatilidade e sapiencia brilhantes da voz infantil.
Shila Kalmi
Enviado por Shila Kalmi em 13/12/2019
Reeditado em 14/12/2019
Código do texto: T6818169
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