ELE, MIGUEL

Inspiração para gerações de artistas, de SALVADOR DALI a ORSON WELLES, o personagem do fidalgo sonhador que luta contra moinhos de vento, hoje parte da cultura popular de todo o mundo. A vida do criador foi quase tão venturosa como a do herói, apenas não muito conhecida. Homenagens mundiais nestes 400 anos de morte e incursão na biografia do escritor, eclipsado a favor do personagem: homem generoso e tolerante, grande aventureiro, esteve na guerra e na prisão, mas morreu pobre e esquecido. Ao início de 2016, o Instituto Cervantes promoveu mais de 500 atividades, culminando na Espanha com a "Semana Cervantina" e as cidades de Madri e Alcalá de Henares, terra natal de CERVANTES, promovendo debates, palestras e espetáculos sobre o contexto histórico e curiosidades biográficas do escritor, inclusive um grande mapa interativo, exposto ao redor do mundo, sobre a vida dele, registros de cada região por onde passou. No dia 23 de abril, data de sua morte, tradicionalmente entregue o Prêmio Cervantes, a mais importante láurea (coroa de louros?) da literatura em língua espanhola; no mesmo dia, feriado de São Jorge, padroeiro da região, casais trocam rosas e livros; no circuitos dos eventos, na mesma data, 2016, em São Paulo, uma leitura contínua de obras do escritor, ao longo do dia; em todo o mês de abril, no Rio exposição de livros; ao fim do mês, também no Rio, homenagem ao escritor na Biblioteca Popular Lima Barreto, na Maré, reunindo entre 80 e 100 crianças, celebração da obra de CERVANTES e divulgação de uma frase em "Dom Quixote", "Cortesia engendra cortesia". Aos 400 anos de sua morte, a herança continua - aspectos metaliterários, autorreflexivos e paródicos influenciaram a melhor leitura posterior - Fielding, Defoe, Sterne, Flaubert, Melville e Machado de Assis -, clássicos do séculos XVIII e XIX, inflexão irônica. ----- Quem foi: o espanhol MIGUEL DE CERVANTES SAAVEDRA (1547/1616), filho de um cirurgião, viveu na Itália, lutou na batalha de Lepanto (1571), passou cinco anos preso em Argel (1575/1580) e, de volta à Espanha, tornou-se comissário na corte de Felipe II. Colecionou insucessos literários até publicar sua obra-prima. / Em 1605, publicou o primeiro tomo de "O engenhoso fidalgo Dom Quixote de la Mancha", paródia dos romances de cavalaria, obra-prima recebeu críticas iradas da nobreza, o que o fez lançar a segunda parte, em 1614, sob pseudônimo, assumindo a autoria um ano depois. / Chegou ao Brasil no Barroco e teve influência imediata, citado no século XVII por Gregório de Matos num poema; Olavo Bilac renovou o interesse; Monteiro Lobato publicou "Dom Quixote para crianças", 1936; anos depois, Drummond escreveu 21 poemas inspirados na novela de cavalaria. / Muitas releituras de artistas populares - Dali fez pinturas inspiradas no cavaleiro; 1946, Orson Welles filmou estória inspirada em Cervantes, entre 1957 e 1969; enredo da União da Ilha, cavaleiro e Sancho Pança, carnaval na Marquês de Sapucaí, 2010. / Entre 1590 e 1612, ele escreveu "Novelas exemplares", conjunto de estórias picarescas menos conhecidas, porém tão importantes quanto "Dom Quixote", textos editados no Brasil, edição incompleta, 1970, 12 estórias reunidas e publicadas em 2015

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FONTE:

"Luzes sobre o autor", de Guilherme Freitas - Rio, jornal O Globo, 17/4/16.

F I M

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 03/12/2019
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