23:10
Coloquei o último ponto final no último verso e deixei o computador de lado, enquanto B. escorreu pela cama, vestida apenas com uma camisa de botões.
Ela se endireitou, prendeu os cabelos com um uma presilha e veio até perto de mim.
- Que horas são? –Perguntou, com as mãos escoradas na cintura.
- Onze e Dez.
- Puta que pariu! Perdi a hora.
- Você devia ficar por aqui.
- Não posso.
- Tudo bem. Ainda tem ônibus.
- Mas minha rua vai estar um breu só.
- Vamos ver quanto dá de Uber daqui pra lá.
- Vai dar uma fortuna.
- Não tem problema. Eu ajeito.
- Eu não gosto disso.
- Eu sei. Mas já que você não pode ficar...
- Eu até posso. Mas não quero ouvir nenhuma gracinha amanhã.
- Deve ser um saco mesmo. - Pontuei resignado.
Ela sentou do meu lado na cama, começou a desabotoar a camisa e virou o ventilador diretamente para si.
O vento espalhou os seus cabelos e expôs os seus seios, afastando a camisa.
Não tive como olhar para o que estava do meu lado e ela deu um sorriso.
- O que você tanto vê nos meus peitos, hein?
- Não sei dizer exatamente. Só são harmoniosos.
Ela deu uma risada e segurou os seios com as mãos.
- Nunca me disseram algo assim.
- O que seria de mim se eu falasse as mesmas coisas que os outros?
- O mundo não é nenhuma competição, sabia? - Ela disse, mordendo os lábios.
- É eu sei. Mas às vezes parece.
- Bem. Eu gosto da forma que você me elogia. É tudo muito particular. Mas se você continuar assim eu vou terminar ficando muito convencida.
- Então eu vou tomar cuidado com os elogios.
- Não toma não. Tá muito bom assim – Falou e depois abriu um sorriso que me desarmou completamente. Depois se deixou cair na cama, ficando com o ventre exposto, bem do meu lado.
- Puta merda. Eu queria ter talento pra te pintar exatamente do jeito que você está agora. – Falei, dobrando meus joelhos sobre a cama.
Ela tirou os olhos do teto e virou para mim.
- O que tem demais no agora, pra você querer guardar pra sempre?
- Não sei dizer.
- Tenho certeza que você sabe. Mas tudo bem.
Ela se sentou novamente na cama e deixou a camisa de lado.
- Vou tomar um banho. Não tô aguentando esse calor. E não gosto de dormir suada.
- Não vai mais embora?
- Se não tiver problema. Acho que vou ficar por aqui mesmo.
- Não tem problema algum.
- Abre mais um vinho então. Não vou demorar.
Acompanhei com os olhos enquanto ela andava até o banheiro e algo me disse que ela sabia que a estava olhando.
Algo me dizia que ela não deixava escapar nenhum detalhe das coisas que lhe interessavam, apesar de dizer sempre o contrário.
Olhei para o relógio do computador e ele apontava 11:20 da noite.
Apesar da hora, percebi que para nós dois, a noite estava apenas começando.