AMADO E CAYMMI - MUDANÇAS... - PARTE II

O espaço celestial não é exílio. Não sei se estão *jogando futebol - se aí tem samba, chorinho ou rock'n'roll... Mudanças mil no Brasil. E um mergulho no turismo de Salvador para quem nunca foi à Bahia. Mistura soteropolitana de antigo & moderno. Ainda sinais da época da fundação da cidade, em 1549. A capital da Bahia é uma combinação de história, arte, cultura e muita animação. Roteiro mais badalado é feito a pé - Mercado Modelo e Elevador Lacerda; depois do elevador, Centro Histórico, com destaque para o Pelourinho, bairro com ladeiras de pedra e tradicionais vendedoras de acarajé frito na hora.

Um pouco de turismo não cansa ninguém:

Casa do Bairro (dizem que boêmio, não sei...) Vermelho - onde viveram os escritores JORGE AMADO e ´ZÉLIA GATTAI, ponto de encontro de amigos, intelectuais e políticos - rico acervo, documento importantes, cartas trocadas com personalidades nacionais e internacionais; espaço reservado para gastronomia, "Na cozinha de Dona Flor", aulas das comidas citadas em livros, em especial "Dona flor e seus dois maridos": vatapá, caruru, acarajé, bolinhos e outras delícias. // Casa do Olodum - sede do bloco carnavalesco, de fama mundial, reconhecido como ONG - tem uma loja, auditório Nelson Mandela, exposição de quadros sobre a cultura negra mundial e troféus pelo reconhecimento da luta contra o racismo. // Catedral Basílica de Salvador - construída em 1657, altares recobertos com ouro, estilo barroco - fica na praça do Terreiro de Jesus (oficialmente 15 de Novembro) que tem um chafariz de origem francesa, datado de 1855. // Centro Cultural Solar do Ferrão - construção conta com o Museu Abelardo Rodrigues e guarda a mais valiosa coleção de arte sacra do Brasil, cerca de 810 peças entre pinturas, oratórios e crucifixos; o espaço abriga também a Galeria Solar do Ferrão, o acervo de arte popular, o acervo Cláudio Masella e o Teatro Miguel Santana. // Dique do Tororó - lagoa de 110 mil metros cúbicos de água com 8 esculturas de orixás - Oxum, Ogum, Oxóssi, Xangô, Oxalá, Iemanjá, Nanã e Iansã -, tamanho natural, flutuando no espelho d'água, obra do artista plástico Tatti Moreno - à noite, bela iluminação cênica - tororó, vem do tupi antigo, tororema, e significa 'jorro' (de água). // Elevador Lacerda - inaugurado em 1873, para ligar a cidade baixa ao Centro Histórico, na cidade alta - 4 elevadores que se deslocam pelos 72 metros em cerca de 30 segundos, passagem ao preço de R$0,05, funcionando 24 horas; linda, a vista da baía de Todos os Santos. // Fundação Casa de JORGE AMADO - inaugurado em 1987, belo casarão azul criado para abrigar o trabalho do escritor, objetos pessoais, fotografias e obras de sua mulher, a escritora ZÉLIA GATTAI - o local possui uma lojinha e um teatro. // Igreja e Convento de São Francisco e Igreja da Ordem Terceira de São Francisco - o complexo é um dos monumentos barrocos mais ricos do país - interior da igreja coberto com ouro e conta com painéis de azulejos portugueses que reproduzem a estória do santo - a igreja é a única no Brasil com a fachada em calcário lavrado. // Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos - construída por escravos no início do século XVIII, tem no interior painéis de azulejos e nos fundos um antigo cemitério. // Lagoa do Abaeté - rodeada de dunas de areia branca, águas escuras - lagoa cantada por CAYMMI em "A lenda do Abaeté", 1954 - abá-etê, tupi, significa homem forte, ilustre, de bem. // Memorial da Baiana do Acarajé - espaço para exposições que conta a história de uma figura tradicionalíssima em Salvador, trajes típicos. "Quente" é super apimentado, ô xente! // Mercado Modelo - localizado na cidade baixa, construído em 1851 para sediar a primeira alfândega do Brasil e aportar navios de mercadorias - atualmente, abriga 262 lojas que vendem produtos típicos da região, como esculturas, colchas, cerâmicas, roupas e artesanato - no segundo andar, restaurantes com delícias da culinária baiana. // Museu da Cidade - instalado num casarão considerado um dos mais belos do Pelourinho, reúne bonecas tradicionais da Bahia, esculturas, imagens de orixás em tamanho natural e objetos pessoais do poeta Castro Alves. // Pelourinho - conjunto arquitetônico localizado entre o Terreiro de Jesus e a Igreja do Passo - início da construção pelos portugueses no fim do século XVII, tombado em 1985 como Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO - originalmente, pequena praça triangular onde escravos eram amarrados e açoitados; hoje, uma das principais atrações turísticas, região de casarões restaurados, museus, igrejas e centros culturais. // Praça da Sé - do templo idealizado por Tomé de Souza, sobraram alguns alicerces - hoje, a Igreja da Sé é um dos locais mais visitados de Salvador - conta com o Monumento da Cruz Caída e uma fonte cibernética sonorizada, que movimenta por computador 60 jatos de água e focos de luz com 60 cores. // Universidade Federal da Bahia - edifício do século XVII, no Terreiro de Jesus - sediou a primeira faculdade de medicina do país; funcionam também no local o Museu Afro-Brasileiro, com objetos de arte sacra africana e painéis do artista Carybé, e o Museu de Arqueologia e Etnologia, com pinturas, objetos e urnas funerárias indígenas.

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NOTAS DO AUTOR:

CBH --- * Alusão a "Meu caro amigo", carta musicada do CHICO, no Rio de Janeiro, para AUGUSTO BOAL, teatrólogo, em Lisboa, na época exilado em Portugal, álbum "Meus caros amigos", 1976. Carta recebida em mãos através de portadora brasuca, mãe de Boal, durante um almoço, hora da sobremesa, presentes também os novos "portugueses" - os professores Darcy Ribeiro e Paulo Freire, exilados.

SOTEROPOLITANO --- referente à cidade de Salvador - helenização (helenos deram origem ao povo grego): na versão grega, soter (salvador) + polis (cidade).

LENDA DO ABAETÉ --- cultura popular brasileira, conto etiológico que explica a origem da lagoa - abaeté, tão lindamente cantada por Caymmi, é o véu da noiva: "Iracema - a índia, prometida do cacique Abaeté, foi abandonada pelo consorte que não compareceu às núpcias. As lágrimas sentidas deram origem à Lagoa que recebeu o nome do grande chefe. Diz ainda a lenda que homens casados não devem rondar a lagoa sob pena de serem seduzidos pelo canto de Iracema que, tornada sereia, habita o mais profundo das águas." ----- Na versão africana, "a lagoa é a morada de Iemanjá, que tem ali o seu reino". ----- A música de CAIMMY, até mesmo pelo vocabulário, remete-nos muito mais a uma tradição africana que indígena. Brasileiríssimas, lendas e músicas, a lagoa que, dizem, já foi manso rio correndo entre matas. Superstição: enfim, por que o “desconjuro” ao se falar do Abaeté ou a “benzeção” das lavadeiras ao ouvirem a “zoada do batucajé”, que remete a canto negro, batuque, som sem riscos de ofensas e perigos?

FONTE:

"O sobe-e-desce de Salvador" - SP, revista Nestlé com Você - dez./2009.

F I M

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 24/11/2019
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