Estava tudo pronto para a estreia da ópera Tristão e Isolda, a sua preferida de Wagner. A semana de ensaios exaustivos, faziam com que Rebecca e Henrique se vissem menos. Mas após a temporada, estariam na Grécia. Fariam a sonhada viagem de lua-de-mel, logo após a cerimônia do matrimônio que contaria com todo o luxo que sua Prima-dona era merecedora. Henrique cuidava de cada detalhe. Um palacete no Brasil, fora erguido para viverem com a futura família numerosa, como planejavam. Rebecca pensava em encerrar a carreira ou pelo menos pausar sem planos para voltar. Desde que Cícero, seu produtor,  adoecera, ela não conseguia se organizar profissionalmente muito bem.
Henrique já deveria estar na plateia, mas ainda não havia chegado. Rebecca estava ficando aflita com o atraso do noivo, afinal ele vinha sempre na véspera. Dessa vez, por importantes  compromissos assumidos, não pôde vir antes.
A sirene do teatro soou. Era preciso iniciar e Rebecca começou o primeiro ato. Enquanto cantava, percebeu que as cadeiras da primeira fila, reservadas ao noivo, estavam vazias. Um suor em seu rosto brotou e à medida que alcançava seus agudos, uma dor profunda trazia lágrimas em seus olhos. Ela não conseguia sustentar as notas e parou o espetáculo. Nesse instante as cortinas se fecharam e um burburinho, vindo das coxias, mostrava que algo muito sério havia acontecido.
Rebecca correu de encontro à assistente que com o rosto em lágrimas a abraçou. Soube então que o avião que trazia Henrique e sua comitiva havia caído no mar. Que drama! O que se  ouvia eram os gritos desesperados da artista, inconsolável. Nos bastidores,  via-se toda a gente tentando consolá-la.
Naquele dia o público assistiu todo o drama de Rebecca di Lucerna em sua peça mais intensa e também a derradeira.
Cláudia Machado
Enviado por Cláudia Machado em 20/11/2019
Reeditado em 22/11/2019
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