Prima-dona (Cap I)
Ele a viu nos palcos, cantando as suas operetas preferidas, como A Viúva Alegre, mais de uma vez.
Na última estada em Milão, instruiu um dos seus secretários para pedir uma agenda a sós com ela após a peça.
Levou um bouquet de flores, rosas quase brancas, de um tom tão suave, jamai visto.
Providenciou também um vinho e duas taças e após o evento ele esteve em seu camarim.
A moça não queria conversar, mas agradeceu as flores gentilmente. Recusou a bebida alegando dor de cabeça. Afinal era fim de temporada e o cansaço dela era visível.
Ele ficou desapontado. Nunca uma dama teria feito tamanha desfeita àquele industrial milhonário vindo de tão longe.
O homem voltou para o hotel e indignado, tentou falar com ela por telefone. Depois desistiu. No dia seguinte, pediu para entregar-lhe os melhores bombons que encontrassem em toda Europa.
Rebecca di Lucerna soube depois de quem se tratava o ilustre visitante. Sua secretária, abismada, comia os bombons que a cantora lírica também rejeitara.
- Como assim, não receber um dos jovens mais ricos do Brasil, vindo à Itália exclusivamente para vê-la atuar?
A artista preferiu não comentar mas sim, os olhos profundos e penetrantes haviam lhe provocado como nunca.
Passaram uns meses e ela soube que Henrique Rocha estaria novamente na cidade. Não havia nenhum evento artístico naquela semana. Provavelmente estaria a negócios.
Saiu como de costume para o cabeleireiro e as cinco tomou seu chá numa das melhores confeitarias da cidade.
Estava só. Olhava, pela janela, a tarde que se esvaía em tons amarelo-alaranjado. Foi quando ele a viu e se aproximou. Cumprimentou-lhe e perguntou se poderia se sentar.
A moça assustou e de pronto reconheceu aqueles olhos. Sorriu e ofereceu-lhe uma xícara de chá.
Ele aceitou. Se apresentou e conversaram amenidades. Ela contou sobre a sua trajetória artística, sobre o seu codinome e sua relação com as óperas de Richard Wagner que vivera em Lucerna, na Suíça. Após uma hora de conversa, sem que ele falasse muito sobre si, ela agradeceu a companhia e se retirou.
O homem ficou por alí mais um tempo. Seguiu o seu andar gracioso até que a viu se perder numa esquina e perguntou a si mesmo o que estava acontecendo. Era uma obsessão ou realmente uma louca paixão?
Na manhã seguinte, Rebecca se despertou com um sentimento diferente, veio-lhe na memória os olhos negros inquisidores. Teve vontade de revê-lo, mas nada fez. À tarde pediu a secretária enviar ao hotel onde ele disse estar hospedado, um par de convites para a próxima apresentação que faria na Croácia.
Quando Henrique recebeu o presente, sorriu para si mesmo. Ligou para sua secretária no Brasil e pediu para providenciar as passagens e o hotel.
- Para mim e para a senhora!
A funcionária consultou a agenda do chefe. Não havia compromisso de trabalho para aquele país, mas sem muito questionar, providenciou. Muitas vezes o acompanhava em viagens de negócios. Provavelmente algum compromisso que iriam formalizar.
No dia da apresentação, da coxia, ela pôde ver o casal na primeira fila. Julgou ser, a senhora que o acompanhava, sua esposa. Ponderou que a mulher do rico empresário devesse ser uma mulher mais jovem. Sentiu uma emoção diferente. Certo ciúme ou alguma aversão?
Esperou secretamente pela visita dele no final do espetáculo, mas naquela noite ele não foi ao camarim.
Sentiu-se um tanto irritada, dispensou a entrevista que faria com uma emissora local e o jantar com o produtor.
-Quem seria aquela mulher que o acompanhava? Perguntou à sua assistente.
- Não sei senhora. Mas estava elegante e com uma bela jóia no pescoço.
Rebecca quase não dormiu naquela noite, mas atribuiu sua insônia à rotina atribulada entre ensaios e a viagem de volta para Milão.
Passaram-se duas semanas e a lembrança de Henrique perdeu um pouco da força.
Mas numa sexta-feira, seu produtor ligou bem cedo e anunciou-lhe:
- Rebecca, teremos no próximo ano uma temporada no Brasil!
Uma alegria brotou-lhe no peito, mas logo depois uma sensação de desconforto.
Soube de todos os detalhes. Espetáculo no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Um evento patrocinado por uma grande empresa. Soube, era Henrique Rocha, o dono da principal exportadora de brilhantes do país.
Pensou em recusar, mas seria briga na certa com o seu produtor, amigo e responsável por sua carreira há dez anos, desde quando iniciou-se nos palcos ainda muito jovem.
Cláudia Machado
Nota: Leia aqui no Recanto das Letras os demais capítulos para conhecer toda a história. São apenas 5. Obrigada!
Ele a viu nos palcos, cantando as suas operetas preferidas, como A Viúva Alegre, mais de uma vez.
Na última estada em Milão, instruiu um dos seus secretários para pedir uma agenda a sós com ela após a peça.
Levou um bouquet de flores, rosas quase brancas, de um tom tão suave, jamai visto.
Providenciou também um vinho e duas taças e após o evento ele esteve em seu camarim.
A moça não queria conversar, mas agradeceu as flores gentilmente. Recusou a bebida alegando dor de cabeça. Afinal era fim de temporada e o cansaço dela era visível.
Ele ficou desapontado. Nunca uma dama teria feito tamanha desfeita àquele industrial milhonário vindo de tão longe.
O homem voltou para o hotel e indignado, tentou falar com ela por telefone. Depois desistiu. No dia seguinte, pediu para entregar-lhe os melhores bombons que encontrassem em toda Europa.
Rebecca di Lucerna soube depois de quem se tratava o ilustre visitante. Sua secretária, abismada, comia os bombons que a cantora lírica também rejeitara.
- Como assim, não receber um dos jovens mais ricos do Brasil, vindo à Itália exclusivamente para vê-la atuar?
A artista preferiu não comentar mas sim, os olhos profundos e penetrantes haviam lhe provocado como nunca.
Passaram uns meses e ela soube que Henrique Rocha estaria novamente na cidade. Não havia nenhum evento artístico naquela semana. Provavelmente estaria a negócios.
Saiu como de costume para o cabeleireiro e as cinco tomou seu chá numa das melhores confeitarias da cidade.
Estava só. Olhava, pela janela, a tarde que se esvaía em tons amarelo-alaranjado. Foi quando ele a viu e se aproximou. Cumprimentou-lhe e perguntou se poderia se sentar.
A moça assustou e de pronto reconheceu aqueles olhos. Sorriu e ofereceu-lhe uma xícara de chá.
Ele aceitou. Se apresentou e conversaram amenidades. Ela contou sobre a sua trajetória artística, sobre o seu codinome e sua relação com as óperas de Richard Wagner que vivera em Lucerna, na Suíça. Após uma hora de conversa, sem que ele falasse muito sobre si, ela agradeceu a companhia e se retirou.
O homem ficou por alí mais um tempo. Seguiu o seu andar gracioso até que a viu se perder numa esquina e perguntou a si mesmo o que estava acontecendo. Era uma obsessão ou realmente uma louca paixão?
Na manhã seguinte, Rebecca se despertou com um sentimento diferente, veio-lhe na memória os olhos negros inquisidores. Teve vontade de revê-lo, mas nada fez. À tarde pediu a secretária enviar ao hotel onde ele disse estar hospedado, um par de convites para a próxima apresentação que faria na Croácia.
Quando Henrique recebeu o presente, sorriu para si mesmo. Ligou para sua secretária no Brasil e pediu para providenciar as passagens e o hotel.
- Para mim e para a senhora!
A funcionária consultou a agenda do chefe. Não havia compromisso de trabalho para aquele país, mas sem muito questionar, providenciou. Muitas vezes o acompanhava em viagens de negócios. Provavelmente algum compromisso que iriam formalizar.
No dia da apresentação, da coxia, ela pôde ver o casal na primeira fila. Julgou ser, a senhora que o acompanhava, sua esposa. Ponderou que a mulher do rico empresário devesse ser uma mulher mais jovem. Sentiu uma emoção diferente. Certo ciúme ou alguma aversão?
Esperou secretamente pela visita dele no final do espetáculo, mas naquela noite ele não foi ao camarim.
Sentiu-se um tanto irritada, dispensou a entrevista que faria com uma emissora local e o jantar com o produtor.
-Quem seria aquela mulher que o acompanhava? Perguntou à sua assistente.
- Não sei senhora. Mas estava elegante e com uma bela jóia no pescoço.
Rebecca quase não dormiu naquela noite, mas atribuiu sua insônia à rotina atribulada entre ensaios e a viagem de volta para Milão.
Passaram-se duas semanas e a lembrança de Henrique perdeu um pouco da força.
Mas numa sexta-feira, seu produtor ligou bem cedo e anunciou-lhe:
- Rebecca, teremos no próximo ano uma temporada no Brasil!
Uma alegria brotou-lhe no peito, mas logo depois uma sensação de desconforto.
Soube de todos os detalhes. Espetáculo no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Um evento patrocinado por uma grande empresa. Soube, era Henrique Rocha, o dono da principal exportadora de brilhantes do país.
Pensou em recusar, mas seria briga na certa com o seu produtor, amigo e responsável por sua carreira há dez anos, desde quando iniciou-se nos palcos ainda muito jovem.
Cláudia Machado
Nota: Leia aqui no Recanto das Letras os demais capítulos para conhecer toda a história. São apenas 5. Obrigada!