HIPPIES: ORIGEM GÓTICA?
O TEMA DO MONGE MALDITO ----- Gótico, relativo aos GODOS, povo germânico, conotação de duro ou bárbaro.; desde o século XVIII, termo usado para coisas diferentes, distintas e excêntricas. ----- Subcultura gótica na 'atualidade' - urbana, Reino Unido, final da década de 70 e início dos anos 80.: estilo de vida extravagante, trajes negros, culto a corvos (na literatura e no cinema, animal de poder oculto interpretado como sinal místico de mau presságio) e cemitérios. /Nada é duradouro, toda moda passa........./
1---NOVELA GÓTICA - Surgida no período pré-romântico: mistério e sobrenatural, época sensitiva. leitura geralmente feminina - estilo influenciou grandes poetas românticos, KEATS, COLERIDGE e BYRON, mais tarde BAUDELAIRE. Na volta ao passado, renasce a arquitetura, não em prédios medievais reconstruídos, mas em ruínas desabitadas, sons estranhos, portas que rangem, ventos inesperados, luz funesta ou indecisa, objetos de martírio; junto a castelos e igrejas, túmulos e passagens estreitas que os ligam à casa principal - insegurança e suspense, fantasmas rebeldes nem sempre nobres, alguns eremitas e monges. ----- Sem real historicidade, apenas uma parte, NOVELA GÓTICA do século XVIII, fuga no tempo e no espaço. Fundamentos básicos: 1-domicílio dos Godos no Oriente (estórias gótica e germana); 2-descrição de torneios, luta, heráldica, sagração do cavaleiro; 3-atribuição do feminismo aos godos, primeiro povo a venerar a mulher, instituir monogamia e santidade no casamento, proteger o sexo frágil. ----- Manuscritos velhos, castelo como pano de fundo melancólico, sempre corredores escuros e labirintos de passagens subterrâneas; misterioso crime relacionado a amor ilícito ou incestuoso e perpetrado por alguém de ordem religiosa, geralmente vilão italiano ou espanhol que fez pacto com o diabo, que ao final o carrega para o abismo; fantasmas-bruxas-feiticeiros; estátuas sangrando... // HORACE WALPOLE, Conde de Oxford, em "O castelo de Otranto", iniciador da novela gótica na Europa - livro publicado em 1765, estória de maldição que cai sobre o usurpador do castelo, Manfred, cuja raça não será continuada; luta da jovem Isabella, prisioneira, objeto de desejo; inesperada e irreprimível paixão da única filha, Matilda, por um camponês recém-aparecido (o legítimo senhor de Otranto); no desenrolar dos inverossímeis fatos, enorme capacete aparece misteriosamente no pátio e mata o jovem Conrad, filho do usurpador, no dia e hora em que casaria com Isabella - mais tarde, uma espada cai sobre o capacete; há ainda uma estátua que chora lágrimas de sangue, retrato com vida cai da parede, esqueleto em traje negro, vozes que ecoam nos aposentos, luz que se apaga nos corredores escuros... e o final, de acordo com a maldição, Matilda morta, Manfred derrotado segue para o convento com a piedosa esposa, Hippolita, e o verdadeiro príncipe de Otranto casa com Isabella. ----- WALPOLE conjugou natural & sobrenatural, ingênuas fantasias na obra literária. Depois dele, outros melhores escritores e poetas românticos. Em "A mãe misteriosa", também desse autor, semente do monge maldito, peculiarmente vilão, maquinações que envolvem um casal inocente no segundo de dois crimes incestuosos: esse católico beneditino, o primeiro e o pior dos eclesiásticos, fantoches que viriam povoar a novela de terror. ----- BECKFORD, com "Vathek", misturou ao terror o elemento da sensualidade, levando leitor ao mundo dos sentidos - o califa Vathek, após se entediar com seus cinco palácios, é tomado de irrefreável curiosidade, faz um pacto com o Infiel Giaour, daí resultam coisas incríveis, como infanticídio, morticínios e luxúria, até queda e perdição de Vathek - novela mais bem escrita, peregrinações pelo cenário oriental iniciam o caráter picaresco nesse tipo de literatura. ----- O pacto com o diabo continua em "Melmoth the Wamderer", de MATURIN, em que Melmoth é uma mistura de Fausto, Judeu Errante e Holandês Fantasma. ----- A melhor construtora da novela gótica foi ANN RADCLIFFE em "Mistérios de Udolpho", de 1779; precursora do 'thriller', ela conclui as obras com explicação plausível para os fenômenos supostamente sobrenaturais, fazendo correlação entre natureza romântica-humanizada e personagem. A autora apenas sugere... - vileza e sensualidade, melhores características em "O italiano", 1797, são apenas um toque sobre a imaginação, pois não há cenas violentas nem sensuais, caracterização do olhar maldito já é feita no monge Schedoni, não tão destrutivo quanto um dos olhos de Vathek, colérico fulminante em quem ele mirasse. ----- Olhar marcante, estigma da maldição, já em pleno Romantismo, em Coleridge, "The ancient mariner" - velho marinheiro, corporificação de estranha força adquirida através de experiência misteriosa e sobrenatural, olhar cintilante, mantém estático o ouvinte, como após narrativa a um convidado do casamento e este nunca mais será o mesmo. ----- O erotismo na França e a violência atroz e minuciosa na Alemanha continuam na trilha de WALPOLE... daí surge o MONGE MALDITO, figura que aparece na Inglaterra e na Alemanha como produto de longa idealização nacionalista. Com a coroação de Carlos Magno por Leão III, ano de 800, ideia entre os germanos de "Translatio imperil ad Teutonics", crença de imperador bárbaro como sucessor do grande império, muitos séculos depois a Reforma adotou essa crença no sentido de opor pureza e honradez do germano à baixeza, concupiscência e maus princípios dos Papas latinos - os germanos se declarariam herdeiros da antiguidade clássica, citados pelo historiador romano Tácito, vangloriados de possuir as virtudes neles encontradas: fé, honra, simplicidade e candura germanas. ----- Alemanha, refúgio de jesuítas e sociedades secretas, alquimia e magia constantes, novela gótica extravasando seu anticlericalismo virulento de maneira bastante política e perpassada de cenas de carnificina e maquinações abomináveis. ----- Inglaterra, berço do romance de terror, estabilidade política, ideal nacionalista ainda é o período elisabetano, perseguições políticas sem suplícios, inexistente a Inquisição - já então a Revolução Industrial, não a política, apenas na imaginação temas de corrupção-violência-sobrenatural. ----- Nos países católicos, Inquisição e perseguição política alastram o terror faccioso. ----- GREGORY MATHEWS LEWIS baseou "O monge" num conto alemão e já se unem os dois temas do pacto com o diabo e da freira espectral - o monge maquiavélico Ambrósio, sensual e diabólico, a vingança inesgotável, o espectro da freira ensanguentada e iniquidades como manter jovem que engravidou numa prisão subterrânea. ----- Esse monge deixou marca no romance português e europeu em geral, de suas maquinações, desejos impuros e corrupção que a lembrança da Inquisição fortaleceu, viram caminhos que trouxeram "O monge de Císter", de HERCULANO, "A freira do subterrâneo", de CAMILO, e "As minas de prata", de ALENCAR. ----- O primeiro monge, junto com o califa Vathek, habitou a mente do grande rebelde romântico: mito que tomou o mundo, como Childe Harold, D Juan e Manfred, plenos dos aspectos góticos sensuais, grotescos, vis, zombeteiros, através da fina ironia inglesa - melhor que qualquer novela gótica, LORD BYRON, influenciador dos grandes escritores da época na criação do terror e do monge maldito.
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LEIAM meus trabalhos "Aristocracia fantástica" e "Repito o que me contaram".
(Segue.)