'E AGORA, DRUMMOND?" - PARTE IV
O ensaísta, cronista, professor e músico WISNIK visitou Itabira, cidadezinha no Quadrilátero Ferrífero, e pôde entender a relação da poesia de DRUMMMOND com a mineração local. Pedra? Que pedra? Nem no início nem no meio do caminho: as pedras simplesmente acabaram de acabar... O Pico do Saruê, tadinho, de onde saiu tanta "pedra de ferro, futuro aço do Brasil", como dissera CARLOS, é hoje uma cavadíssima cratera lunar após décadas de mineração. Ah, muitas aulas de JOSÉ MIGUEL, na USP, sobre a poesia drummondiana... Nada das paisagens de infância: o sino da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário emudeceu em 1970, parou no tempo, só permanece eternizado no poema "Anoitecer" (WISNIK musicou), no livro "A rosa do povo", 1945. A Fazenda do Pontal, bons tempos, virou depósito de rejeitos da mineradora Vale S. A. - casa-sede preservada, mas mudou-se para o alto do morro, milagre de engenharia. Sobrou o casarão dos Andrade, no centro, janelas voltadas para a saudade do Pico dilapidado. Impossível pré-imaginar: bom, não apenas morros escavados e sim devastação, destruição total aos olhos de WISNIK - paisagem da cidadezinha antiga era a simbologia da lírica de DRUMMOND, poemas ao longo da vida do tímido mineiro, prosa de ficção e crônicas jornalísticas denunciando as consequências desastrosas iniciadas em 1942. O "garimpo" de WISNYK gerou a obra "Maquinação do Mundo: Drummond e a mineração", penetração no reino de CARLOS (promessa governamental de progresso?) para tentar entender os descaminhos... Enfrentamento espantoso entre o maior poeta brasileiro e os 'fazedores de buraco', nova interpretação do enigmático poema "A máquina do mundo". O Pico do Cauê mostrado pela primeira vez no poema "Itabira", livro de estreia "Alguma poesia", 1930. Itabiranos donos? Não. Logo ao início do século, 1911, já ingleses e americanos haviam corrido para comprarem (diz-se popularmente "a preço de banana") as terras de pequenos proprietários para explorar jazidas de ferro; ao final do poema, suspeita de que a extração do minério, ao contrário, não enriqueceria a cidadezinha; como bom mineiro, desconfiar da derrota... O governo autorizou. Dilema do desenvolvimento brasileiro, discussão de três décadas: exportar matéria-prima ou consolidar a indústria nacional? Intelectuais da esquerda, políticos e engenheiros nacionalistas tentaram livrar o Pico do Cauê da gula estrangeira e desenvolver um projeto de siderurgia nacional. Poema "Confidência do Itabirano", publicado em julho/1939, rememorando pedras trazidas de Minas, "pedra de aço, futuro do Brasil" - seria uma tomada da posição do poeta em favor da siderurgia nacional. Poema escrito numa situação política emergencial., aspecto programático e ufanista, aposta que perdeu vigência. Em agosto/1939, rompimento do compromisso estatal com a Itabira Iron Ore Company; em 1942, Vargas criou a Companhia Vale do Rio Doce, para extrair o minério itabirano: exportação para os aliados do Brasil na II GM - a seguir, indústria do aço implantada em Volta Redonda e Barra Mansa, sul fluminense, a sede da Vale ficou no Rio. No livro "Menino antigo", 1973, segundo volume de "Boitempo", um dos últimos poemas mineradores, "A montanha pulverizada", autobiografia poética do itabirano: o eu lírico vai à sacada e não encontra mais a serra, que acaba "britada em bilhões de lascas / deslizando em correia transportadora / entupindo 150 vagões / no trem-monstro de 5 locomotivas". O saudosista já vira tal pesadelo bem antes, em 1948, sobrevoando a região num táxi aéreo, e do alto contemplou a devastação do Pico: promessas de progresso, modernidade ausente, catástrofe! No ano seguinte, desafio filosófico de DRUMMOND no poema "A máquina do mundo", referência a uma passagem de "Lusíadas", de Camões, totalidade do universo revelada aos navegadores portugueses - a 'máquina do mundo', domínio técnico que controla e destrói tudo o que existe no mundo contemporâneo: no poema, o eu lírico recusa a máquina e denuncia /pedradas inúteis/ a modernização catastrófica trazida pela mineração. Em novembro/1970, peça publicitária da Vale, agressiva e debochada: "Há uma pedra no caminho do desenvolvimento /que desenvolvimento?/ (...) transformar pedras em lucros /que lucros?/ para a nação". DRUMMOND guardou o recorte no arquivo pessoal, mais uma prenda de Itabira.
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Fotos na reportagem - Itabira na época de 1930 e homens extraindo hematita do Pico do Saruê.
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NOTA DO AUTOR:
HEMATITA - óxido de ferro de ocorrência frequente em solos e rochas; principal mineral-minério de ferro, de cor cinza ou preta, forte brilho metálico e traço vermelho. Pedra de proteção que dissipa negatividades e evita que forças negativas atinjam nosso campo de energia pessoal (aura). Suas vibrações equilibram as energias Yin e Yang do nosso corpo. Energize a pedra, que é de aterramento, 4 horas ao sol. Ajuda nos problemas circulatórios, renais, da coluna vertebral e cãibras; estimula a absorção de ferro e formação de glóbulos vermelhos; combate timidez, ansiedade e insônia; desenvolve habilidades psíquicas. Use na forma de joia ou carregue na mochila; sendo de tamanho maior, coloque em lugar fixo no centro da casa.
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FONTE:
"No meio do caminho não tinha pedra nenhuma", reportagem de JOSÉ MIGUEL WISNIK - Rio, revista Época, 2019.
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