"E AGORA, DRUMMOND?" - PARTE III
1---"A rosa do povo" /esperança e otimismo/ acentua a participação da poeta, com a procura de companhia para a idade madura que se aproxima velozmente - como homenagem aos 70 anos de publicação, 31 de outubro, o diretor teatral ADERBAL FREIRE FILHO e o ator NELSON XAVIER lerão poemas do livro; ao longo do dia, no MIS, eventos ligados à obra, como vídeos com leituras pelo poeta ANTÔNIO CÍCERO e ações educativas. --- Neste livro, tomada de consciência política em favor dos que sofrem as grandes injustiças sociais, acentuadas em face da II GM, poemas como "Carta a Stalingrado" e "Com o russo em Berlim" inspirados diretamente em episódios de guerra, poeta exprimindo sua esperança na vitória dos ideais que o aliados encarnavam. Não abandonou sua obstinada busca de expressão de si mesmo, para ele luta diária e pertinaz com as palavras, na tentativa de romper através da poesia a solidão de sua natureza interior, feita de timidez, herança de Minas, e de obstinada fidelidade ao seu destino de poeta, fidelidade que fez dele um padrão de integridade intelectual. Ao longo da vida, a aventura de se comunicar com seus semelhantes através da poesia. Neste livro, poeta procura equilibrar e fundir artisticamente duas tendências que o preocupam numa época de grandes conflitos: o ajustamento entre a consciência política do homem e a arte do poeta.
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2---Em 2015, 70 anos do livro "A rosa do povo" de DRUMMOND, ponto altíssimo de sua obra, espécie de livro-mundo que vai da flor (nascendo no asfalto carioca) e da náusea às frentes da luta antifascista na Europa (II GM), sem deixar de lado as mais fundas lembranças de Minas Gerais e da Itabira natal. Paradoxo poético: no famoso poema "Procura da poesia", recomenda que não se façam versos sobre acontecimentos, sentimentos pessoais, a cidade onde se vive, a vida em sociedade ou a longínqua infância; o que diz para não se fazer, ele faz - fala dos fatos cruciais no front, do cotidiano urbano, de pungentes sentimentos, da vidinha do interior, da vida coletiva e da memória. A diferença é que tudo é passado pelo crivo do "reino das palavras" e fora do campo das respostas prontas. --- O famigerado 'poema da pedra', bem anterior a 1945, na fala do poeta dividiu o Brasil na categoria mental dos que suportam e a dos que não suportam o mundo como problema que não se presta à simplificação, dos que aguentam bem ou o mal o espanto da enormidade da vida e da morte e daqueles que se agarram a soluções genéricas contra quem se desviam, a daqueles que encaram os vieses do próprio desejo e a dos que se escondem deles perseguindo os outros; e levam mais para o terreno de "A rosa do povo" os comprometidos com a vida comunal e os que se limitam a exigir a manutenção dos próprios privilégios. --- Universidade de Princeton, encontro literário sobre DRUMMOND. Falarei /WISNIK/ aqui sobre coluna escrita em julho/2014, minha primeira vez em Itabira. Força da visão do Pico do Cauê (pico de Itabira, 'pedra que brilha') para o "menino antigo", poeta que o via em frente às janelas de casa no centro da cidade: "pedra luzente / pedra pontuda / pedra falante / pedra pesante / por toda a vida" - casa ao lado da Igreja do Rosário, portentoso sino: "som para ser ouvido no longilonge / do tempo da vida". Pico e sino muito próximos da casa e muito poderosos, de encher vida e ouvidos. --- Pois não existem mais, Pico é hoje cratera lunar (70 anos de avassaladora escavação para fins metalúrgicos) e sino caiu com a igreja por causa dos tremores da dinamite que explodira a montanha. --- Sobre "A rosa do povo", óbvio de informação histórica: exploração em escala industrial do minério de ferro do Pico ocorreu após criação da Companhia do Vale do Rio Doce, 1942, para atender às demandas da entrada do Brasil na II GM - no primeiro momento o ferro do Pico do Cauê alimentou a indústria bélica americana: "o sono rancoroso dos minérios" foi acordado para ir à guerra. --- DRUMMOND escrevendo o livro e a Estrada de Ferro Vitória a Minas sendo construída para conduzir a montanha ao porto, ao mar. Não relações explícitas nessa atmosfera no livro, mas sob latência que, de maneira perturbadora, os mundos estão todos ligados e Itabira é de certa forma o mundo. --- Depois da guerra, operação extrativa para alimentar o mercado mundial do aço, máquina mineradora fazendo desaparecer o Pico. --- Poema "A máquina do mundo" - livro de 1951, essa nova escala acontecendo: "Grande Máquina", os dispositivos de controle exploração tecnológica do mundo, marca metafísica e totalizante da poesia, colhida na epopeia de Camóes. Como na fita de Moebius, a 'máquina do mundo' oferece aos olhos do poeta a revelação de todos os enigmas fustigada pela lembrança de Minas, mas o grande desconfiado mineiro percebe que ela se tornou ao mesmo tempo a 'grande máquina' controladora e publicitária de si mesma: ele a recusa.
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FONTES:
Recorte não identificado --- "Itabira vai à guerra", coluna de JOSÉ MIGUEL WISNIK - Rio, jornal O Globo, 18/4/15.
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