O CENTURIÃO DOURADO
O Imperador no topo do altar central erguido no gramado azul-petróleo do Stadium Intergaláctico mirava a multidão com seus olhos faiscantes.
Era intenso o brilho verde-oliva da sua armadura encantada trabalhada em titânio, e que graças aos seus conhecimentos dos mistérios da alta magia, se transformava em uma capa de invisibilidade bastando apenas que ele piscasse seus olhos faiscantes alternadamente por três vezes, começando com o olho esquerdo.
Ele sabia que o Centurião Dourado era o único que conhecia o segredo da sua invisibilidade que lhe havia sido bastante útil permitindo-lhe infiltrar-se entre os robôs guerreiros, conhecer seus planos secretos, e as suas estratégias de batalha, isso até que o Centurião Dourado descobrisse uma forma de neutralizar o feitiço.
Quando o Imperador repeliu um ataque dos guerreiros que havia sido planejado em status ultra secreto e que não tinha como dar errado mas não havia dado certo, ficou evidente que algo estranho havia acontecido.
Então o Centurião Dourado criou um sonar de presença que captava inclusive imagens holográficas em todas as dimensões e não se espantou quando identificou nelas a figura do Imperador.
Após muitas tentativas finalmente o Centurião conseguiu descobrir como quebrar aquele encanto de invisibilidade. Num raciocínio de silogismo cósmico pautado na evidência lógica ele encontrou o fio da meada que desmontava o feitiço do seu maior rival.
E como que para comprovar que a solução de coisas difíceis por vezes são resolvidas no âmbito da simplicidade, bastava ao Centurião piscar seus olhos três vezes de forma alternada, começando com o olho oposto ao que o Imperador usava para dar start no feitiço, para fechar o circuito mágico e interromper a eficácia do encanto.
A chave do mistério era simplesmente o piscar de olhos em uma sequencia lógica; esquerdo - direito - esquerdo – direito – esquerdo – direito.
O Imperador não lidava bem com as contrariedades mas era um bom encantador de androides que se rendiam à sua oratória retórica e populista, ele era muito bom em enrolar pessoas e fazer e conservar amigos que rezavam o mantra da sua cartilha ideológica de uma forma cega e radical.
Nas audições semanais com os Arautos de Cristal, que tinha como único motivo vender o peixe dourado dos seus desvarios, as perguntas e respostas seguiam um roteiro pré estabelecido.
Tudo era ensaiado meticulosamente, sorrisos, gestos, caras e bocas. No entanto a pergunta que abalou o alicerce do Pilar Interestelar que sustentava os andaimes do Portal dos Vulgares Preconceitos e ecoou pelo estádio silencioso, fora feita pelo Centurião Dourado que trajava sua armadura de gala feita com fibra de Aço Carbono 12, e trazia na mão direita um candelabro de néon.
O Imperador e o Centurião pertenciam a Confraria dos Bruxos Intergalácticos e a rivalidade entre eles vinha de longa data, começara na Central de Incubadoras Celestiais e estendera-se até a Universidade de Mistérios e Bruxarias onde no curso de mestrado ambos defenderam tese sobre Mistérios Quânticos Pós Modernos em Contraponto à Bruxaria Tradicional de Alquimia.
Os ouvidos mais apurados identificaram um leve tremor na voz firme do Imperador que dirigindo-se ao Centurião disse: - O senhor teria a gentileza e a coragem de repetir a pergunta?
No fundo todos sabiam que a paz das galáxias dependeria apenas e exclusivamente da decisão do Centurião Dourado, o Imperador fingindo estar firme e forte deixava mesmo a contra gosto transparecer preocupação com o risco iminente.
Para espanto do Imperador e da enorme multidão o Centurião Dourado em alto e bom som repetiu a pergunta que poderia fazer explodir a revolução estelar culminando com a queda do império.
Começaria o caos!
AC De Paula
#poetaacdepaula