Estranho

O que você quer de mim? – Matheus perguntou, cruzando as pernas e ficando quase em posição meditativa, sobre a cama.

Nath tragou profundamente seu cigarro e soltou a fumaça para cima, com os olhos cravados no teto.

Os dois ficaram calados por quase um minuto, mas ela quebrou o silêncio.

Nath baixou o volume da música no computador deixando-a quase inaudível, e respondeu.

- É pra eu ser sincera?

- Por favor.

- Eu quero o seu pau.

- Só isso? – Ele perguntou num tom quase espantado.

- Ah. Ele não é tão pequeno assim... – Ela respondeu com um risinho.

- Não é isso... Você só quer meu pau?

- É. Ultimamente é a única coisa que tem me agradado nos homens.

- Isso não meio que um tipo de objetificação?

- Você acha?

- Ora. Se um homem chegasse pra te dizer que só se interessa em mulheres pela buceta. Você não acharia que ele era um misógino?

- Talvez. Depende do contexto.

- Pra mim é a mesma coisa.

- Oh, alecrim dourado... você realmente acha que é a mesma coisa?

- Acho.

- Eu não consigo nem ficar com raiva de você nesse ponto, por que eu acho que você é um cara bem inocente. Mas por falta de vivência mesmo.

- Não vou dizer que vivi o mesmo tanto que você. Realmente eu tive poucas vivências em relacionamentos, mas eu acho que posso ter uma boa opinião sobre isso.

Nath ficou um tempo, olhando enquanto ele argumentava. Ficou com o olhar perdido no rosto dele. E naquela forma tão sincera de se expressar.

- Tá certo, meu bem. Posso te dizer que no teu caso, não estou te objetificando.

- Ah. Não to querendo fazer um drama, é que nunca uma mulher disse que só estava interessada no meu pau. Em geral é a última coisa que se interessam em mim. E quando se interessam...

Nath deu uma risada e deu a última tragada do cigarro.

Se levantou da cama e dobrou as costas, se alongando, quase como se fosse uma cobra.

- Matheus meu bem. Talvez a melhor coisa sobre você é que tu é um cara esforçado. Você se investe nas coisas... real oficial. Esse tipo de entusiasmo é corajoso. É Quente... sei lá. Apesar de que eu não quero brincar com coisas mais sérias.

Matheus ficou ruminando as palavras dela e pensou em acender um cigarro. Mesmo que não tivesse o habito de fumar.

- Sendo assim eu acho que não estou mais ofendido. Acho que tô até lisonjeado.

- É pra se sentir mesmo. Por que a maioria dos homens são uns bostas.

- Acho que todos estamos contaminados. O mundo tem sido um lugar muito tóxico pra quem realmente se preocupa. E ai eu acho que as pessoas começaram a ser escrotas e fingir demência pra o que realmente importa.

- É isso... ela disse com um suspiro.

- Isso o que?

- é por isso que eu tenho medo quando te vejo...

- Medo?

- Sim... Medo de querer brincar com coisa séria.

Matheus sorriu.

Coincidentemente, pode ouvir os versos da música baixinha, vindo do computador.

“Ainda há fogo em mim, queria sempre assim”

Matheus aumentou o volume da música e sorriu.

- Bom saber, então.

Nath acendeu mais um cigarro, tragou e passou pra Matheus,

como se soubesse que ele estava com vontade.

e era por esse tipo de coisa que ele se via querendo estar do lado dela. E talvez por isso que se sentia a cada dia mais estranho em si mesmo.

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 10/11/2019
Reeditado em 11/11/2019
Código do texto: T6791909
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