Um sujeito certo
Clóvis foi uma criança alegre. Motivos não tinha, o pai, alcoólatra, dava muito trabalho para sua mãe, uma professora primária, funcionária da prefeitura que à noite costurava fantasias para a escola de samba. Era uma forma que ela tinha de amealhar uns trocados para pagar as contas na venda e no bar, onde o marido comprava fiado, sabendo que Iolanda iria quitar.
O garoto cresceu frequentando as quadras da escola do coração de seu avô, puxador de samba e seu maior exemplo de figura paterna, já que era ele que o ensinara os primeiros passos de um sambista até o jeito certo de lidar com uma dama.
Clóvis se tornou professor de dança de salão. Era algo que fazia com prazer mas, o que lhe rendia no final do mês, não dava nem para pagar a conta da mercearia.
Viu um anúncio no jornal e foi trabalhar de balconista na Pastelaria do Bartô, onde acabou por fazer amizade com a freguesia. Sua habilidade em comunicar-se, seu traquejo com as meninas e principalmente sua facilidade na pista de dança, renderam-lhe um convite: Trabalhar na gafieira que funcionava no andar de cima. Clóvis aceitou o novo emprego e viu alí uma maneira de aumentar sua renda, fazendo exatamente aquilo que mais gostava.
Pediu à mãe para preparar-lhe uma fantasia. Um termo branco estilo Zé Carioca, chapéu e uma flor vermelha na lapela. Alí estava ele, defronte o espelho, ensaiando sorrisos que combinariam com os belos olhos verdes.
Mas Clóvis não era o que parecia. Bebia somente em trabalho e só as doses que as mulheres lhe ofereciam. Não queria repetir o exemplo de seu pai. O que ele bebia era bem pouco, somente uma maneira de estreitar os laços com as futuras alunas das aulas de gafieira, que alí naquele espaço ele ministrava durante o dia, em escapadas combinadas com o dono da pastelaria.
Há uns anos atrás conheceu Lucimar, uma manicure da vizinhança. Tiveram um filho que agora completava cinco aninhos. Não se casaram, mas dividiam um quarto num sobrado perto da quadra, para onde Clóvis voltava, quase de manhãzinha, levando o pão e o leite para a família que ele amava e que um dia, era seu sonho, seria melhor acomodada numa casinha que ele esperava comprar para viverem com o avô já doente e a sua querida mãezinha.
Cláudia Machado
Nota: História do personagem do conto Um Certo Sujeito, que nasceu da canção que escrevi em parceria com Germano Ribeiro (vide em Áudios).
Clóvis foi uma criança alegre. Motivos não tinha, o pai, alcoólatra, dava muito trabalho para sua mãe, uma professora primária, funcionária da prefeitura que à noite costurava fantasias para a escola de samba. Era uma forma que ela tinha de amealhar uns trocados para pagar as contas na venda e no bar, onde o marido comprava fiado, sabendo que Iolanda iria quitar.
O garoto cresceu frequentando as quadras da escola do coração de seu avô, puxador de samba e seu maior exemplo de figura paterna, já que era ele que o ensinara os primeiros passos de um sambista até o jeito certo de lidar com uma dama.
Clóvis se tornou professor de dança de salão. Era algo que fazia com prazer mas, o que lhe rendia no final do mês, não dava nem para pagar a conta da mercearia.
Viu um anúncio no jornal e foi trabalhar de balconista na Pastelaria do Bartô, onde acabou por fazer amizade com a freguesia. Sua habilidade em comunicar-se, seu traquejo com as meninas e principalmente sua facilidade na pista de dança, renderam-lhe um convite: Trabalhar na gafieira que funcionava no andar de cima. Clóvis aceitou o novo emprego e viu alí uma maneira de aumentar sua renda, fazendo exatamente aquilo que mais gostava.
Pediu à mãe para preparar-lhe uma fantasia. Um termo branco estilo Zé Carioca, chapéu e uma flor vermelha na lapela. Alí estava ele, defronte o espelho, ensaiando sorrisos que combinariam com os belos olhos verdes.
Mas Clóvis não era o que parecia. Bebia somente em trabalho e só as doses que as mulheres lhe ofereciam. Não queria repetir o exemplo de seu pai. O que ele bebia era bem pouco, somente uma maneira de estreitar os laços com as futuras alunas das aulas de gafieira, que alí naquele espaço ele ministrava durante o dia, em escapadas combinadas com o dono da pastelaria.
Há uns anos atrás conheceu Lucimar, uma manicure da vizinhança. Tiveram um filho que agora completava cinco aninhos. Não se casaram, mas dividiam um quarto num sobrado perto da quadra, para onde Clóvis voltava, quase de manhãzinha, levando o pão e o leite para a família que ele amava e que um dia, era seu sonho, seria melhor acomodada numa casinha que ele esperava comprar para viverem com o avô já doente e a sua querida mãezinha.
Cláudia Machado
Nota: História do personagem do conto Um Certo Sujeito, que nasceu da canção que escrevi em parceria com Germano Ribeiro (vide em Áudios).