O caso de Hortência (personagem de Reconciliação-O Conto)
Hortência era a caçula de uma família de doze filhos. Seus pais, fazendeiros nas cercanias de Trás dos Montes, vieram na fase avançada da vida, para a cidade onde poderiam tratar a doença crônica que a mãe de Hortência contraíra ainda moça. O filho mais velho tocava a fazenda, os outros saíram para estudar e não mais voltaram a viver alí. Hortência era uma mocinha ainda e ficou incumbida de cuidar dos pais e da avó, que moribunda, exigia os cuidados especiais da netinha.
O tempo passou e seus pais se foram também. Uma tia idosa veio morar com Hortência, que gentilmente cuidava da senhora, irmã mais nova de sua mãe.
Na mocidade, Hortência era uma mulher que despertava a atenção. Sempre amável e sorridente, não negava ajuda e estava sempre a cantar. Perto de completar vinte cinco anos, a moça que mal podia ter amizades, afinal era ela que cuidava da velha senhora, se via numa sina sem saída e um dia decidiu se cuidar. Sua única amiga, Morgana, que viajava com frequência para o exterior lhe ofereceu um belo chapéu e luvas que não usava mais. A moça agradou tanto que pediu-lhe uns vestidos também.
Dalí pra frente, a moça sorridente também era elegante e atualizada, começou a ensinar bordados e suas economias ela gastava em magazines, batons e perfumes. Vez ou outra comprava uma fazenda nova, como se chamavam naquela época, os tecidos para costurar. Ela mesma preparava suas roupas, com o mesmo capricho que dedicava às tarefas no lar.
Numa tarde ensolarada, Hortência conheceu Dr. Romualdo, advogado recém-chegado de São Paulo para atuar na Casa de Penhor da pequena cidade. O rapaz a viu pela primeira vez ao sairem da confeitaria onde tomavam chá e se aproximou. A moça que não havia muita habilidade com o sexo masculino, se deixou levar pelo papo macio e galante daquele homem, que se dizia encantado com sua beleza, ímpar naquele lugar.
Após um papo descontraído, passaram a se encontrar furtivamente nos dias seguintes. Depois eram vistos às tardinhas sentados na pracinha para um sorvete, ou então comendo pipocas. Tornaram-se clientes pontuais do senhor do realejo, onde se divertiam com as mensagens entregues por um periquito. O romance foi se solidificando e um dia Romualdo lhe trouxe um anel. A moça ficou deslumbrada quando ele lhe chamou de "minha noivinha". Por semanas, Hortência lhe questionou para um encontro com titia, afim de apresentar-lhe e formalizar o pedido de casamento. Romualdo desconversava e prometia sempre uma visita para a próxima semana.
Embora o adiamento constante da visita do noivo à tia, os carinhos de Romualdo eram tão envolventes que a moça foi relevando. O anel era um sinal de compromisso e ela via isso tudo como modos modernos que a cada dia a fazia se sentir mais parecida com as mulheres dos magazines que folheava.
Um dia Romualdo a convidou para conhecer seu escritório na Casa de Penhor, era sábado e não havia expediente. Ele tinha as chaves pois usava o escritório para outros trabalhos particulares.
A moça se sentiu tão importante... Aceitou.
O edifício, em estilo rococó, tinha vitrais coloridos e móveis de jacarandá escurecido, torneados e elegantes, como ela nunca vira antes.
Aproveitando o isolamento dos dois, o homem foi intensificando os elogios, e se aproximando mais da amada até que lhe deu um caloroso beijo. Hortência nunca havia sido beijada como desta vez e sentiu todo o apelo do seu corpo por um contato ainda mais íntimo e, foi então que o rapaz a fez uma mulher, alí mesmo, em uma mesa de mármore rosado, de fria beleza.
Hortência logo se recobrou de seu momento de loucura, se recompôs assustada e arrependida, afinal nunca imaginou conhecer um homem e ainda mais nestas condições. A habilidade de Romualdo para manipular era muito desenvolvida e nos próximos meses eles voltaram a se encontram na Casa de Penhor.
Certa vez, Morgana chegou esbaforida na casa da amiga. Estava perplexa com uma informação que ouvira sem querer de seu pai. Ele, ao telefone, comentava com o gerente da instituição financeira que o advogado havia apresentado-lhe a um grupo em São Paulo, cujos negócios eram de interesse de ambos. O sogro do advogado era político influente na capital paulista.
- Sogro? O cafajeste é casado? Debulhando em lágrimas Hortência e a amiga seguiram para a Casa de Penhor. Chegando lá souberam da partida de Romualdo para São Paulo, no dia anterior.
- Questões de família, alguém doente em casa, Srta. Hortência! Informou o funcionário do outro lado do balcão.
Hortência retirou do dedo a jóia de compromisso e pediu a avaliação. Descobriu que a pedra era falsa mas pelo ouro poderia retirar algum valor.
Saiu dalí revoltada, com alguns trocados que deixou na Roda dos Expostos, onde as irmãs cuidavam das crianças enjeitadas.
Seguiram-se dias de muita tristeza, mas Hortência lutou para não deixar-se abater. Afinal era uma mulher moderna e, não se deixaria mais iludir por nenhum forasteiro.
Com ajuda de Morgana, montou seu ateliê de costura e bordado. Cuidou da tia até sua morte e dalí para frente foi a costureira mais elegante da cidade, embora algumas poucas senhoras fuxiqueiras evitassem ainda entregar-lhe suas fazendas por a acharem moderna demais.
Hortência era a caçula de uma família de doze filhos. Seus pais, fazendeiros nas cercanias de Trás dos Montes, vieram na fase avançada da vida, para a cidade onde poderiam tratar a doença crônica que a mãe de Hortência contraíra ainda moça. O filho mais velho tocava a fazenda, os outros saíram para estudar e não mais voltaram a viver alí. Hortência era uma mocinha ainda e ficou incumbida de cuidar dos pais e da avó, que moribunda, exigia os cuidados especiais da netinha.
O tempo passou e seus pais se foram também. Uma tia idosa veio morar com Hortência, que gentilmente cuidava da senhora, irmã mais nova de sua mãe.
Na mocidade, Hortência era uma mulher que despertava a atenção. Sempre amável e sorridente, não negava ajuda e estava sempre a cantar. Perto de completar vinte cinco anos, a moça que mal podia ter amizades, afinal era ela que cuidava da velha senhora, se via numa sina sem saída e um dia decidiu se cuidar. Sua única amiga, Morgana, que viajava com frequência para o exterior lhe ofereceu um belo chapéu e luvas que não usava mais. A moça agradou tanto que pediu-lhe uns vestidos também.
Dalí pra frente, a moça sorridente também era elegante e atualizada, começou a ensinar bordados e suas economias ela gastava em magazines, batons e perfumes. Vez ou outra comprava uma fazenda nova, como se chamavam naquela época, os tecidos para costurar. Ela mesma preparava suas roupas, com o mesmo capricho que dedicava às tarefas no lar.
Numa tarde ensolarada, Hortência conheceu Dr. Romualdo, advogado recém-chegado de São Paulo para atuar na Casa de Penhor da pequena cidade. O rapaz a viu pela primeira vez ao sairem da confeitaria onde tomavam chá e se aproximou. A moça que não havia muita habilidade com o sexo masculino, se deixou levar pelo papo macio e galante daquele homem, que se dizia encantado com sua beleza, ímpar naquele lugar.
Após um papo descontraído, passaram a se encontrar furtivamente nos dias seguintes. Depois eram vistos às tardinhas sentados na pracinha para um sorvete, ou então comendo pipocas. Tornaram-se clientes pontuais do senhor do realejo, onde se divertiam com as mensagens entregues por um periquito. O romance foi se solidificando e um dia Romualdo lhe trouxe um anel. A moça ficou deslumbrada quando ele lhe chamou de "minha noivinha". Por semanas, Hortência lhe questionou para um encontro com titia, afim de apresentar-lhe e formalizar o pedido de casamento. Romualdo desconversava e prometia sempre uma visita para a próxima semana.
Embora o adiamento constante da visita do noivo à tia, os carinhos de Romualdo eram tão envolventes que a moça foi relevando. O anel era um sinal de compromisso e ela via isso tudo como modos modernos que a cada dia a fazia se sentir mais parecida com as mulheres dos magazines que folheava.
Um dia Romualdo a convidou para conhecer seu escritório na Casa de Penhor, era sábado e não havia expediente. Ele tinha as chaves pois usava o escritório para outros trabalhos particulares.
A moça se sentiu tão importante... Aceitou.
O edifício, em estilo rococó, tinha vitrais coloridos e móveis de jacarandá escurecido, torneados e elegantes, como ela nunca vira antes.
Aproveitando o isolamento dos dois, o homem foi intensificando os elogios, e se aproximando mais da amada até que lhe deu um caloroso beijo. Hortência nunca havia sido beijada como desta vez e sentiu todo o apelo do seu corpo por um contato ainda mais íntimo e, foi então que o rapaz a fez uma mulher, alí mesmo, em uma mesa de mármore rosado, de fria beleza.
Hortência logo se recobrou de seu momento de loucura, se recompôs assustada e arrependida, afinal nunca imaginou conhecer um homem e ainda mais nestas condições. A habilidade de Romualdo para manipular era muito desenvolvida e nos próximos meses eles voltaram a se encontram na Casa de Penhor.
Certa vez, Morgana chegou esbaforida na casa da amiga. Estava perplexa com uma informação que ouvira sem querer de seu pai. Ele, ao telefone, comentava com o gerente da instituição financeira que o advogado havia apresentado-lhe a um grupo em São Paulo, cujos negócios eram de interesse de ambos. O sogro do advogado era político influente na capital paulista.
- Sogro? O cafajeste é casado? Debulhando em lágrimas Hortência e a amiga seguiram para a Casa de Penhor. Chegando lá souberam da partida de Romualdo para São Paulo, no dia anterior.
- Questões de família, alguém doente em casa, Srta. Hortência! Informou o funcionário do outro lado do balcão.
Hortência retirou do dedo a jóia de compromisso e pediu a avaliação. Descobriu que a pedra era falsa mas pelo ouro poderia retirar algum valor.
Saiu dalí revoltada, com alguns trocados que deixou na Roda dos Expostos, onde as irmãs cuidavam das crianças enjeitadas.
Seguiram-se dias de muita tristeza, mas Hortência lutou para não deixar-se abater. Afinal era uma mulher moderna e, não se deixaria mais iludir por nenhum forasteiro.
Com ajuda de Morgana, montou seu ateliê de costura e bordado. Cuidou da tia até sua morte e dalí para frente foi a costureira mais elegante da cidade, embora algumas poucas senhoras fuxiqueiras evitassem ainda entregar-lhe suas fazendas por a acharem moderna demais.