CBH - MISCELÂNIA - PARTE IV

RECORTE de 2014 - "O artista em 24 tempos", de LEONARDO LICHOTE - O essencial da carreira de CHICO BUARQUE em discos, livros, espetáculos musicais e filmes. DETALHES --- 1966, garoto de 22 anos, olhos claros, país arrebatado com marcha singela de uma banda que passa e "canta coisas de amor" - "A banda" venceu (empatada com "Disparada") o II Festival de MPB, tornando-o conhecido instantaneamente; a música vendeu 100 mil cópias em uma semana, elogiada por DRUMMOND numa crônica e ganhou versões em diversas línguas - o primeiro disco traz a famosa capa em que alterna estados de humor e virou meme na Internet - foto sorridente, foto sério; músicas tratando a alegria do samba como assunto sério e abordavam a seriedade. letras densas, com prazer: crônica urbana bem humorada de "Juca" e "Rita", lirismo melancólico de "Olê olá" e "Sonho de um carnaval",~e preocupação social de "Pedro pedreiro". --- 1968, escrita por CHICO, dirigida por JOSÉ CELSO MARTINEZ CORRÊA, a combativa peça "Roda viva" teve uma boa temporada no Rio - montagem polêmica, trilha - canção-título - nasceu clássica, mas a montagem em Sampa entrou para a História na intensificação das prisões no país que desembocariam no AI-5: em julho, grupo de direita depredou o cenário e espancou artistas; pelo organizado ato de resistência CBH começa a romper a imagem de bom moço. --- 1971, depois de trilogia inicial, com o mesmo espírito, "Volume 4", álbum de transição, produção confusa pelo autoexílio na Itália, onde apresentou "Construção" - maduro em todos os sentidos (letras, melodias, engenharia das canções), um novo CHICO em caixas como "Construção" e "Cotidiano", trabalho eminentemente político, marcado pela angústia dos anos de chumbo. --- 1972, Tropicália de CAETANO VELOSO e CHICO BUARQUE, representantes de linhas antagônicas, distância menor em 1972, canções dialogadas no palco do Teatro Castro Alves, Salvador, "Partido alto", na voz do baiano, e a junção de "Você não entende nada" e "Cotidiano", do carioca. --- CACÁ DIEGUES o convidou para compor a trilha de "Quando o carnaval chegar", mas se tornou um dos atores do filme, ao lado das personagens de MARIA BETHÂNIA e NARA LEÃO, trupe de cantores que leva música, alegria e drama onde vão - canções como "Caçada" e "Formosa", trilha e filme são uma defesa da arte, ambiente do artista na estrada ou na rua, desenhado na canção "Mambembe". --- 1973, escrita por CHICO e RUY GUERRA, "Calabar -o elogio da traição", a partir da história de Calabar, que no Brasil Colonial se aliou aos holandeses contra Portugal; texto aprovado pela Censura, montagem 9uma das mais caras da época) pronta, censores assistiram ensaio, estreia adiada, falência da produção, formalmente proibida, assim como a palavra "Calabar" - enfim montada em 1980. --- 1974, CHICO visado pela Censura, canções vetadas automaticamente - "sinal fechado", forma de passar seu recado pelas palavras de outros autores, como NOEL ROSA, "Filosofia", WALTER FRANCO, "Me deixe mudo", CAETANO VELOSO, "Festa imodesta', e PAULINHO DA VIOLA, "Sinal fechado" - no meio das faixas, um drible: a contundente "Acorda amor", de Leonel Paiva e Julinho da Adelaide, heterônimos que criou para enganar os censores. --- 1975, em junho, CHICO e BETÃNIA em temporada no Canecão, uma década de carreira de ambos - período fundamental para a história dos dos dois e do país, mote do show (CBH falou "10 anos de Brasil"), mas apontando para o antes (Herivelton Martins e Lupicínio Rodrigues) e o que viria depois, inéditas como "Sem açúcar"; censurada duas horas antes da estreia, "Tanto mar" entrou em versão instrumental. CHICO e PAULO PONTES escreveram a peça "Gota d'água", releitura de "Medeia", de Eurípedes, baseados na adaptação que VIANINHA fizera para a TV; nas mãos da dupla, poema-tragédia com mais de 4 mil versos, ambiente conjunto residencial, centro da narrativa é o drama de Joana e Jasão, um compositor popular cooptado por Creonte, poderoso empresário. --- 1976, discos anteriores marcados por parcerias, louvação aos amigos de fé: "Quando o carnaval chegar", BETHÂNIA e NARA, "Caetano e Chico - juntos e ao vivo", "Chico canta (Calabar)", RUY GUERRA, "Sinal fechado", outros compositores, "Chico Buarque e Maria Bethânia - ao vivo" - "Meus amigos", mesma tendência - basicamente, trilhas sonoras (das dez canções, quatro nasceram para filmes, três para pelas), parcerias com GUERRA, AUGUSTO BOAL e FRANCIS HIME. --- 1978, CHICO e RUY GUERRA, projeto antigo na realidade brasileira, origem "A ópera dos três vinténs", de KURT WEILL e BERTOLT BRECHT, estes inspirados em "A ópera do mendigo", peça de JOHN GAY - amarraram as duas e fizeram "Ópera do malandro", estreia no Teatro Ginástico. na trilha sonora, futuros sucessos, "Homenagem ao malandro" e "Folhetim". --- 1978, já belas safras do compositor: "Ópera do malandro" ("O meu amor", "Homenagem ao malandro", "Pedaço de mim"), "Fejoada completa" (para um filme), "Trocando em miúdos" (com o parceiro FRANCIS), "Pequeña serenata diurna" (do cubano SÍLVIO RODRIGUEZ, que pretendia gravar); também "Apesar de você", "Cálice" e "Tanto mar", enfim liberadas pela Censura. --- 1981, o conceito de "Almanaque"sustenta o álbum - curiosidades, boas estórias, informes aparentemente inúteis, a presença da memória, "Meu guri", "A voz do dono e o dono da voz" (seu imbróglio com a gravadora) e "Angélica" (Zuzu Angel jamais achou o corpo do filho, assassinado pelos militares). "Os saltimbancos", peça infantil, vertida para português pelo CHICO, antecipou o que VINÍCIUS faria em "Arca de Noé" - no cinema, com "Os saltimbancos trapalhões" e a sofisticação lírica do compositor, seis músicas inéditas. --- 1983, com EDU LOBO, músicas para a adaptação que o Balé Teatro Guaía fez para o poema "Grande circo místico", de JORGE DE LIMA, estória sinteticamente apresentada em poucos versos que ganhou leituras grandiosas, letras de um, melodias de outro; trilha sonora inclui "Beatriz", "Ciranda da bailarina", com coro infantil, "A história de Lily Braun" e "Sobre todas as coisas" com GIL e violão. --- 1987, CHICO 43 anos, Brasil ao início da democracia após anos de ditadura, sem grandes rupturas, mas incontestáveis traços de mudança - canções mais complexas, algumas com apelo popular, "As minhas meninas", "Estação derradeira" e o lirismo de "Todo o sentimento". --- 1991, primeiro romance "Estorvo", Prêmio Jabuti de 1992, adaptado em 2000 por RUY GUERRA para o cinema, trama de densidade poética - protagonista desajustado não se adapta a empregos, aceita ser sustentado pela mulher e depois pela irmã, incapaz de administrar a herança do pai, mantém o sentimento de abandono, estorvo do título, narrativa não linear valoriza o estado psicológico do personagem. --- 1993, capa do disco "Para todos" traz retratos de brasileiros e uma foto de ficha policial de CHICO na adolescência, de frente e de lado, detido por roubar um carro, "a figura do larápio rastaquera", como diz a letra de "A foto da capa" - esse disco valoriza as parcerias com FRANCIS HIME, "Pivete", EDU LOBO, "Choro bandido" e "Sobre todas as coisas", e JOBIM, "Plano na Mangueira" - JOBIM homenageado na música "Meu maestro soberano foi Antônio Brasileiro". --- 2001, retornando parceria com EDU LOBO, CBH escreveu as letrasdo musical "Cambaio", autores JOÃO FALCÃO e ADRIANA FALCÃO, canções com arranjos de LENINE, musical num sonho, num show, na rua, reunindo escolas de samba, rock e hip-hop, músicas como "Ode as ratos" e "A moça do sonho". --- 2003, romance "Budapeste", Prêmio Jabuti de melhor livro do ano, que conta a estória de José Costa, um ghost writer explorado pelo sócio, angustiado pele fato de escrever para os outros, por acaso vai parar naquela cidade e tem aulas de húngaro; acaba descobrindo que Vanda, sua mulher, apaixonou-se por um alemão depois de ler a autobiografia, sem saber que o livro foi escrito por José. --- Romance "Benjamim", adaptação para o cinema, estória de Benjamim Zambraia, dias grandiosos vividos na juventude, quando fazia sucesso como modelo - anos depois, já esquecido, vê novamente o passado ao conhecer a jovem Ariela, cara da Castana Beatriz por quem fora apaixonado. --- 2006, "Carioca' investiga a canção anunciada desde a década de 80, caminhos que parecem ter a ver com GUINGA, antigo parceiro, exemplo mais patente da ourivesaria em "Bolero blues"- são do disco também "Ela faz cinema", "Renata Maria" e "Porque era ela, porque era eu". --- 2011, em "Chico', o amor e o tempo", álbum é um disco de amor tout court, simplesmente (não disco sobre música, seu amor sobre música manifestado de forma explícita) - dois temas se encontram em momentos quando brinca com a diferença de idade, namorada, "Essa pequena" - lá também "Tipo um baião", "Sem você 2" e "Sinhá".

F I M

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 07/11/2019
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