Conversas transversais
- Já te disse hoje que te amo?
- Não.
- Eu te amo!
- Muito boa essa tentativa.
- Tentativa?
- Sim. Segundo Shakespeare, você diz que gosta da chuva, mas abre o guarda-chuva. E se você diz que me ama eu terei medo.
- Mas eu não gosto de chuva.
- Então tá safe.
- Eu gosto de tu.
- Isso é bom.
- Que é preciso fazer para provar? Me enforcar num pé de coentro?
- Sim. E Também se jogar de um lugar bem alto. E também cair em um lago e não dormir. E também não pensar mais e fazer rituais humanos para chamar minha atenção.
- Gostei da última parte. O primeiro é impossível. Tenho medo de altura; o segundo, pior: não sei nadar.
- Ah! Triste!
- Se eu morrer não vou poder te amar.
- Faz sentido.
- Mas é ilógico.
- As melhores coisas estão mortas.
- Bem, melhores coisas para os vivos, né?
- Sei lá! Ninguém liga.
- Entonces... Não acredito noutra vida além dessa que nos resta viver.
- Vou rir de tu.
- Vai?
- Sim.
- Por quê?
- Sei lá! Só choro.
- Faz sentido. Morrerei feliz sabendo que te farei feliz.
- Isso é bom?
- Não sei. Mas depois você vai sentir a minha falta.
- Verdade. Tudo faz falta.
- Isso é sem sentido. E vai levar Flores no meu túmulo e vai fazer xixi em cima de mim.
- Rsrs. Futuro mais que certo.
- Pois é. Depois você vai ficar chorando e perguntando porque morri.
- Rsrs. Triste. Mas será que eu vou morrer primeiro?
- Não.
- Mas coisas acontecem.
- Não quero sentir a sua ausência. A solidão dói muito.
- E por que eu tenho que sentir a tua?
- Porque você é mais forte do que eu. Porque você sabe disfarçar a tristeza. Porque você é um anjo e sabe melhor das coisas que afligem os humanos. Porque eu te amo, gatinha.
- Aaaahh! Isso daí é muito doido!
- E o que é loucura e o que é sanidade?
- São os meus pés.
- Rsrsrsrs.
- Agora eu vou partir.
- A sua partida é a minha alegria. Apague a luz por favor!