RIO ANTIGO - PARTE III

Conjunto de seis telas pretas, emolduradas por talhas douradas de Mestre VALENTIM, decorando a capela Nossa Senhora da Vitória, na Igreja São Francisco de Paula (construída entre 1759 e 1801, tombada pelo IPHAN), no centro - outra grande moldura no teto, sem se conseguir ver a pintura. Equipe de cinco restauradores e um arquiteto. Minucioso trabalho de restauração, cem dias na retirada de camadas grossas de verniz, retoques e bizarras repinturas (como em todo 'bom' crime, o culpado foi "ninguém"?!). Por muito trabalho com muita sorte, uma descoberta "ouro": agora ex-encobertas pinturas originais de Manoel DA CUNHA SILVA, um dos mais importantes artistas do século XVIII - composições clássicas, com elementos barrocos: milagres de São Francisco, de Nossa Senhora da Vitória e Batalha de Lepanto (pesquise, caro leitor). Tudo escuro, surpresa em cada remoção de tinta e verniz, nuvens e anjos não apareciam; descobertos detalhes de pequenas pérolas na borda da gola de um capitão, enviado para prender o santo; fumaça da batalha coberta com montanhas, por certo obra de um imbecil falso "artista" que também arregalou os olhos dos anjos que olhavam para baixo, colocou considerável cabeleira num frei e mais barba em São Francisco. Na restauração, vernizes apropriados - dois dos maiores artistas mestiços do século XVIII... (A última restauração tinha sido em 1945.) Manoel era um escravo que ganhou dinheiro com sua pintura e pagou caro por sua alforria para casar com uma mestiça livre, sem o risco de filhos escravos - nome do pintor cercado de mitos, mas em verdade seu dono não o enviou para estudar na Europa, nem ele nem Valentim, na visão portuguesa de que aqui era o atraso de onde nunca sairia um gênio de qualidade: saíram os dois! Restaurar também a própria igreja, toda talhada em madeira por Valentim e discípulos. Ao todo, na cidade, 102 igrejas tombadas, sendo 54 pertencentes à Mitra------------------

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FONTE:

"Obras primas do século XVIII são reveladas em capela", artigo de LUDMILLA DA LIMA - Rio, jornal O Globo, 9/6/19.

F I M

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 27/10/2019
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