1120-ÓRFÃOS DA GUERRA- 1- A VIAGEM -
Terminara a Segunda Guerra Mundial! Chegara o fim o pesadelo!
Decorridos dois anos após o término da maior catástrofe provocada pelo homem em todos os tempo, eu e meu marido decidimos viajar à Tchecoslováquia a fim de procurar pessoas da minha família, que teriam sobrevivido ás batalhas da incomensurável catástrofe que se abatera sobre a Europa nos anos de 1949 a 1945.
Durante a guerra, eu havia mantido contato com alguns tios e primos que estavam no centro do furacão marcial provocado por Hitler. Até alguns alimentos, como café, agasalhos e calçados consegui enviar para meus parentes que lá viviam sofrendo todo tipo de privações.
Terminada a guerra, a Europa foi dividida, pelas nações vencedoras, em duas zonas de influência: o leste seria a zona de influência da União Soviética, que;, sob o tacão militar e terrorista de Stalin, logo tornou comunistas os países como Polônia, Tchecoslováquia, Hungria, Romênia e Bulgária. A própria Alemanha foi dividida em Alemanha Ocidental e Alemanha Oriental.
Uma cortina de silêncio caiu sobre os países do leste europeu. Se durante a guerra eu tive oportunidade de mandar e receber cartas, depois da guerra, não mais recebi nenhuma notícia. A remessa de donativos fora proibida e minhas cartas jamais foram respondidas. Acredito que nem tenham sido entregues aos destinatários.
— De nada vale você escrever sem obter resposta, minha querida Zelma. — Dizia meu marido Tomaz a cada carta que eu postava para os parentes
Eu insistia. Cheguei a escrever cartas a cada semana, E nada de resposta.
— E se nós fossemos lá pra ver como eles estão? — Um dia sugeri, à falta de uma ideia nova sobre como entrar em contato com os primos e primas.
— Você não sabe o que está falando. — Tomaz respondeu. — Não daríamos um passo além da fronteira.
Por mais absurda que parecesse, insisti na ideia. E de tanto falar, meu marido acabou achando que poderíamos, sim, viajar para a Europa, talvez para a Suíça ou para a Alemanha Ociental, e ver se seria possível entrar na Tchecoslováquia.
Acho que ele pensou que seria mais uma viagem de passeio, que eu acabaria desistindo da ideia quando as dificuldades aparecessem.
Viajamos num vôu que nos levou direto a Frankfurt, na Alemanha Oriental. Levávamos uma carta de recomendação do embaixador alemão em Brasília ao cônsul do Brasil em Frankfurt, que nos atendeu com muita presteza e imensa boa vontade.
Quando nos recebeu, o cônsul foi simples e claro:
— Nenhum brasileiro tentou ir à Tchecoslováquia depois da guerra, por isso não sabemos quais serão as condições que imporão a vocês para entrarem — se os guardas da fronteira concordarem na pretensão de vocês.
Estendendo um grande mapa da região sobre sua mesa de trabalho, o cônsul indicou um ponto mais a leste de Frankfurt.
— Como vocês dizem que seus parentes — os membros da família Klebenwais — ainda devem morar em Pilsne, o melhor é se dirigirem para Egra, que fica a nordeste daqui. De lá, se entrarem no país, deverão tomar uma condução para Pilsne. É o roteiro mais lógico.
Confesso que eu estava de boca aberta, olhando admirada para o mapa e a facilidade com que o cônsul indicava os locais, passando o indicador da mão direita para cá e para lá, como se tudo fosse um caminho livre, sem subidas nem descidas e completamente sem curvas e desvios.
— Entretanto — continuou o cônsul, vou colocar um funcionário do consulado para acompanhar vocês até a fronteira. Se não puderem entrar voltarão com ele no mesmo carro.
Aí foi que meu queixo caiu de vez.
Evitarei valar da viagem, pois se fosse descrevê-la, encheria muitas páginas contando das belas paisagens, das extensas florestas de pinheiros, faias e abetos.
Chegamos, enfim, ao posto policial da fronteira.
Foi então que coisas estranhas começaram acontecer.
ANTONIO ROQUE GOBBO
Belo Horizonte, 19 de julho de 2019
Conto # 1120 da Série INFINITAS HISTÓRIAS