QUERO SER PRINCESA

CAPÍTULO I – SONHO DIFÍCIL DE SE CONCRETIZAR

Mãe, o que eu gostaria mesmo é de me tornar uma princesa.

Minha filha, você já é uma princesa para mim e para seu pai.

Mãe, você não é rainha, pai não é rei. Não sendo da realeza,

vocês não me dão chance de eu me tornar princesa. Ai, ai!..

Meu desejo é morar num belo castelo e ser uma boa rainha.

Todavia esse meu sonho está muito difícil de se concretizar.

Imagina eu fazendo o seguinte pedido a uma fada -madrinha:

Querida Fada, eu desejo um príncipe para com ele me casar.

Minha filha, você nem acredita em fada, pelo que eu sei.

Pois é! Mesmo se cresse, como fazer, mãe, tal pedido?!

Se feito, como fica? Tenho príncipe. O amor dele, terei?

Como ficar num casamento se não é amado pelo marido?

Em nosso país, os cônjuges reais tiveram um filho rapaz.

Foi caçar e não voltou. Até hoje notícia dele ninguém traz.

CAPÍTULO II – CARAMINHOLAS

Vou lhe dar corda. Sem príncipe, sem nobreza e pais pobres,

o que a plebeia sonhando em ser princesa planeja então?

Ir atrás do meu sonho: entrar no seleto mundo dos nobres.

Assim que estiver lá, voltarei, pois não vou deixá-los na mão.

Nunca ouvi coisa tão absurda quanto esta na minha vida!

Você, minha filha, é uma mulher, entendeu, igual a mim.

Deveria sonhar com uma vida simples para nós concebida.

Ter marido trabalhador, que lhe proteja do começo ao fim;

Ser boa mãe, esposa, dona do lar, atenciosa e prendada.

Mas não. A moça quer ser maria homem, ser uma rameira.

Que mal fiz a Cristo para ter uma cria assim desequilibrada?

Se seu pai ouvir o que ouvi, ficará triste com tanta asneira.

Abra bem os seus ouvidos e me ouça com bastante atenção:

Tira essas ideias da cabeça para não nos causar decepção.

CAPÍTULO III - FUI OFENDIDA

Mãe, falando assim você muito, mais muito me ofende.

A senhora e o papai me deram uma excelente educação.

Não quero e não vou virar uma prostituta, vê me entende!

Eu vou atrás do meu príncipe amado com toda convicção.

Fique tranquila! Meu príncipe não será um homem casado,

Nem tão pouco um homem que seja namorado de alguém.

Não serei amante, nem objeto sexual de nenhum desonrado.

Eu não sou desequilibrada, sei usar o meu juízo muito bem.

Você e papai preferem me manter aqui completamente infeliz

Ou desejam dos corações de vocês a minha real felicidade?

Enfiando um marido goela abaixo, sentir-me-ei uma meretriz

Entregando o corpo a um homem que não amo de verdade.

Meu príncipe não será um ser encantado, porém um ser real.

Muitos acharão que formaremos um lindo e adorável casal.

CAPÍTULO IV – SURGE A JOGRALESA

Caso concordemos com sua loucura, você não tem dinheiro.

Não temos condições alguma de lhe dar um trocado se quer.

Vai vestir, comer, beber o quê? Vai viver somente de cheiro?

Vai dormir e morar onde? De sua vida, como iremos saber?

Viu a complexidade do problema que você está arrumando?

Não basta dizer fui e virar simplesmente as costas para nós.

Fiz-lhe um monte de perguntas e as respostas aguardando.

Quero ouvi-las de forma bem claras e objetivas na sua voz.

Mãe, sinceramente? serviços domésticos faço de um a tudo.

Eu sei ler, escrever, dançar, tocar castanholas e pandeiro...

Não sou chata pra comer ou dormir. Visto algodão, veludo...

Tecido à roupa, pouco importa; cobrindo meu corpo inteiro...

Terei dinheiro sendo jogralesa e o bardo da feira, meu jogral.

as prendas domésticas me bancarão. Eu não serei marginal.

CAPÍTULO V – PARA REALIZAÇÃO DO SONHO

Futuramente cresceremos no ramo até ter acesso a corte.

Um dia eu e o bardo animaremos as festas do palácio.

Fiarei perto do rei, rainha, do príncipe. Se eu tiver sorte,

O príncipe me olhará e será amor à primeira vista. Fácil?

Claro que não! No começo o príncipe vai duvidar e refletir.

Qual será o motivo da jogralesa me chamar tanta atenção?

É uma plebeia, sem sangue azul! Meus pais não vão admitir!

A alteza não resistirá ao nosso amor plantado no seu coração.

Para apresentação na corte, o bardo tem que ser um segrel.

Pelo que li, os textos dele são bons e um dia estaremos lá.

Aprendendo outro instrumento, quem sabe serei menestrel,

músico da corte; se no amor o príncipe não me dizer um a...

Está confusa, não é mãe! É muita informação para o seu dia.

É fácil de entender conhecendo dos artistas sua hierarquia.

CAPÍTULO VI – HIERARQUIA DOS ARTISTAS LÍRICOS

Jogral e um recitador de poemas de um bardo renomado.

Tal poeta famoso é da nobreza e é chamado de trovador.

O jogral se exibe nas feiras populares e é remunerado.

A jogralesa toca instrumento e dança dando nova cor

ao poema durante recitação do mesmo. Recebe para isto.

Caso o declamador passe se apresentar de terra em terra,

terá uma nova graduação; o de segrel, como está previsto;

chegando também à corte e de castelo em castelo encerra.

O músico que toca aos nobres recebe o nome de menestrel.

Sendo jogralesa, meu direito é de acompanhar só o jogral.

o que um trovador toca, compõe, recita é de tirar o chapéu.

Todos presentes ficam fascinados pela exibição sensacional.

O poema é acompanhado por música, a arte assim obriga.

Cada texto lírico assim declamado recebe nome de cantiga.

CAPÍTULO VII – AS CANTIGAS MEDIEVAIS

Mãe, têm quatro tipos de cantigas segundo os trovadores.

Cantiga de amor cujo tema é um amor, digamos, inatingível

entre um homem e uma mulher, ambos da nobreza. As dores

de amor causada pela ausência do homem amado é factível

somente num poema chamado por eles de cantiga de amigo.

As cantigas de amigo têm seres amados plebeus como nós.

Poema onde se fala mal de algum nobre sem correr o perigo

de citar seu nome diretamente é cantiga de escárnio. Feroz

é o trovador que compõe cantiga de maldizer. Ele é corajoso,

Pois menciona no poema o nome do nobre a ser mal falado.

Filha, com quem aprendeu esse assunto tão horroroso?

Com o bardo da feira ao comprar algo por nós necessitado.

Então você e o bardo vem tramando isso faz tempo, não é?

Sim e ganhou corpo quando em ter um príncipe passei ter fé.

CAPÍTULO VIII – A FILHA PRÓDIGA

Mãe, quero sair de casa pela senhora e pelo pai abençoada.

Não vou desonrar de jeito nenhum o nome da nossa família.

Ore por mim para que a tentação não me deixe atormentada

E quando voltar, a senhora e o pai me recebam como filha.

É algo mais forte do que eu e me soa como um destino certo.

Sei que a sociedade e as más línguas cairão me matando...

Filha, nós não aprovamos sua decisão. Contudo a alerto:

somos seus pais. Volte sempre que estiver precisando.

Leve isto pra quando tiver faminta e o odre para sede.

Leve o meu terço e o meu livro de orações. Sempre ore,

para que nenhum mal jamais no seu coração hospede.

Sinta sempre que o nosso amor em seu coração more.

Amo o pai e entendo o silêncio dele nesse momento.

As dores de vocês por mim causadas, eu muito lamento.

CAPÍTULO IX – NEGOCIAÇÃO

Numa aldeia o bardo e a moça se apresentam na feira local.

Agora os dois começaram suas jornadas no trovadorismo

De repente aproxima um senhor com um luxuoso visual.

Achei vocês muito bons, apesar de um certo nervosismo.

Meu jovem, você só declama ou escreve cantigas também?

Você domina João Guilhade, Martim Codax, Rei Dom Diniz...

se escrever como trovadores citados, então escreve bem.

Preciso de um bardo pra encomendar um poema. O que diz?

Além de jogral, sou um bardo e quanto ao poema é só pedir.

Eu necessito do seu dom para fazer uma cantiga de maldizer

Há um conde nessa terra que umas verdades merece ouvir.

Amanhã, traga-me a cantiga escrita para que eu possa ler.

Se for aprovada, você poderá declamá-la, torná-la popular.

Fechado?! Pagando bem o serviço, não tenho como negar.

CAPÍTULO X – CLIMA DE PAZ EM DESALINHO

O amanhã virou hoje. A cantiga saiu melhor que esperava.

Você tem um talento nato. Está desperdiçado como jogral.

Na verdade, você é trovador. A moça só ouvia, nada falava.

Eu quero que essa cantiga na feira seja sim um fato habitual.

Vamos levar o maravilhoso poema a conhecimento de todos.

Vão pros seus postos e iniciem a segunda etapa do trabalho.

Apreciarei a arte suas que é pura (sem quaisquer engodos),

através de um absoluto silêncio. Assim não os atrapalho.

No terceiro dia da apresentação começa surgir burburinho

que vai aumentando gradativamente por toda feira da aldeia.

Soldados surgem armados. O ambiente fica em desalinho.

Corramos, jogralesa, mais rápido possível. A coisa está feia.

A tropa corre atrás dos artistas com revólver e besta.

O jogral grita à jogralesa. Corra em direção da floresta!

CAPÍTULO XI – JOGRAL TORTURADO

Uma flecha arremessada da besta atinge a perna do jogral.

O mesmo cai no chão, levanta arrastando a perna atingida.

Soldados alcançam o rapaz e gritam: pegamos o marginal,

falta a jogralesa, para que a operação seja bem-sucedida!

Mas a moça correu semelhante a uma gazela desembestada.

Adentrou à mata e sumiu como por um milagre ou encanto.

Tentamos em vão encontrá-la, pois a busca deu em nada.

Creio que não mais voltará devido seu estado de espanto.

A bem da verdade o jogral é que é o perigoso, o subversivo

arrancaremos tudo dele, nem que seja na base da tortura.

Chegaremos até ao seu mentor de um jeito bem incisivo...

estando tudo terminado, ficará dentro de mim tal aventura.

Depois de muita dor, as muitas perguntas o jogral responde.

Já sabemos de tudo! Vamos dar voz de prisão ao visconde!

CAPÍTULO XII – A MULHER E O LOBO

A jogralesa acorda, sai da gruta onde estava escondida,

pois próximo do seu covil ouvia gritos de uma mulher.

Um nobre merece ser tratado assim! Toma pela sua lida!

A jogralesa não crê no que seus olhos veem. É ruim de ver!

A mulher batia num lobo chamando de Príncipe, o coitado.

O bicho gania, com o rabo baixo, demonstrando muito pavor.

O animal não fugia, apesar de livre. Ele ficava ali paralisado.

Aceitava as surras dada pela mulher. Era vítima em torpor.

Após de judiar do lobo, a mulher agora com menos ódio diz:

Príncipe, amanhã aqui para lhe dar o que de mim merece.

Ela foi embora. Sem remorso na sua personalidade infeliz.

Mesmo indignada, fiquei passiva. Entreguei-me a prece.

Lembrei-me do terço dado pela mãe e do livro de oração.

Orei por mim fugitiva e pelo lobo que sofrera judiação.

CAPÍTULO XIII – A MULHER COVARDE

Acabando a oração, eu vi que era ainda de madrugada.

sair do meu esconderijo e ter o risco de ser descoberta,

ou ficar e deixar o lobo entregue a sua sorte desgraçada?

Tomei receosa a primeira decisão e tomara que seja certa.

Não rosne para mim. Sou sua amiga. Quero cuidar de você.

Seu nome é Príncipe, a mulher covarde assim o chamou.

O lobo deixa a jovem se aproximar. A bondade nela ele vê.

A moça recolheu algumas ervas, fez um remédio e aplicou

nas chagas do animal. O bicho gemeu ao usar a mezinha.

Fez um carinho no lobo para amenizar a dor do paciente.

Sentindo-se bem, Príncipe fica em pé e à sua casa caminha.

Apesar de ter ido, o lobo para jogralesa, não sai da mente.

A mulher covarde intimou o lobo a parecer novamente.

Se a cena repetir, eu não serei omissa, serei diferente!

CAPÍTULO XIV – MUNDO VISÍVEL X MUNDO INVISÍVEL

Será que príncipe é o verdadeiro nome do judiado lobo?

Ele não é o animal de criação daquela mulher covarde.

Acho que eles se encontram aqui, neste local. O bobo

vem, o espancamento acontece e o lobo não faz alarde.

Meu Pai! Devo estar enlouquecendo neste momento!

O que passou na minha cabeça é sem nenhuma noção.

O lobo é o príncipe sumido e está sobre encantamento.

A mulher covarde é uma bruxa ou feiticeira em plena ação.

Que me faz pensar nesse absurdo é que o lobo não reage!

Nenhum animal da selva é agredido e fica sem se defender!

Crer em fada e bruxa à minha inteligência seria um ultraje,

todavia só o místico é capaz da história do lobo esclarecer.

O fato é que só hoje à noite é que a verdade virá à tona.

se o racional não imperar, vou me sentir uma bobona!

CAPÍTULO XV – A TRISTE CENA VOLTA A REPETIR

Na mesma hora e local, o lobo aparece para o martírio.

Alguns minutos depois a mulher com um porrete na mão.

Príncipe! Com o trato que lhe darei, só restará o seu delírio.

A mulher, ao levantar o porrete, a jogralesa a joga no chão.

Não faça isso! Deixe o lobo em paz, sua mulher malvada!

A mulher atira-se na jogralesa. A mão pronta à esganadura.

A moça sem ar, com esforço, pega o porrete e dá porretada

Na face da malvada que na mesma hora cai no chão, dura.

Ao ver a maldosa imóvel, o lobo fica imensamente feliz.

Vai em direção à jogralesa, balança o rabo e a lambe toda.

Não fique contente, Príncipe. Foi muito feio o que eu fiz.

Matei uma pessoa. Tal pecado mortal agora me incomoda.

A mulher caiu debruço. Pra desvirá-la, a moça a empuxa.

Rosto velho, ossudo, nariz com verruga. Ela é uma bruxa!

CAPÍTULO XVI – “TU ÉS PÓ E AO PÓ VOLTARÁS”

Jamais quis saber como matar bruxas. Não acreditava nelas.

Senhor! O que faço para tirar da terra tão abominável mal?!

O lobo uiva muito. A bruxa recupera os sentidos. As estrelas

querem se retirar, já que a bruxa começa a voltar ao normal.

Como se combate o mal? Combate com as coisas de Deus.

A jogralesa pega o terço. É o terço de são Miguel Arcanjo.

Abre o livro na oração do santo citado. Reza por todos seus

medos, perdões dos pecados, do mal gerador de desarranjo.

A jogralesa reza com fé para arcanjo São Miguel protegê-la,

pois ele tem a espada da justiça. Seu terço é tão poderoso

Que é usado pra combater até satanás. Bruxa como aquela

não resistirá e São Miguel nos dará um triunfo obsequioso.

Findadas preces, foram ver o que ocorreu com a bruxa má.

Virou pó, como diz a bíblia: o homem é pó e ao pó voltará.

CAPÍTULO XVII – O PRÍNCIPE LOBO VIRA PRÍNCIPE HUMANO

Na floresta mesmo, a moça queima da bruxa todas as vestes.

Voltando-se para o lobo, ela vê o bicho em forte mutação.

Uma brisa afaga a jogralesa, o lobo, as folhas dos ciprestes.

No duelo do visível com o invisível, o segundo sai campeão.

O lobo se transforma no príncipe que estava desaparecido.

O príncipe chora muito e abraça sua heroína - a jogralesa.

Senhorita não sabe quanto, devido à bruxa, tenho sofrido.

Hoje o pesadelo acabou. Posso, enfim, voltar para realeza.

Por que a bruxa má o transformou num lobo e o espancava?

Meu pai, ao assumir o trono, quis expulsar do reino todo mal.

Com a Igreja, ele realizou caça às bruxas que nos assustava.

Foi pra fogueira até a mãe desta que me reduziu em animal.

A filha da bruxa não fora pega no reino. Ela estava em exílio.

Volta às escondidas, não consegue pegar o rei, mas o filho...

CAPÍTULO XVIII – CAÇAVA RAPOSA

Fora aberta no reino temporada da caça à raposa. Reuni-me

com meus amigos para a prática desse tal divertido esporte.

Ao separar dos amigos na cola da raposa, ocorre o crime.

Pelo que o rei fez a minha mãe, Sua Alteza merece a morte.

Queria ser algoz do rei. Tirou-me o único ser que mais amei.

Ocultamente façamos igual troca. Tiro dele o que mais ama.

O monarca matou minha mãe de modo rápido, pelo que sei.

Já darei a morte ao filho dele igual faz um gato: com drama.

O felino primeiro diverte com suas vítimas antes de matá-las.

O meu entretimento será espanca-lo até o meu ódio cessar.

Transformá-lo-ei num cinzento lobo. As surras pra tomá-las,

você virá aqui com próprias pernas, sem ter que lhe chamar.

Findado o meu ódio, Sua Alteza será um bom sacrifício

à deusa-mãe. O rei, ao souber, viverá em total suplício.

CAPÍTULO XIX – EXILADA POLÍTICA

O dia todo passava dormindo, só acordava só para comer.

À noite, para também comer, apanhar e sofrer de dor.

Espere! Eu Já falei muito de mim. Quero lhe conhecer...

percebo que você é educada, corajosa, e cheia de frescor.

O que faz uma moça bonita ficar sozinha numa floresta?

A bruxa tirou você de sua família e a trouxe para a mata?

Eu sou uma fugitiva por mexer com gente que não presta.

Fugitiva? A jovem é uma assassina? Ladra? Vigarista nata?

Perdoa-me o riso. Não é nada disso. Sou uma jogralesa.

No meu primeiro dia de trabalho na feira com o jogral

surgiu um homem com aparência de nobre e gentileza

e pediu ao meu colega de trabalho um poema especial.

O poema era uma cantiga de maldizer dirigida a um conde.

Este não gostou, sentiu-se ofendido e resolveu nos atacar.

Chegou na feira com um monte de soldado não sei de onde.

Começou prender todos que estavam a nossa arte apreciar.

O Meu amigo Jogral teve sua perna ferida por uma flecha,

Por isso não logrou na fuga. Eu sim. Aproveitei uma brecha...

CAPÍTULO XX – NOS BASTIDORES DA NOBREZA

Juro, príncipe, o que nós fizemos nada tem com maldade.

Não entendemos bulhufas de política. Surgiu um mecenas,

pagou o serviço e o jogral compôs a cantiga com habilidade.

Não somos contra A nem B. Somos a favor da arte apenas.

Como é o homem que pediu ao jogral a cantiga de maldizer?

Pelo que me disse é um nobre e tem o título de visconde.

O visconde é de fato reserva do conde. Dá para entender?

Ele deseja o lugar do outro e atrás dos artistas se esconde.

Ao solicitar a cantiga de maldizer para o jogral, na verdade,

O visconde quis pôr o povo contra o conde usando mentira.

Você e seu amigo jogral foram induzidos a fazer tal maldade.

Executaram com maestria sua arte, causando no conde a ira.

Quando voltarmos esclarecerei tudo e vocês ficarão em paz.

A senhorita falou pouco de si. Minha curiosidade é contumaz.

CAPÍTULO XXI – QUEM SOU EU

Ainda não entendi! O quê que Sua Alteza quer saber de mim?

Tudo. Quem é você, de onde veio e os seus sonhos na vida!

Sou filha única e plebeia. É bem simples o local de onde vim.

Atrás dos meus ideais, deixei minha família de forma decidida.

Mesmo meus pais não concordando, pus os pés na estrada.

Meus pais abençoaram-me. Deixaram-me a porta aberta.

O terço de São Miguel Arcanjo não apareceu assim do nada.

Nem o livro de orações. Tenho-o pra usar na ocasião certa.

Ao encarar a bruxa má, sabia do poder que tinha em mãos.

Estou adorando conhecê-la! Continue falando. Estou atento.

Os sagrados objetos doados por minha mãe não foram vãos;

Utilizei-os certa de que conseguiria quebrar o encantamento.

O coração de mãe e o instinto dela nunca falham. É incrível!

Mesmo longe, as mães oram por nós com uma fé infalível.

CAPÍTULO XXII - TRÊS IDEAIS QUIÇÁ IMPOSSÍVEIS

Alteza, amo poesias e músicas. Por isso me uni ao jogral.

Toco castanholas e pandeiro, mas por uma graça divina.

Gostaria muito de estudar música e me tornar profissional.

Tocar nos eventos artísticos da corte e cumprir minha sina.

Também escrevo poemas. Infelizmente, não os leram ainda.

Não dei esse direito para ninguém por medo de repreensão.

Senhorita, não sei se o seu talento o mundo artístico blinda.

Jamais vi mulher como trovadora ou menestrel até então.

Para sua Alteza eu estou procurando pelo em ovo! É isso?

Sim. Dois sonhos cuja realizações me parecem impossíveis.

Se a senhorita chegar lá, causará na sociedade reboliço.

As moças querem casar, ter marido e todos filhos possíveis

Se dizer com quem casarei, Sua Alteza ficará boquiaberto!

Apesar da curiosidade feroz, só lhe direi no momento certo.

CAPÍTULO XXIII - IDEIAS ESTRANHAS

A Senhorita é inteligente. Suas ideias causam estranheza.

Alteza, sou mulher, amo ser mulher. Quero viver de arte:

da música, da poesia, e me casar; para sua real surpresa.

Quem será o felizardo? A senhorita me ocultará essa parte?

Quando for rei, proibirei as mulheres de guardarem segredo.

Sua Alteza está brincando! Eu não acredito que fale sério!

Depois da gargalhada... é brincadeira sim, não tenha medo.

Credo! Nem quando era lobo tinha um juízo tão deletério!

Por falar em lobo, deixo bem claro o meu agradecimento

à senhorita por ter me livrado da bruxa e da maldição dela.

Reconheço também seu carinho por eu lobo em sofrimento.

A senhorita terá sempre minha gratidão, jovem donzela.

Que moça interessante! Determinada, sábia e inteligente.

Se fosse rainha, seria bastante querida pela nossa gente.

CAPÍTULO XXIV – A NOSSA HEROÍNA

Capitão, dois jovens estão vindo para cá! Parece um casal.

Ficam nos seus postos prontos pra atirar. Deem-me a luneta.

Soldado, é sim... um rapaz e uma moça... nada de anormal.

Chamem o rei já! Vá soldado, agora! Não seja tão xereta!

Majestade, pegue esta luneta e me diga o que está vendo...

Não pode ser! Quem está vindo para cá é meu amado filho!

Meu filho que estava sumido. Só porque vi, estou crendo.

Vem com uma moça plebeia, porém isso não é empecilho.

Descem os portões! Descem os portões! O rei vocifera.

O príncipe e a jogralesa entram no reino numa só felicidade.

Pensei que você tinha morrido, devorado por alguma fera.

O rei abraça o filho, carinhosamente, pra matar a saudade.

Quem é essa linda moça cuja beleza a todos contamina.

Esta jovem donzela foi quem me salvou. É a nossa heroína.

CAPÍTULO XXV – LIBERTEM O JOGRAL

Pai, gostaria de pedir ao senhor para libertar o jogral.

Sei que ele insultou o conde através de uma cantiga.

Como soube desse caso, se estava desaparecido afinal?

Ele é colega de trabalho dessa jovem que agente abriga.

Era o primeiro dia de trabalho deles no ramo da literatura

na feira. O visconde percebendo que eles não são daqui,

que eles são inexperientes e até ingênuos, a vil criatura

encomendou o maldito poema que causou esse rififi.

Diante dessa verdade, desça com a jogralesa à masmorra

e salte o jogral. Não há mais motivo para ele ficar preso.

Estava com má companhia na prisão. Este teve a pachorra

de se dirigir ao príncipe: não é mais lobo, estou surpreso!

A bruxa é tão inapta quanto o conde que me prendeu.

Que fim teve a mulher má? Ela, seu crápula, morreu.

CAPÍTULO XXVI – DE HOMEM PRA HOMEM

E você, imbecil, vai pagar por todo mal feito a mim,

à jogralesa e ao jogral com a sua própria tola vida.

Com um homem acorrentado é bem fácil falar assim.

Se eu estivesse livre, Alteza, sua arrogância seria abolida.

Resolvamos de vez essa pendenga de homem pra homem.

Guarda, solte o preso! Quero ver se é homem ou falastrão.

Não, Alteza! As víboras a cada vacilo nosso nos consomem...

Guarda, eu lhe dei uma ordem! Você vai cumpri-la ou não?!

Perdoa-me, Alteza, eu pensei apenas no seu próprio bem...

Soltarei o criminoso, mesmo discordando do seu veredito.

Agora peça aos seus súditos a não entrar na briga também.

Ninguém interfira! Eu mesmo vou acabar com esse maldito.

O guarda, o jogral e a jogralesa viraram fiéis torcedores,

Enquanto o visconde degustava dos males os sabores.

CAPÍTULO XXVII – A LUTA ENTRE O PRÍNCIPE E O VISCONDE

Socos, ofensas verbais, chutes, olhares de ódio imperavam.

Sangue e hematomas brotavam dos corpos dos lutadores.

A luta era equilibrada. Os olhares da plateia questionavam:

Quem será o vencedor se há equilíbrio entre os competidores?

os presentes notam que príncipe começa levar vantagem.

O visconde recebe um golpe em cheio no rosto. Fica tonto.

O príncipe vê que é a hora de liberar o seu lado selvagem.

Pior para o visconde que fora se fragilizando no confronto.

Um soco recebido no queixo e o visconde foi parar no chão.

Levanta infeliz! Ainda não terminei em você meu serviço!

Alteza, o visconde está morto. Veja! Está sem respiração.

Vamos jogral e jogralesa. Meu pai, precisa saber disso.

O reinado ficará mais tranquilo com a ausência desta peste.

Guarda, enterre o cadáver. Logo após, avise a família deste.

CAPÍTULO XXVIII – BOAS NOTÍCIAS

Senhorita, boas notícias: Meu pai, deu o consentimento

aos músicos e maestros do palácio lhe ensinarem música.

Terá que estudar muito, ter dedicação e desprendimento.

Adquirindo um ótimo nível, você receberá uma bela túnica

e com ela já poderá participar de eventos musicais menores

Aqui no palácio ou em todo reino. Continue se dedicando

e quando tiver excelente, você se juntará aos melhores

e nos eventos mais solene, olha você lá alegre tocando!

Você terá aulas com os mestres de gramática e literatura.

Tais saberes com seu dom, fará poemas dignos de trovador.

Quando já tiver dominando e construindo a nossa cultura,

quero que me faça sem qualquer objeção o seguinte favor:

Quero declamar poemas e recitar os que você escrever...

ensina-me, não tenho o dom; só redação técnica sei fazer.

CAPÍTULO XXIX - A FADA MADRINHA

Alteza, nesse caso está apropriando de algo que não é seu,

teoricamente, porém sabemos que é sua a verve poética.

Se não me autorizar, o pseudo trovador aqui então morreu.

Não se faz mudança social rapidamente. Não é boa dialética.

Aproveito ocasião para aconselhar o uso de um pseudônimo.

Quando suas cantigas tornarem populares, nesse caso sim,

dar-lhe-emos todos os créditos e aí seu nome será sinônimo

de lindas cantigas eternizadas no universo literário, enfim.

Sua Alteza, isso é tudo que sonhei! Sou grata de coração.

Ninguém fez nada disso por mim; é aí que acho esquisito.

Não é por ter salvado sua vida! Atrás disto há outra razão.

Seja honesto, não é só gratidão, existe algo mais, acredito.

Qual é a razão de Sua Alteza de agir como fada madrinha?

Eu a quero como minha princesa e futuramente rainha.

CAPÍTULO XXX - REVELANDO O MEU PRETENDENTE

Sempre disse que uma das três coisas que queria era casar

e se lhe afirmasse com quem, sua Alteza ficaria espantado.

Também fiquei de dizer quem é na hora certa, há de lembrar.

Senhorita, poupa-me em ouvir o nome do seu fiel namorado.

Façamos o seguinte: o cocheiro real a levará para sua casa.

Vocês serão meus hóspedes. Traga para cá seus familiares,

Ficarão no castelo até fim de seus estudos; depois terá asa

Para fazer sua arte no mundo e nos mais diversos lugares.

Eu vou ajudar meu pai, já que ele quer uma grande festa

Pelo fato d’eu ter retornado. A rainha faleceu quando nasci.

Príncipe, deixa-me falar e muita atenção nas palavras presta,

Estou tão nervosa que não sei vou repetir. A jogralesa sorri.

Sua Alteza, vamos nós e o cocheiro real já, nesse momento

À minha casa. Lá, com meus pais, peça-me em casamento.

O FILHO DA POETISA

Filho da Poetisa
Enviado por Filho da Poetisa em 23/10/2019
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