ENTREVISTA SEM...O ENTREVISTADO - FERNANDO SABINO
Mineirinho de "Beagá", 12 de outubro de 1923, menino de fundo de quintal. Muito nervoso, curado sem psicanálise. Foi escoteiro, e aprendeu comunicação por semáforo, código Morse, acender fogueira com um único fósforo, dar nó de marinheiro e saber Leste "cá", Oeste "lá"... Neto de italiano pelo lado paterno. Nadou pelo Atlético e depois pelo Minas Tênis Clube (está no romance "Encontro marcado"), recordista de nado de costas. Segredo intimíssimo: 'pavor-de-morrer-afogado'... ----- Como começou a escrever? No ginásio... Contos. Aos 13 anos, estória policial publicada na extinta revista "Argus", da polícia mineira - num concurso de crônicas, na revista "Carioca" do Rio de Janeiro, prêmio de 25 mil réis, ilusão de dispensar mesada paterna e já viver por conta própria. Ih, muitos outros prêmios! Em 1940, convívio com escritores de BH; faculdade de direito em 1941 (formou-se em 1946), ainda em BH; em 1944, mudança para o Rio, como funcionário público (interdições e tutelas). Jornalismo através de Murilo Rubião, unindo-se a Hélio Pelegrino, amigo desde o grupo escolar, Otto Lara Resende e Paulo Mendes Campos - jornais "Diário carioca" e "Correio da manhã", crônicas regulares, incluídas no livro "A cidade vazia". ----- Durante anos, série de crônicas sob o título "Sala de espera", depois chamada "Aventura do cotidiano" na revista "Manchete" e crônica diária no "Jornal do Brasil". ----- Viagens? Dois anos pelos States, auxiliar do Escritório Comercial do Brasil; Cuba em 1960, correspondente do "JB", na comitiva de Jânio Quadros; adido cultural da Embaixada do Brasil em Londres, entre 1964 e 1966. Vocação? Tocar em orquestra de jazz - possui uma bateria e tocou amadorístico em várias orquestra. Maracanã de vez em quando, em dia de Botafogo. Momentos mais agradáveis da vida? Dormindo... ----- Avaliação crítica das publicações - Em 1941, 17 anos, primeiro livro, "Os grilos não cantam mais", contos (elogios de Mário de Andrade renderam fecunda-mútua correspondência) - tendências principais de retratar o pitoresco da vida cotidiana e analisar sentimentos interiores, interpretando os estados de alma; professor de português durante um ano no Instituto Padre Machado, na capital mineira. Em 1944, publica a novela "A marca", análise interior, novela sombria, escrita no plano do presente e no do passado /influência de Graciliano Ramos em "Angústia"/. Em 1965, literatura como arte - 5 novelas, espécie de exercícios de aprimoramento literário e estilístico, captando a misteriosa atmosfera de estórias vividas em sonhos. Em 1969, "A cidade vazia", fusão das duas tendências sérias, conquistando um estilo próprio - coletânea de crônicas e estórias curtas sobre experiência de dois anos vividos em Nova York, cidade grande muito agressiva: mensagem por vezes hilariante para com as vítimas das contradições econômicas e sociais da grande nação americana. // Destaque para "O encontro marcado" - pleno amadurecimento do autor, fusão definitiva das duas tendências; ora alegre, ora pungente, estória de um jovem na desesperada busca de afirmação, baseado em si próprio, leitor refletindo seus problemas... // Qualidades do prosador em muitas estórias curtas, explorando com fino senso de humor o lado poético do dia-a-dia. "Ritmo interior quase vertiginoso, em velocidade de montanha-russa, objeto em movimento" (Otto Lara Resende)... // Em 1975, no livro "Gente", I e II, personagens reais que conheceu ao longo da vida. ----- Na época das primeiras crônicas em jornais, escreveu os romances "Ponto de partida" (destruiu os originais) e "Momentos sinudados", grande parte aproveitada em "O encontro marcado", famoso romance de 1956, muitas vezes reeditado. Em 1957, chega de trabalho chato! - passou a viver só de intelectualidade e cultura; escritor e editor. Com Rubem Braga, fundou a "Editora Sabiá", publicando obras da literatura contemporânea. No cinema, valorosos documentários sobre escritores brasileiros.
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F I M