EM PARATY, HÁ LUGAR PARA TODOS

Num céu alaranjado de fim de tarde, barcos em cores atracam na Praia de Paraty-Mirim e caiçaras (mestiços entre brancos-índios negros, que geralmente vivem da pesca artesanal) embarcam de volta a vilas isoladas em ilhas e enseadas. Não muito distante, índios seguem pela estrada sinuosa da Mata Atlântica e se recolhem à aldeia, vendido o artesanato no Centro Histórico. E no Quilombo do Campinho da Independência, às margens da Rio-Santos, terminam os preparativos para a primeira edição da Flip Preta em paralelo à Festa Literária Internacional (FLIP), antecipado agito nas ruas antigas, calçamento pé de moleque na cidade. Cenas cotidianas, um dos fundamentos de união, diversidade de povos tradicionais, levou a UNESCO a reconhecer mais um Patrimônio Cultural e Natural Mundial. Diferentes costumes, crenças, feições, em comum a busca diária pela sustentabilidade com a natureza: recantos sagrados são a terra e o mar. Três aldeias indígenas - duas guaranis e uma pataxó - 'todos amigos abraçados', incluídos os não índios, na palavra do cacique que diz ter 119 anos; parentes atribuem longevidade à alimentação farta de mandioca, milho e batata doce da própria aldeia. No restaurante do quilombo, suco de juçara (prima do açaí), moqueca, peixe ao molho de pupunha e pratos com folhas verde-escuras da taioba. Os caiçaras comem em essencial peixe com banana prata ou da terra e pirão (não mais farinha original da terra, agora é do mercado) - estes se dividem entre enfrentar a maré à procura de peixe, camarão ou lula, e serem barqueiros para os turistas das pousada; quando não havia energia elétrica, um dia de remo para chegar a Paraty e comprar roupa, sal para conservar as carnes e querosene; poucos os que ainda esculpem artesanalmente com a pá, semelhante a lança, o remo caiçara, legado indígena - hoje, plainas elétricas entalham a madeira. Uma quilombola de meia idade confecciona galinhas em palha de taboa, planta aquática retirada dos brejos - o trançado é tradicional no quilombo, mas a galinha ela inventou, disputada por turistas. ----- As tradições são celebradas com danças, como jongo e forró, em maio o Fest Juá, evento caiçara com atividades educativas e culturais. Elo entre os povos nativos, as partidas de futebol masculino e feminino entre caiçaras e índios. ----- Para os caiçaras, o analfabetismo continua presente......... Os índios pedem espaço estruturado para venda de artesanato na cidade e brigam por algo básico, a água encanada, embora uma tubulação passe perto da aldeia de 300 moradores, destes cerca de 100 crianças. Título de patrimônio ficou só no nome bonito?

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FONTE:

"Na Paraty multicultural, tradições são patrimônio", artigo de RAFAEL GALDO - Rio, jornal O Globo, 14/7/19.

F I M

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 12/10/2019
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