A DIFÍCIL ARTE DA MORTE - PARTE 01
De repente, ela sentiu o seu peito apertar de uma forma, como se fosse deixá-la sem ar.
Sentiu os pés suarem, e os olhos se encherem de lágrimas.
Umas pontadas na cabeça, como se algo explodisse com força, destruindo toda a sua massa encefálica.
Mais uma vez, a vida lhe deixava sem chão. E agora, o que faria? Afinal, o seu Porto Seguro, lhe abandonaria em breve, e sem retorno.
E olhando para o médico a sua frente, ela fez uma cara de quem estava se afogando, e precisava ser salva.
Aquele médico, não podia simplesmente, lhe entregar a sentença final da mãe, que era tudo para ela.
Em seguida, segurou as mãos frágeis de sua mãezinha, que estava na cadeira do lado, e apertando com muita força, a fitou bem dentro dos olhos, montou um sorriso a duras penas, e disse:
- Não se preocupe minha mãe, enfrentaremos isso juntas. E vamos orar a Deus para que ele nos dê força, coragem, ou até um milagre, afinal, nele, tudo é possível. A doença maldita, havia atingido sua genitora, sem piedade. E agora, ela não sabia o que fazer. Como conseguir sobreviver, sem aquela que sempre esteve ao seu lado, nas horas boas e ruins.
Nessas horas, pensamos: Por que a vida faz isso com a gente? Fizemos algo de tão ruim? Será um castigo? Não existe conformação para tamanha provação.
Saíram as duas do consultório médico, como se estivessem anestesiadas, e em silêncio foram para o carro.
Durante o percurso para deixar a mãe em casa, ela sentia como o seu coração estivesse sendo enlaçado, e o nó apertava mais e mais, a cada milésimo de segundo. Como pode existir uma dor tão forte assim? – Se perguntava em seus pensamentos.
Quando chegou na morada de sua mãe, a velha senhora desceu do carro, e disse que a filha poderia ir, pois, ela estava bem. E que não precisava se preocupar, fosse cuidar de suas responsabilidades, que depois conversariam, e que no momento, ela não queria pensar no assunto.
A filha, já no final de sua resistência, pois o desespero havia tomado conta de seu ser, não discutiu, apenas continuou dentro do carro, e se encaminhou para a sua casa.
Lá chegando, estacionou, cruzou a porta de entrada, e entrou no seu quarto, sem se quer acender a luz, sentando-se na cama. E com o olhar perdido e distante, as lágrimas começaram a descer pela sua face.
Não existiam palavras para expressar seus sentimentos, somente, pensamentos confusos e lembranças que se misturavam. Talvez, procurando no fundo de seu inconsciente, uma resposta para tudo o que estava acontecendo. O verdadeiro “porquê”.
Nessas horas, a fé caminha numa corda bamba. O mundo ao seu redor perde o sentido, e nada parece importar mais.
Saber da iminência da morte, e nada poder fazer, é uma coisa que te faz sentir impotente, que te deixa imaginando se a vida realmente tem um propósito.
A sua devoção, por maior que seja, fica abalada, pois o ser humano em sua maioria, ainda não aprendeu a lidar com a morte, pois ela vai de encontro a todos os sentimentos de amor, que você nutre por aquela pessoa que partiu ou partirá.