DA MORTE
O que não compreendia não era, exatamente, aquilo que, tão inconscientemente, chamava de "minha vida", na verdade, existia ou havia existido um ponto em que não era mais a vida que importava, mas sim, o estado de ser. A tentativa de uma possibilidade de. Deve ser desse jeito que as coisas terminam. Quando se chega ao limiar de uma existência involuntária. E isso foi ocorrendo aos poucos. Já não recebia ligações de amigos, as distâncias começavam a alcançar os setembros outubros novembros dezembros e janeiros não era mais verão. Foi para o Sul, uma prainha, meio isolada. Parou, olhou o mar, sentou na areia, sentiu a finitude de existir e não se dar conta do peso de uma vida sobre os ombros. O caso é: nunca se soube o que aconteceu.. quem sabe permaneceu sentando na areia até o sol ser preso pela noite. Ou quem sabe seguiu rumo a Iemanjá, esperando consolo, afago, colo. Ou talvez, acendeu um cigarro e pereceu aos poucos, como a fumaça expelida pelos pulmões.