Nas entrelinhas

O maior nome das letras paranaense ao longo das últimas décadas, dedicou-se a lançar um livro por ano, espécie de Woody Allen das letras, mas sem a consistência deste. Assim se manteve até o momento, julgam os leitores e adeptos. Como todo escritor ao sair de cena deixa alguma obra em andamento ou a ser publicada, dessa vez não foi diferente: deixou a última obra, a pedra de toque de toda sua seara. É o que dizem críticos, pares, comparsas, especialistas, estudiosos, fãs da vigente, da passada e da futura geração de leitores curitibanos, amigos nos jardins dos lares de repouso e todo mundo que lê ou leu um texto seu na vida. H. L. Menezes não se furtou: correu para comprar seu exemplar. Geraldo Trentini, incensado autor que despreza até mesmo incensório indiano, nos últimos livros atingiu a estratosfera pela linguagem concisa, pelo mínimo do mínimo, por dizer mais ao dizer menos, disse a H. L. Menezes, Seu Chain, dono de uma excelente livraria e único ser vivo com paciência suficiente para subjugar as excentricidades do nonagenário escritor. Posso dizer que sim, o autor consegue efeitos convincentes em termos de concisão e alcance da linguagem, pois sua metáfora, sempre bem empregada, serve-se de pouco espaço e consegue dar seu recado com maestria, mas, desta feita, nem o diabo em seu desvario mais infernal consegue suplantar, disse H. L. Menezes ao encerrar seu comentário sobre o livro no caderno cultural do Diário do Vale. Indagado por e-mail, se houve problemas com a impressão, o editor de Trentini respondeu: ele chegou aqui para entregar os originais em carne e osso – não nessa ordem, é claro – e ficamos embasbacados: em mais de quarenta anos que o publicamos, nunca fez isso. Sentou, bebeu água e disse: este é o último livro que publico, o título é Nas Entrelinhas. Perguntei, continuou o editor, sobre o conteúdo e ele respondeu com aridez de seis desertos: meus verdadeiros leitores entenderão cada linha. O resto é o que você já sabe Menezes: o título e nome do autor na capa, a advertência e as 163 páginas em branco. E encerrou enfático: atte.: seu amigo editor.

Grouchesco
Enviado por Grouchesco em 03/10/2019
Reeditado em 03/10/2019
Código do texto: T6760291
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