Tatá na Jaguaribe 37
Ajudará o blá, blá, blá? Argumentações medianas, sugestões trazidas até aqui como em bula de remédio, para o ser arrancar-se dele na transmutação de um novo, apontando para aqui e ali as supostas soluções para a paz interior no homem? Como estas feitas?
Não! O homem pacificado por si mesmo pelo caminho do coração, torna-se apto a transitar por qualquer religião estabelecida. Uma vez Juiz em causa própria, usa do manejo da razão, e da âncora do arrependimento, para sempre, cada vez mais, perdoar o outro, perdoar-se, se colocar no ponto zero do coração no silêncio e na espera, sempre que for necessário para o amaciamento da alma, no aguardo da providência Divina, para que esta faça os devidos ajustamentos do pensar .
Vai dizer que Sr. Benito não estava certo em seu convencimento sobre as questões da vida e da morte, ousaria Tatá querer retirar dele os valores morais, éticos e religiosos que lhe dava fundamento para ser? Seria o mesmo que ele exigir dela tal iniciativa.
Benito, nos últimos meses de vida, diferente dos momentos anteriores, quando via Tatá lendo algum livro, ou presenciava-a dar palpites em questões contraditórias, que iam em descompasso com o que acreditava, não retaliava mais, ouvia-a silenciosamente. Quando não, pedia para a neta colocar música clássica para ele ouvir.
Mas como mereceria seu Benito viver a paz! Depois de tanto. Levou seu ideal na profissão de fé que acreditava até o final, como um guerreiro num combate, subserviente aos desígnios Divinos no murchamento do corpo, que mesmo recebendo o “não” da Fonte suprema para ficar, não rebelou, muito menos blasfemou contra o Espírito Santo, o terceiro da Trindade.
Se ouve algum excesso que cometeu, que derramou, sobejando a sua personalidade, foi o excessivo zelo pelo que fazia para servir a Grande Obra ao seu modo.
No sábado último de vida, totalmente inconsciente, percebia poucos estímulos em Benito. Coçava a ponta do nariz, como que aliviando uma coceirinha, tocando aquela metade do dedo indicador da mão direita, havia perdido a outra parte quando reparava o defeito da roda de um veículo na oficina onde era dono mais de duas décadas.
Resolveram contratar uma cuidadora para a noite, o desgaste emocional na família, compartilhando o sofrimento, tinha chegado ao limite. A cuidadora chegaria às nove horas da noite, Andreata ficaria até quase meia noite.
Quando Tatá havia terminado de tomar banho, ouve tocar o celular, era Anunciata. Em prantos dizia que o avô havia sido ungido pelo conservo que administrava o corpo ministerial da regional da qual o avô exercia a função religiosa.
Dizia a prima que o quarto foi tomado de uma vibração superior de paz e conforto, quando o conservo passou o dedo com óleo na testa do Sr. Benito, dizendo as palavras sacras, consumando a unção.
Disse a prima ao telefone, que aquele que realizou a unção, chegou apressadamente com o vidrinho contendo o óleo, dizia que tinha sido tocado no coração para que a solenidade fosse realizada naquele dia, estava a quilômetros de distância.
Tatá no coração sentia que o protocolo que ansiava para solucionar o sofrimento do avô havia sido cumprido. A unção.