Tatá na Jaguaribe 33
Dos olhos não saíam mais lágrimas. Tatá estava realizando o inventário moral em relação ao relacionamento de parentesco com o avô.
O que fora de verdade? De puro? De coração para coração? De criança, a máquina Kodak comprada por ele; tirava fotos das netas nas horas que menos esperavam, as idas às cocheiras da pequena cidade que morava, às fazendas e aos sítios para colherem as frutas, e o milho que ganhavam dos fazendeiros e sitiantes. A subida ao morro turístico da cidade, quando chegava no pico, Tatá sentia o vento denso no seu rosto, ficava toda empolgada vendo o avô imponente olhando para o nada ao lado das netas.
A sua eloquência quando em púlpito, fugaz no ímpeto para o convencimento, seus trejeitos no conduzir um diálogo, a coceirinha no ato da cabeça quando em irritação.
Seu olhar e voz tremendas num sermão, seu estado explosivo que aparecia como trovão num acontecimento sem solução, que muitas vezes lhe rendeu adquirir inimigos. A voz chorosa provinda do emocional ao descrever as passagens bíblicas. As afirmações fixadas no entendimento quanto ao céu e inferno, que Tatá nunca conseguiu alcançar compreensão na sua ótica, seu calar num debate que não o agradava. Suas saídas cada vez mais pontuais, que o mantinha próximo ao ministério que servia, e longe da família.
A capacidade do Benito para apaziguar mentes atribuladas pelas aflições da vida, ora se portando como pai, líder religioso, amigo, conselheiro das pessoas que o procurava. Seu ato permanente de sempre pedir perdão ao ofendido, por um ato que havia externado. Foi um provocador. No subterrâneo de sua alma ao certo podia existia um afã de almejar o novo.
Adorava ir ao restaurante com o avô quando criança, aprendeu com ele comer de garfo e faca, dar laço nos sapatos, andar de bicicleta, dirigir veículo na mocidade, ouvir música clássica, ler jornal, conhecer a história de Jesus Cristo que a Tradição conta.
Saboreava o chocolate Toblerone com gotas de doce de leite que levava para as netas quando ia visitá-las, e a boneca de pano que Tatá ganhou do avô de uma de muitas viagens distante que fez em missão.
Estas lembranças que foram ficando como que definidas, vivas, diziam muito mais que aquilo que representavam, falavam do Ser do avô Benito, verdades que palavras não alcançavam, era a Alma dele comunicando com a de Tatá no processo de despedida.
Quando Tatá tinha seus seis, sete anos, seu avô adorava mostrar as tranças da neta para os amigos que iam visita-los, quando todos estavam em família, achava-os pesados, Tatá se esbaldava de feliz.
Depois de tanto, dos dias passados, de serem cada um suas individualidade, o que ficou em comum? O que ficou? O amor, o amor incondicional que foi apontando no coração de Tatá pelo avô, não queria saber o que ele foi, o que era, o que queria ser, quantos erros e abusos cometeu, o amava, sobretudo o amava.
A partir do segundo sonho, passou pedir a Deus pelo avô de forma compassiva, que fosse definido aquele sofrimento pela Fonte Suprema.
Benito foi atrofiando, o banho sendo dado no leito, a respiração difícil, depois, passou ficar mudo, na chegada da família, ou visitantes, quando diziam o a paz de Deus, respondia somente amém, abrindo rapidamente os olhos, e fechando, estava passando para um estado inconsciente.
Saindo na última quarta feira de vida do avô, quando em oração para despedida, junto com uma das primas, ouviram alguns clamores de pessoas que tinham acabado de chegar.
Quando terminaram a oração, perceberam que eram pessoas do ministério da Fé a qual Sr. Benito participava, Tatá imediatamente em pranto pediu que levassem ao conhecimento dos Presbíteros que dirigiam as reuniões ministeriais para que fossem ungirem o avô, para que Deus Pai definisse aquele sofrimento, dando vida e cura, ou levando aquela Alma para com Ele.
Tatá neste momento de rogo, chorou, pediu desculpa àqueles que a ouviam. Prometeram que iriam comunicar ao ministério para que fossem até ao Hospital fazerem a unção no conservo.