Tatá na Jaguaribe 27
A visita ao avô no semi intensivo estava liberada uma hora por dia. Durante a semana, todos os dias, Tatá e as netas visitavam o avô.
Os médicos acompanhavam diuturnamente o estado de saúde do paciente numa assistência além da medicamentosa, havia envolvimento afetivo, comprometimento com o doente no apoio para ele fazer a passagem. Tinha-se a impressão de que aguardavam pela providência Divina, para a cura, ou a interrupção do sofrimento com a morte.
Os médicos, residentes e chefes da equipe, envolveram-se naqueles dias, não somente com os recursos da perícia da profissão, mas com as faculdades superiores de respeito à dignidade do paciente e dos familiares.
Serviram-se de cabeceira naqueles instantes finais, para Sr. Benito e a família recostarem as almas aflitas, no aguardo do desfecho. Demonstraram que não é porque a medicina não tinham mais meio de tratá-lo, que não estaria presente com amor e solidariedade. Foram o hiato, ponte para que Sr. Benito fosse amaciado no processo de murchamento que antecedeu o óbito.
Dia a dia foi perdendo o apetite, a força no movimentar, dependia de apoio para sentar e levantar do leito. Não queria mais celular.
Recebia os amigos diariamente, irmão de fé, conhecidos da sociedade, passou conversar menos. Muita manifestação de carinho e fé. Foi um homem do povo. Apesar da postura muitas vezes temperamental no trato, severo no orquestrar as crenças a qual seguia e militava, tinha o dom da fala, do conectar com as almas que afinavam com sua ótica. Extremamente zeloso no ofício, conquistou um valoramento social de respeito e amor.
Muitos amigos foram visita-lo no hospital, conhecidos, parentes consanguíneo, conservos do ofício ministerial a qual pertencia, muitos da multidão de praticantes da religião a qual representava, incluindo aqueles que não o via ha muitos anos, saíram de outros estados para a visita, pessoas anônimas entravam no quarto para vê-lo.
Benito tinha um magnetismo pessoal que ficou notório no final, confirmando as virtudes que sempre irradiou do seu caráter, que sobrepôs aos defeitos.
A falta de ar aumentou, era o previsto pela equipe que o acompanhava, a insuficiência cardíaca era real , estava acontecendo. Os médicos reuniram novamente com a família, disseram que para amenizar um pouco o sofrimento do Sr. Benito, tinham à disposição os aparelhos para que ele fosse entubado.
Na reunião, a família disseram que haviam conversado com o Sr. Benito sobre a possibilidade de ser entubado. Ele havia recusado, tinha submetido aos aparelhos de respiração artificial quando foi operado do coração anos antes, havia deixado sequelas psicológicas. Inadmitiu qualquer possibilidade deste tipo de assistência respiratória. Preferiria ficar como estava.
Quanto a medicação para indução ao sono, os médicos disseram que não era a alternativa aconselhada, por os batimentos cardíacos e a pressão arterial estavam baixos. Com o calmante, poderia dificultar a ausculta do ritmo cardíaco. Talvez a morfina seria recomendável em baixa dosagem.