O TÚNEL POR ONDE PASSAM OS SUICIDAS

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Uma cantora de jazz esperava por eles... Ela não cantava para eles, mas esperava por eles com muita ansiedade. Esperava o momento em que se arrastavam, gemiam, choravam de saudade, e também de raiva... Poucos por arrependimento. / A banda, tocava lááá no fim do túnel. E os suicidas não tinham nenhuma outra opção a não seguir o caminho onde a banda estava. A cantora de jazz... era negra, de vestido estampado e decotado. Suas cochas, musculosas, faziam a pele lisa parecer uma escultura de madeira. Era impossível não encará-la. Cantava “You don’t Know Me” do mestre Caetano Veloso, de um jeito diferente, e extremamente sensual... enquanto a banda groovava num suingue baiano misturado ao som de New Orleans. / Os mortos iam em sua direção. E depois de passar por ela: Uma verdadeira ETERNIDADE de dores, torturas e provações os estava aguardando. / Podiam-se escutar os gritos entre uma canção e outra. No momento em que a diva parava de cantar pra tomar um gole de uísque. Uma voz lá de baixo, zombava os ouvidos dos mortos com a frase cantarolada:“Sua dor aqui, JAMAIS passará!”. Então a diva voltava ao seu posto, cantando, dançando e se contorcendo de alegria. Ela esperava por eles, sorrindo lindamente diante de suas agonias. “Sua dor aqui, jamais passará!”, A diva repetia, de maneira mais doce e sussurrava, nos ouvidos de cada um dos suicidas... Pouco antes de descerem pro inferno. Era o último e breve consolo, ao som de Doris Day, Billie Holiday, Natalie Cole e também uns sambas de Maysa e outras Bossas da Elis Regina.

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