Tatá na Jaguaribe 24
Recebeu ligação de Anunciata, o avô havia sido removido para outro quarto mais adequado às suas necessidades, era no semi intensivo. Tatá chegou no quarto. O avô, agradecido pela mudança.
Chegaram os médicos, depois de um caloroso e afetuoso cumprimentar, iniciaram a conversa dirigida ao Sr. Benito. Sem muitas curvas, nem delongas, mantiveram o sorriso no rosto.
Levaram ao paciente a realidade, de que para a doença não havia mais tratamento. Era mais seguro que ficasse internado. Poderia garantir assistência médica numa urgência.
Sr. Benito, indignado, perguntou se não poderia ir embora, faria o tratamento em casa, estava ciente da gravidade, mas queria ir embora, não podia ao menos por os pés no chão, estava sendo uma tortura.
O geriatra não deu outra opção senão ao paciente ficar ali. Perguntaram ao Sr. Benito de qual comida mais gostava, iriam ver se era possível providenciar. Sr. Benito, mais rapidamente respondeu: “Estou com saudade de comer uma linguicinha frita, quibe, frango refogado bem temperadinho, com molho, laranja docinha.”
Prometeram que iriam providenciar. Retiraram-se
Ficou Tatá e o avô, em silêncio. Sr. Benito disse: “Não é possível que Deus está fazendo isto comigo”. Deu uma suspirada profunda, pediu o celular, que estava ao lado na cama, passou ver fotos que estavam armazenadas.
Veio a mente de Tatá a frase: ” Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, À sombra do onipotente descansará”.
Vô, entrega sua vida nas mãos de Deus!Olha, o Sr. Promete-me que irá recitar esta frase, lembra? “Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, À sombra do onipotente descansará.”
Quando terminou de dizer, sugeriu ao avô que repetisse a frase, ele olhou para a neta e repetiu baixinho, sem olhar para ela.
Após, continuou manusear o celular, agora desligado. Balbuciou: "eu quero viver, Tatá, tem muito ainda que eu quero realizar.“
Tatá pergunto espontaneamente ao avô:" Vovô, o que o Sr. me fala de tudo que viveu, os anos de vida que tem. O que tira de proveito?
Sr. Benito deu uma risada longa e baixinha. Olhou para a neta e terminou o riso estampando os dentes da frente onde eram interpostos por um pequeno espaço, que era seu charme, não sorria assim há muito tempo.
Fez um barulhinho no canto da boca, e respondeu: “ O bom de tudo foi a experiência, Tatá! que somente se adquire com a idade. A visão é outra. O ruim é que poderia ter cuidado mais dos meus rins e da pressão, bebido mais água”.