Discografias
Zinedine teve uma série de empregos degradantes desde que chegou à Jaraguá do Sul, trampar com o velho Logan foi um deles. O velho tinha um caminhão e fazia mudanças, como disse, o cara era velho, logo o serviço pesado sobrava para Zinedine e o baixote Saladino. Aquela foi a mudança da mesma senhora à qual já tinha feito carreto dois anos antes com Logan, para um ap. na Vila Nova. Agora morava com o sobrinho que cometeu suicídio ou sofreu “overdose acidental com medicamento controlado”; é triste, mas isso foi uma moda trash àquela época. Carregaram tudo em duas viagens. Depois da última, a senhora convidou os três para almoçar. Pediu 4 marmitas e sentaram na sala, em meio a caixas e caixas de mudança. Depois começaram a arrumar a mobília do jeito que ela pedia: isso aqui, aquilo ali, este lá, aquele cá. No final só ficaram as malas cheias de roupa que a diarista iria distribuir nos guarda-roupas e cômodas. Então ela pagou pelo serviço e distribuiu o espólio do sobrinho morto. Deu uma tevê antigona a Saladino, calças, sapatos e tênis velhos a Logan e a Zinedine, como disse estar ciente de que o presente era a cara dele, uma caixa cheia de fitas cassete: dos anos 60 ao heavy/trash/death metal, progressivo, indie atual, o caralho todo. Como era antes e hoje voltou a ser moda em filmes, livros, música, em tudo, alguém some e deixa uma carta, um bilhetinho, deixa um vídeo, uma fita cassete ou VHS e expõe seus motivos para este ou aquele ato. Zinedine comprou um walkman 94 no antiquário noventista do Giban, pagou uma nota para escutar as discografias e não fazer desfeita à velhinha, mas está na centésima oitava fita (The Bleeding discografia do Cannibal Corpse) e só escuta a mesma coisa: não tive coragem, não tive coragem, não tive coragem, não tive coragem, não tive coragem, não tive coragem, não tive coragem, não tive coragem, não tive coragem, não tive coragem.