Coqueiros

Conhecia coqueiros. Me chamavam pelo nome, e eu os chamava pelos nomes que eram convenientes para mim. Aprendi sobre suas qualidades, seus sonhos, seus anseios, seus desejos. Eles aprenderam sobre meus medos, minhas inseguranças, meus pesadelos e meus traumas. Tratavam-me tal qual um igual, da mesma forma que os tratava. Davam-me seus frutos. Abria-os e bebia de sua água. Fluido incolor, puro e doce. Povoava meus vasos, semeava o amor e limpava a seiva que mora sob minha casca.

O rio que carregava nossos corpos bifurcou-se, separando nossas raízes. Estrada aquosa que alimenta minha sede pela gloriosa água dos coqueiros. Quanto mais eu chamava pelos seus nomes, mais eles se fixavam como pregos em minha mente. Memórias repetidas no ritmo do caminhar infinito. Cores faciais se amarravam a minha visão, insetos deitados na teia da aranha. Vozes familiares que se sobrepunham às minhas exteriores e interiores.

Pinturas registradas sobre tela. Imutáveis, impermeáveis e invioláveis.

Os rios separados, agora em anastomose. Raízes desprovidas de qualquer odor estranho. Chamavam-me pelo mesmo nome ao qual me acostumei. Chamei-as pelos mesmo convenientes nomes, aos quais eles prontamente responderam, manifestando familiaridade. Vozes em sintonia com aquelas com a minha cabeça. Rostos simpáticos e congruentes com as cores pintadas em minha caixa craniana. Recordações acorrentadas aos seus dizeres amigáveis.

O saborear de suas águas, eles permitiram. Maos que seguravam o fruto, reaprenderam a segura-lo. Reaprenderam a abri-lo. Pureza que despertava o sorriso. Lábios que beijavam a borda aberta. Língua que abraçava o líquido celestial…

...e o rejeitava, como se fosse o vinho de Hades. Paladar esfaqueado violentamente pelo sabor desprovido de qualquer doçura e imaculado com toda a toxicidade que nem mesmo o mais longevo dos homens poderia descrever. Encarei o líquido regurgitado com a mais incrível das crueldades. Em seguida, encarei os coqueiros com a mais cruel das incredulidades.

Por fim, o sussurro proferido agressivamente por mim questionou: "Minha saudade os queria, ou queria apenas o líquido que eu antes amava?"

Caio Lebal Peixoto (Poeta da Areia)
Enviado por Caio Lebal Peixoto (Poeta da Areia) em 04/09/2019
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