Desejos

Toda segunda-feira, ao entrarem no carro depois do final de semana em sua casa, ela dizia a ele: eu não te amo mais, não sinto mais nada por você, o menor tesão, na verdade, todo dia desejo nunca mais ter que repetir essas palavras, sinto pena de você, pena, pena, não sei o que faria se vivesse uma vida como a sua. Ele, como sempre, continuava calado e lançava seu olhar derrotado à paisagem esverdeada e montanhosa daquele bairro rural. E, na segunda-feira da semana seguinte, o roteiro se repetiria. Então na sexta-feira ele não apareceu, sumiu e desligou o celular. Na segunda-feira, no final da tarde ao ligar o maldito aparelho, estouraram 1600 mensagens (só dela), mas a única que leu foi a do (ex)cunhado: ela teve uma crise de pânico e stress ontem, está internada no hospital São José, está sedada, mas está bem, o horário de visitas é das 14h às 18h, você pode dar um pulinho aqui? Ao terminar de ler a mensagem, faltavam 12min. para 18h e o ônibus acabava de sair, com atraso, da rodoviária de Curitiba.

Grouchesco
Enviado por Grouchesco em 03/09/2019
Reeditado em 01/10/2019
Código do texto: T6736302
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