Parvovirose
O quintal da pensão de Dona Samúdio dava acesso ao estacionamento do Arroz Urbano. Ao voltar das entregas pelos cafundós do país os caminhões deixavam as sobras, o arroz não entregue e quase podre, desovado perto do muro para que a carroceira fosse bem lavada para a próxima carga, e aquele mal cheiro aterrador invadia a casa. Certa vez escutei Dona Samúdio falar com um dos motoristas: pode jogar as sacas aqui no quintal, bem aqui perto do pé de acerola. Senhora, disse o motorista, esse arroz está podre, só de olhar já dá engulhos. Não se preocupe, já pego de vocês faz tempo, disse Dona Samúdio, é para dar de comer a Kika, minha cachorra. Eu estava no banheiro, sentado no trono, com o basculante aberto para aliviar a fedentina. Pelo menos seis cachorros esperavam na fila do lado de fora.