As cores do inverno (conto psicológico)

O mais frio dos invernos, com o clima gélido e meu café esfriando, apanho o meu casaco do cabide e coloco-me a andar. Na mesma monotonia de sempre, sigo pela mesma calçada, vejo as mesmas coisas, e ando pelo mesmo caminho; dentre as coisas que menos gosto, a pior é cruzar a praça todos os dias e, além disso, sempre encontro uma garotinha que me atormenta por parecer com o grande amor da minha adolescência, talvez por isso eu evite suas palavras de bom-dia, onde as mesmas ecoam em minha cabeça.

“Como pode haver um bom dia neste tenebroso inverno?”

Ignorando-a e continuando no melancólico trajeto, avisto o meu destino, o assassino de céus límpidos, que mais parecia uma locomotiva imóvel emitindo dióxido de carbono. Chegando lá, além de tudo, percebo que andam preferindo uma pilha de engrenagens ao invés da carne humana.

Próximo ao fim da minha jornada, recebo uma convocação do meu superior, e descubro que as engrenagens conseguiram tomar o nosso rumo. Mas continuo na mesma rotina, todavia, por pouco tempo, pois ainda há direitos trabalhistas. Neste mês que se segue a rotina do tic-tac para o fim destes dias, ando sentindo-me como Charles Chaplin, entretanto, sem a sua alegria.

O mais frio dos invernos está chegando ao fim, mas acredito que não acabará para mim. O meu cotidiano continua mais monótono que nunca, e de certo modo terminou de perder as suas cores.

Passou-se o obscuro tempo de espera para o término do contrato. Diante disso, sigo-me pelo mesmo trajeto uma última vez, mas com uma grande diferença. Passando pelo interior da praça, aquela menina, oh! Inocência em pessoa. Desejou-me um bom-dia, e suas palavras penetraram a minha cabeça, mudando positivamente o meu mundo, transformando os tons de inverno nos de primavera que chegara.

Neste momento, notei que minha vida até então era como as obras de Edvard Munch, e agora percebo que ela se tornou o mundo nos olhos de Claude Monet.