Espelho do Mal
No dia de seu aniversário Hipólita Scwartz recebera pelo correio um presente, sem remetente. Estranhou o fato, mas como estava muito feliz, pois completaria dezoito anos de idade, havia ganhado um carro dos seus sonhos do pai e um lindo colar de pérolas de sua mãe.
Deixou o pacote de lado e foi arrumar-se para a grande festa que aconteceria a noite no clube Butterfly, em Oxford.
A festa aconteceu como ela sonhara. Todos os seus amigos reunidos. Ganhou tantos presentes. Sua alegria era imensa.
A sua irmã Delfina também estava muito feliz.
No dia seguinte ao acordar deparou-se com o pacote em seu quarto, desceu para tomar o seu café da manhã. Estava um domingo chuvoso.
Após a degustação do seu café, dirigiu-se para o seu banho matinal, e foi para o seu quarto.
Olhou novamente para o pacote sem intenção ou curiosidade de abri-lo.
Deitou-se em sua cama e então começou a sonhar e em seu sonho aparecia um rapaz misterioso que ela havia conhecido no dia anterior em sua festa.
Ele era alto, mais ou menos um metro e oitenta centímetros, tinha lindos olhos azuis, branco como a neve, lábios bem vermelhos e carnudos. Cabelos loiros.
Notava-se que era um homem muito culto e inteligente. Embora tivesse um cheirinho de mistério, mas ela gostava de pessoas sinistras.
Acordou e decidiu abrir o pacote. Tirou o papel que o encobria e deparou-se com um belo espelho.
Retirou o antigo e colocou o novo. Todos os dias antes de sair para a sua faculdade olhava para o espelho.
Numa bela noite, quando não tinha nada para fazer, ficou olhando a sua imagem e atrás dela pelo espelho apareceu o homem misterioso. E lhe disse:
- Você é uma bela moça.
Ela surpresa respondeu:
- Obrigada!
Qual é o seu nome?
- Charles Racine. E o seu?
- Hipólita Scwartz. Prazer em conhecê-lo.
Ele respondeu:
- O prazer é todo meu.
E assim passaram-se os dias e os dois tornaram-se grandes amigos. Ela falava com ele pelo pelo espelho e ele respondia.
Quando chegou o seu aniversário. Ele lhe deu pelo espelho um belo buquê de flores amarelas.
Ela ficou muito feliz e ao cheirá-la caiu dura no chão.
E a imagem do espelho despareceu para sempre.
Seus familiares ficaram arrasados e até hoje ninguém sabe a causa de sua morte.
O médico atestou como morte súbita.
Porém no plano espiritual dizem que o tal rapaz é um devorador de almas.
E em seu epitáfio estava escrito:
REMORSO PÓSTUMO
(Charles Baudelaire)
Quando fores dormir, ó bela tenebrosa,
Em teu negro e marmóreo mausoléu, e não
Tiveres por alcova e refúgio senão
Uma cova deserta e uma tumba chuvosa;
Quando a pedra, a oprimir tua carne medrosa
E teus flancos sensuais de lânguida exaustão,
Impedir de querer e arfar teu coração,
E teus pés de correr por trilha aventurosa,
O túmulo, no qual em sonho me abandono
- Porque o túmulo sempre há de entender o poeta -,
nessas noites sem fim em que nos foge o sono,
Dir-te-á: "De que valeu, cortesã indiscreta,
Ao pé dos mortos ignorar o seu lamento?"
- E o verme te roerá como um remorso lento.