A MACABRA DIFERENÇA ENTRE ORAÇÃO COORDENADA E SUBORDINADA
A MACABRA DIFERENÇA ENTRE ORAÇÃO COORDENADA E SUBORDINADA
A molecada estava com muita dificuldade em entender a diferença entre período composto por coordenação e período composto por subordinação.
Eles até entenderam que frase era a porção de palavras delimitadas por maiúsculas até o ponto final ou outro tipo de pontuação (exclamação, interrogação e, até mesmo, as reticências). Também compreenderam que frase nominal era a frase que não tinha verbo, como as expressões que “Que bacana!” ou “Que lindo isso!”. Depois, ficou claro para eles que oração era o nome que se dava a toda a frase que possuía verbo ou locução verbal, como “A menina desenhou um lindo pônei” ou “O aluno está fazendo caca na prova” e por aí vai.
Estava indo tudo bem! Eu explicava conceito, colocava exemplo na lousa, fazia esquema e eles estavam entendo tudo. O caldo engrossou mesmo quando chegou a vez de esclarecer a diferença entre oração coordenada e subordinada dentro do período composto.
Foi aí que tive uma ideia genial! Como era época de Halloween e a galera se amarrava em história de terror, resolvi contextualizar a explicação desses conceitos utilizando como pano de fundo o enredo e o clima das histórias de terror. E então, encarando os alunos, com olhar sinistro, eu disse:
- Moçada, preciso de um voluntário!
Vários braços se levantaram e, claro, escolhi o aluno mais palhaço e extrovertido da turma. Afinal, precisava dosar o teor macabro do exemplo com um toque de humor. Em seguida, pedi para o aluno se sentar em uma cadeira à frente da turma. O aluno cumpriu o pedido, posicionando-se no lugar combinado pronto para o segundo passo da dinâmica.
- Pedro, por favor, tire o tênis.
- Hã! O quê? – perguntou o aluno curioso.
- Preciso que você tire o tênis.
- Meu tênis?
- Sim, seu tênis.
- Vixe! Já vou avisando que tem chulé, hem! – a classe cai na gargalhada.
- Tudo bem – respondi. – Em nome da ciência e do conhecimento, a gente faz um sacrifício. – mais gargalhada da sala.
Após o aluno tirar e me entregar o tênis, peguei o par de calçado e coloquei ao lado do garoto, mas não tão próximo a ele, e depois perguntei.
- Classe, o que estamos vendo aqui?
- Um garoto de meia e um par de tênis com um baita chulé danado, um ao lado do outro? – Arriscou um aluno.
- Isso mesmo! – completei. – De um lado, temos o Pedro e de outro, o seu par de tênis. Correto?
- Correto! - disseram os alunos em uníssono.
- Pois bem – concordei. – O Pedro consegue sobreviver sem o seu par de tênis?
- Sim – disseram os alunos.
- E o tênis? Se estiver no pé de Pedro ou se estiver longe do pé de Pedro, deixará de ser um calçado?
- Estando no pé ou longe do pé de Pedro, o tênis ainda será um tênis! Certo?
- Professor! – um aluno levantou a mão.
- Se for banheiro, a resposta é “não”!
- Não. Não é banheiro não, fessor.
- Então, prossiga, meu jovem! – disse entusiasmado, esfregando as mãos de contentamento.
- O que isso tem a ver com as orações coordenadas? – perguntou o aluno confuso.
- Que bom que você perguntou, aluno curioso. – e dando uma tossidinha para limpar a garganta, eu prossegui. – As orações coordenadas são como o Pedro e seu par de tênis.
- Como assim? – perguntou um aluno confuso.
- Veja: as orações coordenadas podem trabalhar juntas em colaboração ou podem existir separadamente, pois, são independentes, ou seja, elas conseguem exprimir sentido e continuam vivas mesmo se estiverem isoladas. Resumindo: as orações são como o Pedro que pode continuar a sua vida com ou sem tênis e o tênis que, independente de estar ou não estar no pé dele, não deixará de ser tênis.
- Como assim?
- Por exemplo, se eu disser a frase “Vendi minha bicicleta e comprei um skate” – escrevi a frase na lousa. – Elas, juntas, apresentam duas ações: vender e comprar, não é?
Os alunos concordaram com a cabeça.
- Agora, se eu separar essas frases – dito isso, passei um traço vertical bem em cima da conjunção “e”, dividindo a frase em duas orações. - Essas, mesmo separadas, ainda terão um sentido completo, pois são independentes. Sendo assim, se eu disser a oração “Vendi minha bicicleta”, isolada da oração “Comprei um skate”, vocês ainda serão capazes de entender as orações, correto?
- Correto, prof! – disse um aluno fazendo graça.
- Isso ocorre porque elas são independentes. Podem trabalhar juntas ou separadas que ainda terão sentido.
- Ah, entendi – disse uma aluna. - As orações coordenadas podem ficar juntas ou separadas, assim como o Pedro que pode ficar com ou sem tênis? – perguntou um outro aluno.
- Isso mesmo! Que bom que entendeu!
- Mas, professor, e as orações subordinadas?
- Agora, vem a parte macabra! – disse o professor, dando um sorriso maquiavélico.
- Como assim?
- Eu explico. Vamos supor agora que eu seja um psicopata, do tipo Jason ou Hannibal Lecter ou qualquer outro assassino dessas histórias de terror que vocês gostam.
- Ok! – disseram os alunos vibrando de empolgação.
- Vamos supor que eu arranque o coração do Pedro e coloque de um lado o coração e do outro lado o corpo de Pedro, um separado do outro.
- Ai, Credo! Fessor! – gritou uma menina imaginando a cena.
Alguns alunos fizeram expressão de nojo, outros riam empolgados.
- E então – prossegui. - Se eu separasse o coração do corpo, o coração continuaria batendo?
- Lógico que não! – disse a galera.
- E o corpo? Seria capaz de continuar vivendo sem o coração?
- Não!
- E por que isso ocorre? – perguntou o professor.
- O coração depende do corpo! Um não vive sem o outro!
- Muito bem! Um não vive sem o outro! – repeti amistosamente a frase. – Assim também ocorre com as orações subordinadas. Querem ver um exemplo? Tenta separar a frase “É importante que você estude”? – feito isso, escrevi de um lado a oração “É importante” e do outro lado da lousa a oração “que você estude”. – O que aconteceu quando eu separei as orações?
- Elas ficaram sem sentido. Parece que fica faltando algo – constataram os alunos.
- Exatamente! – disse resoluto. – O coração precisa do corpo para bater e o corpo precisa do coração para viver. Eles dependem um do outro. O mesmo ocorre com as orações subordinadas: uma depende da outra. O sentido de uma se completa com a outra. E, se tentarmos separá-las, elas ficam sem pé nem cabeça. No caso, sem coração também!
- E aí moçada? Entenderam a diferença?
Os alunos balançaram a cabeça afirmativamente.
- Hoje, na casa de vocês, revisem os exercícios sobre coordenação e subordinação. Ah, e a propósito, por favor, não tentem reproduzir o exemplo do Pedro em casa, ok? – disse fazendo graça.
Os alunos riam sem parar. Nos rostos deles, a alegria de terem entendido um conceito. O olhar de satisfação de um aluno que aprendeu uma lição que você ensinou é, sem dúvida, uma das mais belas paisagens que todo professor adora contemplar.
Após alguns minutos de feliz devaneio, mudando de tom, perguntei aos alunos sobre o próximo conteúdo gramatical a ser estudado no livro didático.
- Professor, aqui no livro está escrito: termos essenciais e termos assessórios da oração – responderam os alunos.
- Termos essenciais da oração?
- Isso, fessor! – confirmaram os estudantes.
- Hum, vejamos... Vocês já ouviram falar de Jack, o estripador?
E lá vamos nós outra vez!
22/08/2019
Autor: Profirmeza