ESPERTA, INGÊNUA... OU DISTRAÍDA?
1---Aconteceu há décadas e há poucos meses novamente em outra escola... Sou desconfiado e não creio nem em bruxas nem em coincidências "muito coincidentes"......... ----- No passado: Alguém disse que o MENINO mais velho (sempre o primogênito) era muito esperto e seria interessante que o matriculassem numa boa escola desde pequeno. O segundo filho era pouco mais que um bebezinho. O casal ESTRANGEIRO brigava muito - ELA, demasiado rude, quase analfabeta, o pouco que lia não sabia interpretar, muito mal assinava com letra quase ilegível, palavrão solto; ELE, taxista, sabia lidar com pessoas mais finas e absorvia cultura pelas conversas e lendo um bom jornal - estacionava na porta de um teatro, passageiros de melhor nível, e ultimamente aprendera fragmentos de SHAKESPEARE; meu leitor imagine a diferença entre marido apaixonado e mulher bonita, porém mal educada, quase vulgar. ----- A tal vizinha indicou o Colégio de Aplicação (prática de ensino para as normalistas) do Instituto de Educação. Moravam relativamente perto, -dispensável condução ou carro do pai. A mãe levou a papelada e inscreveu a criança, ficha n.42, concorridíssima vaga no pré-escolar (JI, jardim de infância) - ao final do prazo de inscrição, contados 212 concorrentes - meninos/meninas - para 40 vagas: "Conseguir, só milagre!" - falou ao marido. ----- Ia passando a pé ao acaso, centro da cidade, viu na praça um prédio com aspecto antigo, 42 na placa azul na parede ("Coincidência ou aviso do céu?"), muitos operários na obra de conserto, aspecto de IGREJA católica. "Tem cara de igreja é igreja!" Entrou, ninguém a impediu, muita poeirada no ar. Bancos à esquerda e à direita, escolheu um lado qualquer, ajoelhou-se, sinal de humildade, e fez o sinal da cruz. Pensamento: "Igreja de que santo?" Não identificou, não havia imagem alguma, talvez retiradas todas por causa da obra... Invocou Santo Antônio de Lisboa (não o aceitava italianado, de Pádua), rezou, pediu ajuda para conseguir a tal vaga, os trabalhadores sorriram entre ELES por vê-la ajoelhada, mas não intervieram, absolutamente... não atrapalhando a devota. Havia perto do "altar-mor" (?) uma mesinha com uma bandeja, maçãs pequenas cobertas com mel, pano brando em cima, desenho de estrela azul com seis pontas, deram-lhe uma fruta fresca, a moça ainda no local dos bancos. Agradeceu, levantou-se, outro sinal da cruz, foi embora. ----- Marcado o dia do sorteio das vagas, compareceu à Escola Normal (até hoje as pessoas falam este nome antigo). Um tablado alto no meio de pátio cimentado voltado para a rua, microfone, algumas possivelmente PROFESSORAS. De casa, ELA levou a ficha de inscrição e uma medalhinha de Santo Antônio, padroeiro de Lisboa - dar sorte e afastar olho-grande e bruxarias. Uma das professoras, exatamente a que atendera no dia da inscrição e tremera de leve ao copiar da certidão o nome do menino /brasileirinho/, parecia a 'chefe', pois distribuiu material de trabalho para duas outras, pequenas cartolinas brancas e canetas, e explicou a todos que eram fichas da matrícula definitiva do alunado mirim até o final do curso primário. Sacola vermelha com os nomes dos candidatos, respiração geral em suspense, lá viria o primeiro sorteado. Novembro e por uma feliz coincidência (e EU, narrador, teimo que isso não existe...) aniversário do tal menino. Pois não é que saiu justamente o nome dele? A rosada portuguesa empalideceu, mãos geladas de repente, beijou a medalhinha na corrente... "De ouro português legítimo!!!" - ou de Vila Rica, Minas Gerais, século XVIII? Nisto surgiu de dentro da escola uma mulher toda apavorada e chamou a professora sorteadeira paracatender telefonema urgente (antes da "era celular fácil") na secretaria. Babá, em casa, devia ser algo muito sério. A professora ficou desnorteada, ainda esticou o saco de pano para uma, para outra, não pegaram, ELA encarregada do sorteio, momentaneamente saiu do ambiente com os nomes. Alguns minutos, voltou aliviada - explicou ter um filho da "mesma idade do filho de vocês"... Engolia de mau jeito uma bala dura, mas já 'desengolira'. "Por acaso (?), com o mesmo nome do menino que eu acabara de premiar!" (Premiar? Errou o verbo? Premiar ou sortear?) Alívio geral, continuou o sorteio... ----- Sorteio coisa nenhuma! Ninguém percebeu, mas a sacola de nomes estava muito 'magra' na primeira vez, apenas 50 papeizinhos com o nome do menino que de qualquer maneira seria sorteado (o periquitinho verde é condicionado para pegar com o bico papéis da "sorte", de acordo com as cores e tamanhos, para homens, mulheres ou crianças - consulente recebe "certinha" a mensagem do folclórico homem do realejo). A loura saiu do ambiente (boato idiota que loura é burra!) voltou, sacola agora mais gordinha, com 212 nomes de concorrentes, digo, 211, iludidas as mães... ----- Bom, o franciscano ANTÔNIO dos pãezinhos bentos é casamenteiro, amigo do JOÃO da batata doce e do aipim assados em fogueira e do PEDRO que pesca e manda a chuva (não confundir com manda-chuva), nenhum meu amigo íntimo......... ----- "Na SINAGOGA (meu AMIGUINHO DAVI explica), moram em espírito o profeta ELIAS, o desbravador (onde ELE foi buscar esta palavra?) MOISÉS, ah, e o sabido rei SALOMÃO que teve um harém enorme" (juro que não ensinei isto ao moleque).
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2---Apenas como ilustração:
HQ - "TURMA DA MÔNICA", de MAURÍCIO DE SOUSA - Quadrinho 1 - Cebolinha à janela, forte chuva caindo: "Hoje o São Pedro está de mau humor!" - Quadrinho 2 - Mônica idem: "São Pedro está de mau humor!" - Quadrinho 3 - Imagem de um HOMEM grandalhão, nu, ar bonachão de gordo feliz, cantarolante, bica aberta na parede, o santo barbudo e careca dentro de uma banheirona logicamente transbordando, esfregando as costas com uma grande escova de corpo: "lá, lá, lá, lá, lá"... - isto sobre uma nuvem, como um tapete, de onde cai terrível chuvarada, muita água sobre a Terra.
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LEIAM meus trabalhos "Professor improvisado" e "Sorteio falso".
NOTA DO AUTOR:
BRUXA - "Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay".
O antigo Instituto de Educação, do Rio de Janeiro, foi vitalizado em alguns seriados, mito da 'mocinha normalista', recatada (nem sempre!), arzinho doce e gentil, saia de pregas, blusa de manga comprida...
F I M