QUEBRANTE EXISTE?

Desde criança que eu guardo na memória alguns episódios adquiridos através de relatos dados por pessoas que frequentavam a nossa casa e que através de suas prosas passavam suas sabedorias; seus conhecimentos, para as pessoas que lhes ouviam.

Em alguns momentos eu me achei presente nos tais bate-papos e deles memorizei algumas falas que agora me satisfaço em relatar e dentre as quais destaco a citação sobre uma preocupada mãe que se via amargamente entristecida com a indisposição, fraqueza e frequentes bocejos de seu bebê, e que, na oportunidade alguém lhe dissera que aqueles sintomas se tratava do popular olho-gordo ou mau-olhado, ambos ainda mais conhecidos como quebrante, o qual se originava de uma transmissão de um olhar de alguém mal-intencionado, ou não intencionado. Daí o desespero daquela mãe que se via encurralada, sem ao menos saber de qual pessoa partiu o dito olhar. Somente depois de procurar por orientação de pessoas mais velhas é que lhe indicaram o nome de uma famosa benzedeira que costumava retirar, com uma poderosa reza, tal enfermidade das criancinhas Tão logo a benzedeira foi chamada, ela se dirigiu à casa do bebê acometido com o quebrante, e assim ocorreu o tratamento:

Com um galho de arruda em suas mãos a mulher fazia vários sinais da cruz na direção da criança, e, rosnando declamava:

- “Nossa Senhora dos Montes com seu bento filho nos braços pensando que ele morria de quebrante e olhado; com dois te botaram, com três eu tiro com o poder de Deus e da virgem Maria. Ofereço um Pai Nosso a Nossa Senhora dos Montes e ao Sagrado Coração de Jesus”.

Dito isso a mulher murmurou a reza e deu por concluída a sua tarefa de tirar o quebrante. Depois de receber um agrado ela foi embora.

Dias depois a criança morreu.

O boato daquela morte correu os quatro cantos do lugar e a famosa benzedeira perdeu toda credibilidade de ter poderes para tirar uma enfermidade de alguém.

Dai em diante as pessoas do lugar se perguntavam: será que quebrante existe?

José Pedreira da Cruz
Enviado por José Pedreira da Cruz em 06/08/2019
Reeditado em 23/11/2020
Código do texto: T6714014
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